Capítulo XXXVIII - Segredos que machucam

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Fredson

Por vezes tenho a estranha impressão que bater em mim de vez em quando talvez me faria parar de ser um pouco idiota e de tomar decisões erradas em momentos importunos.

Tenho extrema certeza de que me encontro nesta fatídica situação hoje conforme me visto as pressas a fim de não ficar mais atrasado do que já estou para ir ao seu encontro. Mal tive tempo de comer alguma coisa quando acordei pela segunda vez, pois era meio dia e como o cara comprometido que sou, devia ter acordado cinco horas antes.

— Droga — murmuro lutando contra as botas pretas que até então parecem ter encolhido por algum castigo do inferno, porque sinceramente, nunca me foi tão difícil usá-las como está sendo agora. Eu faço isso a medida que saio do corredor escuro do meu quarto e nada surpreso encontro a sala no mesmo estado.

Procuro pelo interruptor no outro lado do cômodo, felizmente não demoro a ligar as luzes ainda sofrendo para calçar o outro par de sapato. Quando por fim termino, penso já estar pronto para ir embora, no entanto me recordo de que as chaves não estão comigo e se torna uma merda do caralho procurar alguma coisa no estado impaciente e sem tempo em que me encontro.

Onde foi que joguei aquela desgraça quando voltei? O único fiapo de paciência que ainda tinha começa a se dissipar ao notar que o objeto não está nem sobre a mesa de centro do lado da garrafa de bebida que tomara mais cedo, nem na cozinha e muito menos no meu quarto. Pareço que estou prestes a surtar no instante em que a procuro mais uma vez e a encontro na pia do banheiro, onde eu aproveito e verifico a minha aparência mais uma vez a fim de me certificar de que não estou parecendo com uma múmia devido as manchas escuras debaixo dos meus olhos, tal como se a minha decisão de ter ido tomar rum na beira de um penhasco não me afetou ainda mais.

No final desse processo eu decido que não. Ao menos não estou tão péssimo quanto pensava, embora também não esteja o Henry Cavill em si.

Me olhando no espelho considero minhas olheiras bem mais fracas do que me lembrava, o que não muda muito minha situação. De qualquer forma quem presta atenção pôde ver o quão acabado estou na realidade. Passo a mão pelo rosto como se isso pudesse me livrar um pouco da tensão que sinto, então me certifico, de forma despachada, se tenho tudo comigo, e quando estou prestes a pegar o elevador eu me recordo: o celular!

Que maldição! — Torno a entrar no meu apê e procuro pelo aparelho. Leva uns cinco minutos até acha-lo por fim e desta vez não dou mole de pensar se não estou me esqueçendo de nada porque atrasado eu já estou. Demasiado.

No caminho para universidade eu jogo mais umas cem mil maldições também. Há um engarrafamento enorme, e teve de ser logo hoje. Logo agora!

— Merda! — Eu esmurro o volante, frustrado comigo mesmo e com o mundo. Se eu tivesse tomado o maldito remédio teria dormido ontem. Acordado cedo hoje e não passado a madrugada fora de casa como se não tivesse um compromisso com a minha garota horas depois.

Pendo a cabeça para trás, passando as mãos pelo rosto conforme tento relaxar os músculos contraídos. Me irritar agora não vai me ajudar em nada. Nada mesmo.
Eu observo a fila de carros a minha frente, tendo máxima certeza de que estarei preso aqui por um bom tempo. Uma hora, pondero. Congestionamentos em Brolway são sempre a mesma porra.

Meu celular vibra no painel do carro e isso é suficiente para fazer um arrepio entorpecente percorrer o meu corpo no mesmo instante.

Meu primeiro pensamento é de que deve ser ela. Porém, a mensagem que acaba de entrar neste momento é de Paulo. E sim, antes desta tem três outras, dela. E uma ligação perdida as sete e meia.
Eu faço uma careta de dor, me sentindo estúpido por ter tomado aquela péssima decisão hoje. Lena não merece isso de mim.

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