Milena
Durante a semana toda eu venho me convencendo de que parte de mim ainda está comigo e que não é de fato saudade o que sinto quando Fredson está de viagem.
Temos nos comunicado por mensagem desde que ele e seu time de basquete partiram terça-feira para jogar noutra cidade, o que muito provavelmente gerou o descontentamento da minha parte em ter esse contato virtual enquanto me dedicava aos estudos e consiliava esse tempo com o do trabalho muito cansativo que venho fazendo nos últimos cinco dias.
Que para ser sincera não foram tão fáceis, a considerar que o Pesadelo — cujo o qual descobri se chamar Vítor —, tem frequentado mais a Boutique, consequentemente, sou obrigada a não demonstrar o quão sua presença tem me abalado conquanto trabalhamos juntos.
Fora minhas paranóias com ele e o meu passado, Sr. Vítor se mostra genuinamente, de um jeito que me traz dúvidas, muito simpático e prestativo em ajudar as demais pessoas, mais ainda, o bom humor que apresenta sempre que possível.O que por vezes me confunde e parece quebrar uma das camadas da barreira que tenho em volta de mim em instantes que me encontro na defensiva pelo motivo de não compreender até agora como ele pode ser tão parecido com Daniel e tão diferente ao mesmo tempo, a ponto de me deixar a vontade mesmo que não aconteça eventualmente.
A manhã de sábado está ensolarada, quente. O que justifica o vestido de verão cobrindo parte do meu corpo e a garrafa de água em minha mão esquerda, enquanto que a direita eu uso para entregar o dinheiro da viagem ao cobrador do ónibus que me trouxe a rua que tenho me habituado a frequentar desde semanas atrás.
Pessoas descem e outras sobem no autocarro que acabo de deixar para trás conforme atravesso a estrada um pouco movimentada em plenas dez horas da manhã e miro meu foco mais adiante. Eu já consigo ver o prédio aonde me dirijo, brilhando literalmente quando o sol incide sob os vidros escuros dos apartamentos.
Tiro o celular do bolso da carteira com um pouco de dificuldade por estar usando uma mão ao mesmo tempo que atravesso a porta do edifício e dou um aceno de cabeça para outro porteiro diferente do último com quem me encontrei na semana anterior.
Aceno também para o recepcionista atrás do balcão de mármore com aquele mesmo sorriso que eu dou aos meus clientes. Considero tão chique pessoas que trabalham com o público e ainda conseguem fazer isso, mas não falo sobre porque um "bom dia" já faz o dia dessas mesmas pessoas. E eu acho necessário não deixar passar.
Estou diante do elevador, mas como sempre eu mando uma mensagem para ele quando estou subindo. Virou um costume que por vezes considero chato. É como se eu não conseguisse fazer sequer uma surpresa.
Eu: Estou subindo. (10:13 AM)
Sr. Impertinente: Nãooo! (10:14 AM)
Eu: Ué... (10:14 AM)
Sr. Impertinente: Estou te traindo, não suba. Me dê uns segundos e prometo que termino aqui. (10:14 AM)
Fico relendo aquela mensagem, rindo bem baixinho. Só não sei se é de nervoso ou é por ele ser um besta mesmo.
Eu: Borges, onde você está?! (10:15 AM)
Sr. Impertinente: Credo, senti sua raiva daqui. Tá atrapalhando a minha traiÇão. (10:15 AM)
Eu reviro os olhos, dando um passo para trás para que outra pessoa use o mecanismo que eu deixei de usar por conta de um certo alguém.
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Quando As Nossas Vozes Ecoam [✓]
Romance[+16] Sinopse Conhecida pelas suas excepcionais notas no fundamental tanto como no ensino médio, Milena Mayer, uma garota de 18 anos, é presenteada com uma bolsa de estudos pelo seu antigo colégio para frequentar uma das melhores universidades...