Milena
— Está a fim de ir ao karaoke hoje? — Hélio me pergunta recebendo o batido que acabou de pedir a Gerry.
Estou há mais ou menos três dias a estudar que nem louca, as matérias estão tão puxadas, os horários complicados e minhas noites mal dormidas não somam em nada. Pensar na possibilidade de espairecer em um lugar do gênero talvez fosse legal se eu não soubesse da quantidade de trabalhos que ainda tenho a fazer.
Se eu estivesse com a minha mãe, ela levaria os meus manuais e fecharia tudo em um quarto — se necessário — para que eu parasse um pouco e deixasse minha mente descansar.
Mas esse é exatamente o problema: não posso me dar ao luxo de parar. Não até ter tudo certo.
— Tem um karaoke aqui na cidade? — pergunto, e sei que Hélio nota a falta de ânimo em cada uma de minhas palavras quando ele assente de leve com a cabeça. Não é que eu esteja sem vontade de ir, mas hoje não estou em um de meus melhores dias. Não depois do que tive de relembrar sem querer enquanto dormia. — Eu adoraria Hélio, mas tenho um monte de tarefas para fazer.
— Milena Mayer, você devia relaxar um pouco, não acha? — ele indaga franzindo as sobrancelhas em uma falsa careta de repreensão. Mas o sorriso de canto que desponta de meus lábios logo a seguir revela o seu verdadeiro estado de espírito.
Contudo eu não digo nada.Talvez eu devesse, só que algo em mim não me permite. Não hoje.
Me ajeito na banqueta giratória aonde estou sentada. Passo para trás da orelha uma mecha solta do rabo de cavalo improvisado que fiz mais cedo, enquanto meu olhar investiga o Campus da universidade.
A mais de alguns metros de mim, para quem segue a estrada de concreto que leva as portas principais do imponente edifício, está Fredson encostado à um dos quatro pilares que sustentam o teto da entrada; ao seu lado, os amigos e a moça esbelta do outro dia na sacada do social de estudantes.Algo em mim queima quando noto pela segunda vez o nível de intimidade que ele e aquela moça têm. O batido de morango parece perder sabor a cada segundo que desce em minha garganta. Queria não ter tido tal sensação, é incomodativa. Não gosto que ele seja capaz de causar essas reações em mim. Não gosto que ninguém cause.
É patético.
— Desse jeito você vai acabar esmagando esse copo — ouço Hélio dizer, ganhando minha atenção segundos depois.
O encaro interrogativa até que sinto a umidade nos dedos da minha mão. Meu olhar desce até à bancada do trailer. Controlo a respiração com a visão do copo torcido em minha mão, transbordando o líquido vermelho aos poucos.
Pare de ser idiota Milena.
— Por quê você não vai ter com ele ao invés de descontar que quer que seja no pobre desse copo? — meu amigo indaga me passando um guardanapo de papel para que eu limpe a sujeira.
Esse trailer não me trás bons momentos.
E não estava a descontar nada no copo. Nem ao menos me dei conta disso.
— Escuta, Hélio — eu digo firme, o encarando —, não há motivos para você achar que eu quero ir ter com ele. Então se desvencilhe desse pensamento.
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Quando As Nossas Vozes Ecoam [✓]
Romance[+16] Sinopse Conhecida pelas suas excepcionais notas no fundamental tanto como no ensino médio, Milena Mayer, uma garota de 18 anos, é presenteada com uma bolsa de estudos pelo seu antigo colégio para frequentar uma das melhores universidades...