Fredson
Ressaca é uma desgraça.
Me parece lastimável o quão prazeroso é girar copos e mais copos em uma festa. Se sentir absorto num estado de êxtase de felicidade total. E no dia seguinte, a intensidade das reações provocadas pelas ações do dia anterior chegarem tão forte que por instantes sentimos uma pontada de arrependimento de tais atitudes.
Eu não estou arrependido por ter tomado várias doses de álcool ontem, pelo contrário, foram sensação incríveis que me proporcionei depois de uma semana inteira apenas consumindo água pura.
Cada músculo do meu corpo pesa de cansaço e ainda me são vagas as lembranças do que fiz ontem a noite. E sinceramente, não sei se quero lembrar.
A escuridão do meu quarto é interrompida por uma faixa de luz trespassando pela fresta aberta a poucos minutos por Greta.Sigo seus movimentos descontraídos quando ela dá uma vista de olhos no meu banheiro, aprecia o pouco que pode do quarto e se acomoda em minha poltrona estofada próximo a janela fechada.
Desisto de a educar.
— Esqueceu que se bate a porta das pessoas mais velhas antes de entrar? — pergunto rouco, ainda deitado de barriga para baixo, meus olhos prestando atenção em minha irmã mais nova.
Greta cruza as pernas uma na outra, dá de ombros e me encara despreocupada.
— É, as vezes sou assim mesmo. — afirma ela. Eu sei que ela é desse jeito. — Prometo bater uma próxima vez.
Espero que sim, embora eu não acredite.
Arrasto meu rosto pelo travesseiro buscando coragem para mudar de posição. De vez em quando me pergunto quando foi que eu me habituei a ter Greta no meu quarto a qualquer momento que ela deseja. Finalmente me deito de barriga para cima e a observo melhor, mexer em seu celular.
Hoje ela não quer se mostrar triste. Usa a máscara impassível que aprendeu a colocar pouco tempo depois de ter um pouco noção do que é a vida. Só que eu a conheço bem mais do que ela quer permitir que eu conheça.
Conheço tanto que fui o primeiro a perceber quando ela estava caindo e se afundando na depressão. Minha irmã tinha medo de que nossos pais se separassem de tanto que eles brigavam antes. E ela camuflou a tristeza na antipatia, depois na raiva e por fim em cortes.Descobri semanas depois, quando queria levá-la a praia e seus pulsos estavam cobertos de marcas de cortes recentes. Fui calmo em ter um conversa com ela, depois com nossos pais que desde então melhoraram a sua relação por todos nós. E por fim com a psicóloga que ela consulta até hoje.
— Greta — seu olhar perdido encontra o meu de imediato. Não precisa de palavras, é o sinônimo de que posso prosseguir. — Como estão as coisas com você?
Suas feições se fecham por instantes, minha irmã tenta parecer tranquila apenas me olhando. Queria sorrir e acompanhar o que ela tenta transmitir, mas me limito a comprimir os lábios e esperar pela resposta habitual.
— Normais. — É a única palavra que sai da boca dela.
Normal é a forma de Greta dizer que nada mudou.
— Está tudo bem com você?
— Está, Fred. — ela confirma sem convição alguma. — Apesar de tudo, está sim.
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Quando As Nossas Vozes Ecoam [✓]
Romantizm[+16] Sinopse Conhecida pelas suas excepcionais notas no fundamental tanto como no ensino médio, Milena Mayer, uma garota de 18 anos, é presenteada com uma bolsa de estudos pelo seu antigo colégio para frequentar uma das melhores universidades...