Capítulo XX - O que nos une

35 23 41
                                    

Fredson

Não existe mais almofada entre nós.

O corpo dela encaixa perfeitamente na curva que o meu faz, sua mão agarrada a minha equilibrando o frio imposto pela manhã revigorante de sábado.

É assim que nós encotramos.

Dormindo de conchinha.

Meu braço envolve sua cintura fina coberta pelo camisolão quente desde a madrugada enquanto a ouvia murmurar como se estivesse sonhando com algo indesejado.
As fungadas que deu em seguida pressupondo o início de um choro me preocuparam, e foi quando sua mão inconsciente procurou pela minha debaixo das cobertas, que senti meu peito apertar com a necessidade súbita de entender o que acontecia com Cerejinha e a de tirá -la daquela peripécia.

Esse instante se somou a todas as outras vezes que senti que algo nela não corria bem, e definitivamente eu quis acolhé-la em meus braços, como se de verdade reconhecesse que minha alma clamava para confortar a sua alma.
Então eu lhe dei tudo de mim naquele momento, de modo a que ela ficasse confortável e mais estável.

No entanto não deixei de pensar no que iria acontecer depois que ela acordasse e nos encontrasse nessa mesma posição, muito provavelmente que minha jugular estaria em perigo — suposição que me fez rir de nervoso — pois, embora ela seja bem mais baixa do que eu, a determinação em suas ações acaba com meu ego macho muito facilmente.

Porém, meu pensamento muda por completo segundos depois. Muda quando sei que ela está acordando e eu faço questão de me afastar para evitar que meus pensamentos se tornem a minha realidade,   e o que acontece entre eu e ela no minuto seguinte se torna diferente e chocante no instante em que a sinto puxar minha mão de volta a envolver sua cintura e apertar contra a sua.

E eu obedeço, trago-a mais para perto de mim, nos encaxando perfeitamente outra vez.

Permanecemos num silêncio que só nós curtimos. Nossos pés se enroscando debaixo da coberta e minha mão alinhando os fios negros para trás de sua orelha.

Aquela região me atrai, quero dar uma mordida e ter certeza que é tão delicada quanto aparenta. Só que ao invés disso eu deixo um sopro, bem leve próximo dela.

Milena dá risada como resposta, rompendo o silêncio que se fazia no quarto clareado com luz do amanhecer tentando atravessar as cortinas brancas. E acho que nunca gostei tanto de ouvir a risada de alguém quanto me apaixono pela sua.

— Eu e você dormimos assim? — Ela volta a usar aquela expressão que me faz rir com o rosto quase enterrado no seu cabelo espalhado pelo meu peito.

— Eu e você acordamos assim. — Respondo curvando ainda mais a cabeça para cheirar a fragrância do champoo em seus cabelos.

Vanila misturada ao seu cheiro natural.

— Gostou desse cheiro? — pergunta se virando para mim, a noção de espaço lhe faltando. E decido que, se eu não me controlar, sou capaz de ter uma parada cardíaca de tão acelerado que meu coração está batendo agora. Seu rosto está levemente corado pelo sono, os cabelos bagunçados e os olhos cheinhos. Uma das expressões mais fofas que já vi nela. — Não é do meu champoo, mas curti.

Eu gostei muito. Na verdade tudo parece sucumbir a sua natureza estoteante e melhora cem vezes mais quando se trata de Milena.

Quando As Nossas Vozes Ecoam [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora