Capítulo I - Mudanças

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Meses antes

Milena

Certamente todo mundo almeja alcançar algum objetivo de vida. Alguns desejam dinheiro, sucesso e uma vida feita de viagens. Já outros, bom, apreciam algo mais simples como formar uma família e ter uma vida plena ao lado da mesma.

Em qual das opções eu me enquadro?
Então, a verdade é que em nenhuma delas. Não que eu não almeje ter dinheiro ou criar uma família. Por vezes me pego pensando nisso, no entanto, não como um dos meus principais objetivos. Eu vivo um dia de cada vez e aproveito isso a medida em que foco num e único propósito:

Me formar na Universidade de Midlen e dar tudo o que minha mãe merece após todo o inferno que passamos juntas quando eu era mais nova.
Assim como ter entrado nesta universidade acabou se tornando também uma janela aberta para mudar a forma monótona que eu vivia na minha antiga cidade e nas outras tantas que eu já morei.

As quais eu detestava com todo o meu coração, para ser franca.

— Ansiosa para entrar na universidade, Lena? — pergunta minha mãe de bom ânimo. Faço que sim tirando minhas mochilas do porta malas.

— Uhum — murmuro lançando um olhar breve para a estrutura do edifício que me espera. Minha mãe me ajuda a fechar a porta de trás do seu Corolla branco assim que me ajusto com as minhas bagagens. — E talvez eu esteja mais ansiosa do que imaginava. — confesso apoiando meu ombro na porta do automóvel, dona Érica me encara emocionada.

— Isso é bom, eu gosto de saber que você sente algo em relação a sua nova situação — diz acariciando minha bochecha com o polegar. Eu também devia sentir. — Sabe que logo terá concluído isso, e então voltaremos a estar juntas.

— Nem me fala nisso, mãe. — lamento, um suspiro imperceptível escapando-me dos lábios. — Estar com a senhora é a melhor coisa de qual já apreciei em minha vida toda. Essa distância que irá nos separar será uma tortura para mim.

Dona Érica abre o mesmo sorriso que sempre conseguiu me tranquilizar.

— Brolway e Viera são duas cidades próximas. Assim que possível a gente se vê. — Ela solta meu rosto. Faz sinal para que eu me afaste da porta, atendo seu pedido e a mesma se inclina para o interior levando uma sacola de papel do banco de trás. — É seu — Eu sorrio recebendo com curiosidade a sacola. Sem me conter espio o embrulho que tem dentro. — Abra depois do banho lá na república. Sei que é difícil agradar você, mas isso com toda certeza vai amar. — ela beija minha testa como se finalizasse nossa conversa.

Sei que chegou a hora.

Coloco os braços em volta de seu pescoço e a abraço forte. Vou sentir saudades mãe. E outro beijo aquece minha bochecha fria.

— Amo você, mãe. — sussurro me afastando após ter ouvido as mesmas palavras afetuosas.

Dou alguns passos lentos na direção dos portões imponentes do estabelecimento. Quero olhá-la mais uma vez e ter certeza que ela vai ficar bem. Que ela vai se cuidar e que nada de mal lhe vai acontecer. Quero desistir de tudo e voltar para ela, pois só a minha mãe é que mais me importa nesse mundo.

— Quero que você se cuide. Por favor. — é tudo que eu digo. Embora eu quisesse que uma lágrima escorresse agora.

Isso não acontece.

— Certo, agora vai que ainda tem muito a descobrir entre essas paredes.

Volto-me outra vez para a direção que seguia e continuo. Continuo tentando não pensar tão fortemente no sentimento que tenho agora. Vazio. Me sinto vazia por saber que é o carro dela que acabou de arrancar. Me sinto vazia por estar em um lugar repleto de pessoas desconhecidas. E com medo. Medo por minha mãe. Nunca precisei estar tão distante assim, e isso me causa apreensão, medo e vazio.

Quando As Nossas Vozes Ecoam [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora