Capítulo II - Festa de reabertura

167 52 300
                                    

Tenho a estranha sensação de acolhimento assim que me encontro no interior da república. O algor que percorre a casa provoca arrepios em meus braços revestidos pelo fino tecido da blusa de croché que cobre meu tronco e estranhamente eu gosto de estar aqui. As imagens que encontrei na Internet mostravam algo semelhante, no entanto, estar aqui e poder apreciar de perto torna tudo diferente.

É impossível não notar a TV de plasma suspensa  na parede adjacente à porta. A esquerda da aconchegante sala de estar, foi erguido um balcão que a separa da cozinha de estilo americana. — Aonde encontra-se uma cesta com frutas em uma das extremidades e na outra, um vaso amarelo adornado com delicadas flores em tinta preta. — Branco e violeta são as cores que decoram as paredes da casa; os sofás castanhos em que passeio os meus dedos, a prateleira de livros com diversas cores no interior de suas divisórias, o tapete bege e até a mesa de centro feita em pura madeira, combinam de uma forma impressionante.

Acho que gosto da dedicação deles para connosco.

Acho estranho que eu não veja ninguém pela casa, nem mesmo o responsável pela república se encontra aqui para receber os estudantes. Talvez alguns deles já tenham entrado em seus quartos, é o único motivo que encontro para justificar este silêncio confortável.

Subo cada degrau das escadas de madeira a medida que aprecio os detalhe da casa. Sinto o frio da madeira entrar em contacto com a palma da minha mão quando me apoio ao corrimão. Li em algum lugar que cada cômodo dessas casas é identificado por número, e se estou certa, o cômodo número seis é o meu.

Puxar uma mala nunca me foi tão difícil e cansativo quanto hoje. Assim que atravesso o corredor, chego finalmente a penúltima porta. A minha nova porta. A qual compartilharei com uma outra garota que sequer conheço. Não faço ideia se ela se encontra aqui, no entanto, se ela estiver, talvez está me ignorando pois até agora não recebi nenhuma resposta desde que comecei a bater.

Espero que ela não esteja aí dentro. Prefiro isso à simples ignorância.

Bato outra vez, um pouco frustrada, mas ao invés da minha porta ser aberta, é a porta a minha trás que se escaranca. Me viro instintivamente e encaro a garota de cabelos coloridos até aos ombros e um piercing no canto do lábio inferior.

Isso me lembra o quanto eu desejo ter mais um em cada uma de minhas orelhas. Coloquei os três em minha orelha esquerda há dois anos atrás, sem a permissão de minha mãe, que resultou na retenção do meu celular por um mês e café da manhã sem minha geleia favorita. Um castigo e tanto, que segundo minha mãe foi super necessário.

A convenci de que sim. Mas tarda nada ela desejará me colocar de castigo de novo, pois aquela dor eu tenho prazer em sentir.

Minha atenção volta a moça que acena de forma descontraída, o canto de seus olhos realçados pelo delineado se puxando conforme ela sorri aberto para mim. Aceno de volta, abrindo outro sorriso simples para ela.

— Caloura? — ela pergunta serenamente, ajeitando o cropped que lhe cobre metade da barriga.

— Sou sim — afirmo a sua pergunta. — Estamos no mesmo barco? — indago curiosa, ela assente. — Bem, sou a Milena Mayer.

— Dircy Lonnor. — Ela estende a mão para mim.

— Curti a loucura nos seus cabelos, Dircy. — comento juntando nossas mãos em um aperto. Dircy ri como se já estivesse habituada a ouvir tal tipo de comentário.

— São os benefícios de se poder tomar suas próprias decisões. Minha mãe era toda contra isso. — revela em tom divertido e eu rio um pouco. Ao menos não sou a única que tem a mãe anti-rebeldia. — Foi bom conhecer você, Milena. Te vejo depois.

Quando As Nossas Vozes Ecoam [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora