30 - Omma (Parte 1)

1.7K 142 93
                                    

Shuhua estava ansiosa. Na verdade, ansiosa não seria bem a palavra, sentia outro tipo de sensação, era como se fosse explodir a qualquer momento.

Estava nervosa, ansiosa, agitada e principalmente, com medo. Iria conhecer os pais de sua namorada.

Desde muito jovem Shuhua soube que era diferente. Se perceber enquanto pessoa fora dos padrões heteronormativos de toda uma cultura era cansativo, desgastante e um processo muito, muito longo.

Tudo se tornou um pouco mais complicado quando saiu de Taiwan com destino à Coreia do Sul, país em que se entregaria ao que amava como sempre sonhou, profissionalmente falando.

A mulher havia feito dança e teatro, além de pisar um pouco na ginástica rítmica e canto.

A taiwanesa sabia que possuía um pouco mais de dificuldades em alguns aspectos, como a língua e adaptações culturais, mas estava se saindo muito bem.

Quando conheceu Soojin, teve certeza de que seria algo duradouro. Sentiu como se a conhecesse a tempos, mesmo querendo conhecê-la cada vez mais.

Sentia-se orgulhosa em constatar que havia tido a iniciativa para o primeiro beijo, ainda que a primeira conversa tenha partido da coreana.

Mas nada disso importava agora, na verdade, tudo o que pensava era que conheceria os pais de Soojin em poucas horas.

As mulheres namoravam a quase dois anos, mas devido à uma incompatibilidade em suas agendas e ao período de conhecimento entre as duas, a taiwanesa não os havia conhecido até aquele momento.

- E se eles não gostarem de mim? - A menina choramingou para a namorada que ria do pequeno bico em seus lábios.

- Amor... eles vão gostar de você. - Disse, acariciando os longos cabelos de Shuhua. Estavam deixadas sobre a cama que dividiam a cerca de um ano. - Eu já falei de você pra eles, estão doidos para te conhecer. Vai dar tudo certo. - Falou baixo, deixando um beijo sobre a testa da mulher.

- Está dizendo isso só pra eu te deixar em paz? - Perguntou com uma voz entristecida.

- Baby, é sério. Eles vão amar você quando virem que você é quem me faz a mulher mais feliz do mundo. - Desceu suas mãos para as costas da taiwanesa, passando-as por dentro do moletom largo que usava e acariciando a área, fazendo-a relaxar um pouco.

- Você me odeia? - Ergueu seu rosto, franzindo as sobrancelhas ao olhar nos olhos divertidos da namorada.

- Não, eu amo você. - Disse com um sorriso, achando graça do drama da mulher.

- Então por que está fazendo isso comigo? - Estreitou os olhos.

- Porque já estamos juntas a dois anos, Shu. E eu não quero me casar com alguém que sequer conhece meus pais. - Ergueu uma de suas mãos, fazendo um carinho leve em seu nariz.

- Nós nem podemos nos casar na Coreia! - Dramatizou. - Espera! Está me pedindo em casamento? - Arregalou os olhos para a sua mulher.

- Não sei, será? - Deu de ombros. - Agora vamos dormir, nosso vôo é muito cedo.

- Ainda não entendo o motivo de pegar um avião se não vamos sair da Coreia. - Resmungou.

- Quanto você ganha para reclamar de tudo? Eu pago o dobro para parar. - A coreana disse, arrumando seus travesseiros e deitando-se novamente, puxando a mulher para si.

- Boa noite, Jinjin. - Cedeu.

- Boa noite, baby. - Finalizou.

- Jin-ah...? - Chamou baixinho, após alguns segundos de silêncio, fazendo Soojin apenas resmungar em resposta. - Eu também amo você. - Deixou um beijo sobre os lábios da coreana.

(...)

Ao contrário do que passava para sua namorada, Soojin estava extremamente nervosa e preocupada.

Sabia que seus pais poderiam ser pessoas um tanto... rígidas, quanto à sua linhagem familiar, o que era complicado de se manter quando se tinha uma filha lésbica.

Além de lésbica, Soojin namorava uma mulher não-coreana, o que também poderia vir a ser um problema, mas tentava não pensar nessa possibilidade.

Assim como Shuhua, Soojin optou por cursar dança, o que em nada agradou seus pais, visto que não a levaria à uma profissão formal numa empresa formal, com profissionais formais e por aí vai.

Seus pais, apesar de muito amáveis, sempre foram duros em relação aos seus filhos, o que a deixava receosa sobre os próximos acontecimentos, mas sentia que precisava fazer aquilo, queria dar um próximo passo com Shuhua e para isso precisava apresentá-la aos seus pais.

Quando embarcaram no avião, a coreana tratou de segurar firmemente as mãos de sua mulher, temendo que a mesma saísse magoada de toda essa situação seja ela qual fosse.

- Está nervosa... - Shuhua afirmou. - O que aconteceu?

- Nada, Baby. Amo você. Só isso. - Disse baixinho, olhando nos olhinhos bonitos da mulher que amava. Sentia que sua vida jamais seria a mesma sem tê-la por perto.

(...)

Ao chegarem, as mulheres podiam sentir seus corações acelerados, ainda que por motivos distintos, eram muito parecidos.

Shuhua queria agradar e Soojin torcia por aprovação e contava com a boa educação das pessoas que a criaram. Tocou a campainha e segurou os dedos de Shuhua firmemente.

- Soojin! - A mulher disse ao abrir a porta, antes de abraçar sua filha firmemente.

- Omma... essa é Yeh Shuhua, minha namorada. - Disse baixo, fazendo a mulher dar um passo a frente e cumprimentar a mais velha.

- Yeh Shuhua... não é coreano. - Disse num tom um pouco estranho. - Soojin... - Ignorou o cumprimento da namorada de sua filha, deixando-a ainda mais nervosa.

- Por favor, não faça isso. - A Seo mais nova pediu em tom de repreensão. Sentia que o que mais temia aconteceria e não havia como voltar atrás.

- Com licença, eu sou Yeh Shuhua e não, não sou coreana, vim de Taiwan. - Shuhua disse após se recompor.

- Ah, é chinesa. - A mulher disse com desdém.

- Eu não...

- Vamos entrar. Mãe, esse não é o momento. - Soojin se adiantou, antes que a discussão sobre espaço político e geográfico se iniciasse.

(...)

- Ela me odeia. - Shuhua disse, quando foram ao quarto para deixarem as malas e se acomodarem.

- Ela não te odeia. Ela só é...

- Preconceituosa. - A taiwanesa adiantou.

- Shuhua! - Soojin a olhou com olhos pesarosos. - Me desculpe por ela, ela não é preconceituosa, só é...

- Preconceituosa. E não gostou nem um pouco de mim. - A mulher dizia séria. Ainda faltava o pai. - Eu nem deveria ter vindo, para início de conversa. Ela nem sequer me cumprimentou, me deixou lá esperando! - Despejava, se sentindo mal pela recepção fria que havia recebido.

- Eu sabia que isso ia acontecer... - Soojin disse baixo, suspirando.

- Então por que me trouxe aqui? - A mulher olhou para a coreana com os olhos marejados. - Quer saber? - Secou os olhos e fungou. - Eu acho melhor conversarmos sobre isso depois. Desce, aproveita um pouco a sua família e depois eu apareço por lá. - Sentou na beirada da cama.

- Baby, não chora. Olha pra mim. - Se acomodou entre as pernas da taiwanesa, segurando seu rosto. - É questão de tempo e adaptação, você vai ver. Eu te trouxe porque eu queria muito juntar as pessoas que eu mais amo na vida no mesmo lugar, mas se você não estiver bem, a gente vai embora.

- Eu não quero atrapalhar. - Afastou Soojin pela cintura. - Vai lá. - Abaixou a cabeça. - Preciso ficar um pouquinho sozinha. - A coreana suspirou e assentiu, deixando um beijo sobre a testa da sua namorada.

- Te amo. - Disse, mas não recebeu resposta, então saiu do quarto. Odiava vê-la dessa forma.

- Soojin. - Ouviu a voz de sua mãe quando chegou até a sala. - O que tem na sua cabeça?

(...)

Sooshu One ShotsOnde histórias criam vida. Descubra agora