7 - Acidente (Parte 3)

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Ao entrar no quarto em que Shuhua estava, Soojin observou a mulher deitada em sua frente. Vê-la daquela forma era tão doloroso, a taiwanesa era sempre tão feliz, agitada, extrovertida. Agora ela só estava ali, deitada, sentindo dores que não deveria e não merecia sentir.

Era impossível colocar em palavras o quanto a coreana amava aquela garota. Tudo nela a atraía de uma forma inexplicável. Quando se conheceram foi como um fenômeno natural, ela jurava que algo dentro de si entrou em erupção. Ela nunca se sentiu tão bem com alguém antes.

Juntas elas haviam construído um relacionamento baseado em muita confiança e amor, e ela estaria lá pra tudo o que houvesse com a taiwanesa, assim como sabia que a menina estaria lá por ela também, caso precisasse. O juramento feito "na saúde e na doença", não foi em vão e nem da boca pra fora.

Mas era tão difícil se manter calma e confiante vendo-a daquela forma. Seu rosto estava pálido, ela vestia uma das camisolas do hospital e possuía uma sonda que se perdia em seu nariz, que Soojin imaginou ser para a alimentação de Shuhua.

Lentamente ela se aproximou da cama, os cabelos de sua esposa estavam presos num rabo de cavalo, provavelmente feito por alguma enfermeira antes da cirurgia. Percebeu um volume em suas roupas, e constatou que era apenas o curativo que envolvia toda a região do abdômen, além de uma fralda para que suas necessidades pudessem ser feitas.

Soojin definitivamente nunca pensou que a veria daquela forma.

Se aproximou ainda mais de Shuhua e pegou sua mão fria, suspirando aliviada por sentir seu toque novamente. Naquele momento ela não estava ali como a Doutora Seo, estava ali como a mais temente acompanhante que poderia ser.

Ela tinha medo de sua esposa não suportar. Não pelo risco de morte, ela sabia que ela estava segura, mas sabia também que Shuhua não aceitaria facilmente estar naquelas condições.

- Meu amor... - Disse, segurando a mão da taiwanesa com ainda mais firmeza. No momento a menina estava sem a aliança, seus pertences haviam sido entregues para ela, assim que disse ser a familiar mais próxima. A única, na verdade. - Eu estou aqui com você... sempre. - Sentiu seus olhos marejarem ao olhar para cima e notar os belos olhos de sua esposa fixos nos seus.

Aquele olhar. Ela faria tudo para ter o brilho de volta. Os olhos de Shuhua estavam opacos, tristes e desanimados. E infelizmente ela sabia que ficariam ainda mais tristes quando a mulher soubesse de todas as consequências do acidente.

- Como está se sentindo? - Ela perguntou, tentando afastar as lágrimas de seus olhos. Aquilo se tornou uma tarefa difícil ao perceber os olhinhos de sua esposa tão ou mais marejados quanto os seus.

- Me desculpa. Me desculpa, Soojin. Me perdoa... - Ela dizia baixinho, sentindo as lágrimas criarem força para molhar todo seu rosto.

- Shhh, se acalme, por favor. - Soojin limpava seu rosto com a manga de sua blusa, fazendo o impossível para não chorar também e acabar piorando a situação. - Olha pra mim. Fica calma e olha pra mim. - Disse, terminando de secar suas bochechas, observando seus olhinhos tristes se direcionarem ao seu rosto. - Tá tudo bem, você está bem, eu estou bem... a nossa menininha também está bem, hum? - Falou, enquanto levava a palma fria de Shuhua sobre sua barriga ainda pouco aparente.

- Ah, meu Deus, eu vou te dar tanto trabalho... me desculpa... - A única coisa que Soojin pensava era no quão aliviada estava por ainda ter a mulher que amava perto de si. Ainda que ela não lidasse muito bem com a nova situação, a coreana estaria com ela. - Como ela está? E você, se alimentou bem?

- Quem tem que cuidar de você sou eu. Nós estamos bem. Eu tive tanto medo de perder você, meu amor. - Disse, levando uma das mãos para acariciar seus cabelos. - Eu não sei mais viver sem você. Sem o seu carinho, o seu cuidado. Nunca mais me dê um susto desses. - Pediu.

- Eu estou aqui, não estou? - Ela perguntou, acariciando sua barriga de leve. As mulheres ouviram a porta abrir e por ela passar o Doutor Hui, responsável pela cirurgia de Shuhua.

- Vejo que já está acordada. - A taiwanesa o olhava séria.

- Imagina... impressão sua. - Disse, contrariada.

- Shuhua! - Soojin chamou sua atenção. Sabia que a esposa não gostava de seu companheiro de profissão. Ele já havia tentado algumas investidas em Soojin, sendo realmente insistente, portanto, Shuhua o conhecia muito bem e não gostava nem um pouco do homem.

- Bom, pretendo ser rápido. - Disse, despreocupado. - A situação é clara. Você teve alguns ferimentos internos na área do intestino, então nós removemos uma parte dele. - Ele não parecia empenhado em dar as notícias de forma correta, falava como se não houvesse nada demais acontecendo. - Então você deve saber o que se decorre à partir disso: bolsa de colostomia, cadeira de rodas, cicatriz, essas coisas...

- O que? - As informações eram rápidas demais para serem processadas pela taiwanesa.

- Ah, eu tenho certeza que sua esposa pode lhe explicar de uma forma mais... didática. Sabemos que talvez tenha problemas com o meu idioma. Sendo assim, tendo tudo explicado, eu volto amanhã. - Falou, antes de sair da sala.

- Eu vou matar esse filho da...

- O que ele disse é verdade? - Shuhua tinha seu olhar baixo, enquanto brincava com seus próprios dedos. - Sobre a cadeira de rodas, a bolsa e a cicatriz... Soojin, eu não vou mais andar? - Ela perguntou baixinho.

- Meu bem, presta atenção. Os seus ferimentos foram graves, muito graves. A cadeira de rodas é temporária, eu prometo, é só para facilitar sua locomoção e não forçar demais as outras partes do seu corpo. A bolsa também é temporária, talvez ela possa ser substituída por alguma sonda se preferir, mas a cicatriz...

- Eu não posso mais dançar. Não posso mais andar. Eu... -  Soojin podia sentir sua esposa perder o foco. Sabia o quão difícil foi para ela se adaptar e encontrar algo que gostasse de fazer.

- Claro que pode, é só questão de tempo. - Tentava confortá-la.

- Tempo, Soojin? Eu não tenho tempo. Eu não tenho mais nada, na verdade. - Virou o rosto para o lado, se deitando corretamente.

- Você tem à mim. Você tem a nossa filha, Shuhua. Nossas amigas que estão a horas esperando por qualquer notícia sua lá na recepção. Nós estamos com você, amor.

- Me deixa sozinha, por favor. - Ela Pediu sem olhar para sua esposa.

- Shuhua... - Tentou.

- Por favor, sai. - Então Soojin resolveu obedecer. Talvez ela precisasse de um tempo para digerir. A coreana se levantou e deixou um beijo em sua testa.

- Nós amamos você. - Disse antes de se afastar e sair do quarto.

Iria atrás de Hui, aquilo não ficaria daquele jeito.

Sooshu One ShotsOnde histórias criam vida. Descubra agora