Capítulo XVIII - Garota imprevisível

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" — Fredson, você disse que me levaria para conhecer o campo de seus avós. — Ange resmungou descendo a escada vidrada de sua casa alguns degraus abaixo de mim. Parou de andar poucos segundos depois, seu olhar encontrou o meu sobre o ombro e eu simplesmente neguei com a cabeça antes de a deixar para trás.

— Não coloque palavras em minha boca, Angell. — Ela tinha essa mania de criar histórias e me envolver nelas. Talvez seu tempo livre com a escrita estivesse a fazendo viajar demais.

Ouvi seus passos apressarem atrás de mim, muito rápido ela me encontrou e continuou do meu lado descendo a espiral que a escada fazia até o Hall da casa. No final dela já se podia ouvir a música suave da cerimônia de votos de casados dos pais de Angell. Os bruburinhos e vozes animadas acompanhando a trilha sonora.

— Tá bom — ela murmurou ajeitando seu vestido nude, longo até abaixo dos joelhos, feito apenas para a ocasião. Eu gostava da forma como as roupas lhe caiam. Não importava o que usasse, sua beleza natural e irradiante a acompanhava sempre. — Mas eu sou sua amiga, Fred. E você despertou a minha curiosidade sobre esse lugar. Acho justo que me mostre.

— É muito distante da cidade — desconversei, por fim descendo o último degrau da interminável sequência deles, removendo minhas mãos dos bolsos das calças que compunham o meu terno. Ange bufou em desagrado. Eu não queria ter de levá-la até lá e ela sabia muito bem disso.

— São desculpas esfarrapadas, Pózinho.

Eu não gostava desse apelido, muito menos a tudo ao que ele se remetia. No entanto, naquele dia, a sombra de um sorriso se espalhou por meu rosto substituindo a careta aborrecida que se estampava ali. Não por causa de Ange ou de seu comentário; mas pela visão que tive dos cabelos castanhos ondulados da garota que se aproximava de nós.

O sorriso que trazia consigo me deixava zonzo e apesar do vestido branco delicado que condizia com a pele pálida, sentia que por trás de toda aquela delicadeza algo selvagem brotava dela. Os piercings em suas orelhas confirmavam meus pensamentos e eu já tinha gostado dela antes mesmo de ter dialogado com a mesma.

Fred, você ouviu o que eu falei? Está prestando atenção?Claramente eu já não estava mais em Ange, minha atenção era toda para a moça que vinha em nossa direção a passos calmos, precisos. Em minha direção. Mas eu fiz que sim mesmo que não tivesse ouvido quase nada do que ela disse.

— Sim, Angell. Eu ouvi — disse breve. — Será que podemos deixar isso de lado por algum tempo e aproveitar a festa? — Angell respirou fundo, bateu o pé no chão e cruzou os braços como se fosse uma menina birrenta.

— Certo. Faça como quiser. — Falou nada animada e fez menção de se afastar, mas eu peguei em sua mão e pedi que esperasse.

Aquela garota está acenando para cá. — expliquei o motivo de ter-lhe parado. Um vinco apareceu entre suas sobrancelhas e desapareceu no mesmo instante, dando lugar a um sorriso aberto e casual quando ela notou de quem se tratava. — Sabe quem é?

Ela me encarou enquanto acenava para a desconhecida que eu queria muito conhecer, suas próximas palavras me surpreendendo como nenhuma outra que ouvi-a dizer desde que cheguei a sua casa.

Quando As Nossas Vozes Ecoam [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora