Capítulo XVI - Um furacão chamado Lena

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Fredson

Se a história de que Deus tem seus favoritos é real, muito provavelmente — quase uma certeza — que eu não faço parte deles. Indubitavelmente me vejo vivendo uma merda atrás da outra. Sem descanso, como se fosse uma rotina a que eu tenho de me habituar.

Hoje eu agradeceria se a suposição de Greta no supermercado estivesse errada, mas adivinhem só. Ela estava redondamente certa. Há dois dias atrás quando contactei a equipe da limpeza eles constataram que precisaria de ficar longe do meu apartamento por alguns dias a fim de que eles fizessem a dedetização completa.

Apesar de ter compreendido as condições, a frustração não passou muito longe e aquele pensamento de que o azar gosta de ficar no pé me acometeu. Pois é raro casos do gênero acontecerem no complexo de apartamentos em que habito e essa tragédia teve de acontecer exatamente agora, que necessito do meu espaço para me concentrar em período de provas.

Cogitei passar esses dias junto de um dos meus amigos, no entanto, como eu disse: a vida parece estar contra mim. Humberto decidiu passar a semana com uma ficante; o Apê de Patrick só cabe ele mesmo e Paulo mora com seus pais, que na verdade têm  uma afeição enorme por mim, só que eu tenho a máxima certeza de que não ficaria a vontade morando com eles durante esse período.

Ange estava fora da lista antes mesmo que eu a fizesse, pois ela mora com uma amiga. Tanto como a possibilidade de voltar para casa dos meus pais, que é um dos martírios que eu me recusei a passar outra vez. E o motivo não é exatamente eles, e sim o meu quarto dentro daquela casa, que boas lembranças não me traz.

Logo só me faltava Brenda, que sem piscar duas vezes me passou o contacto de uma amiga para que eu falasse com Roberto — uma vez que ela estava ocupada no momento. — E por milagre, desta vez não demorou muito até encontrar a garota no meio do corredor número três, que ironicamente era o corredor aonde ficava o cacifo de Milena.

A princípio não entendi seu semblante irritado, até perceber que era referente ao que ela via e a algo mais que até então não tenho conhecimento. Consegui o que desejava e estranhamente fiz uma amiga. Uma amiga. Nada mais que isso. Algo realmente peculiar com relação a mim e garotas.
Meus planos eram outros após aquela conversa, contudo, Coração queria muito saber como Mayer estava depois de tanto tempo sem a ver, ao passo que Cérebro insistia em dizer que isso não tinha nada haver com sentimentos. Mas lá estava eu seguindo o mesmo caminho que ela, embora não soubesse exatamente em que sala ela se encontrava.

Três portas abertas e nada de Milena, até que em fim senti o aroma doce de seu perfume fraco, mas ainda estava lá , rondando a sala do Conselho de professores. E digo que foi um dos momentos mais satisfatórios que presenciei nessa semana de merda. Ela agachada recolhendo do chão os papéis que tinha consigo quando passou por nós.

Ao ouvir meus passos voltou-se para mim com um sorriso simples, certamente pensando que se tratava de outra pessoa, pois ao aperceber-se de que era eu, sua expressão se fechou com a minha aproximação.

A falsa frieza em seu olhar quando me agachei a seus pés para pegar uma das folhas caídas no chão foi tão segura que estupidamente paralisei para encarar tamanha beleza que ela carrega nas costas. E eu entendi que gostava da forma como ela conseguia parecer impassível, sendo que meu toque a fazia enrijecer. Apesar do semblante cansado eu só consegui pensar em uma única coisa: Aquela garota do ponche estava bonita para caralho naquelas jeans coladas.

Minha única vontade era toma-la em meus braços e a beijar como nunca antes beijei alguém. E a cada instante que me aproximava esse sentimento crescia dentro de mim e eu sabia que era recíproco, porque apesar de sua expressão indiferente, naquele momento eu consegui a ler, seus olhos lhe entrevagam e diziam que a mesma queria o que eu queria. Só que eu consegui me controlar, e não dei o que nós dois queríamos. E frustrada com a minha pequena brincadeira ela me tirou daquela sala, me deleitando de um jeito quase que satisfatório antes que eu seguisse caminho para acertar tudo com Roberto.

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