A Redenção de Gabriel

3. Lya Malta

Finalmente sábado! O melhor dia da semana, afinal eu só trabalho até às dezessete horas. Eu amo chegar em casa mais cedo, sentar no meu sofá, tirar os meus sapatos e mandá-los longe. Além do mais, prometi a Bia que veria um filme com ela.

O dia está lindo, ensolarado e cheio de vida do jeito que eu gosto. Me assusto quando entro e vejo o movimento da lanchonete. Meu bom humor logo vai embora quando me lembro que hoje tem jogo de futebol. Uma nuvem preta se forma em cima da minha cabeça.

Os jovens estão alvoroçados com o jogo que acontecerá nesta tarde. Os Tigres enfrentarão seus maiores adversários, os Bugres. Toda a cidade estará presente só para ver o craque do time jogar. Gabriel Miller é a celebridade do momento.

Como de costume, os jovens se reúnem no Cyber Café para um aquecimento antes do jogo. Esses são os dias que eu mais odiava. A lanchonete fica cheia de idiotas que só sabem gritar e encher a cara com o dinheiro dos pais. Eles sempre me tratavam com arrogância mas eu não ligo, se o meu salário cair na minha conta no fim do mês eu pouco me importo.

Já eram duas horas da tarde. A lanchonete está lotada, não aguento mais ouvir essas pessoas gritando. Minhas pernas latejam de dor, eu só quero sentar e comer o meu almoço tranquila. Será que é pedir muito? O pior é que ainda faltam duas horas para o início do jogo e a cada minuto chegam mais pessoas. Já era meu bom humor!

Me esforço para ser ágil ao servir as mesas mas o movimento está grande demais. De repente vejo as pessoas se levantarem e começarem a gritar como se o mundo fosse acabar. Já até imagino o que é, ou melhor, quem é. Nem me surpreendo quando me viro para a entrada e vejo Gabriel Miller entrar já vestido com o uniforme dos Tigres.

As pessoas idolatram esse cara. Dou um suspiro cansado e penso no quanto essas pessoas são anormais. Tenho que admitir, ele é bonito e joga muito bem, isso ninguém podia negar, mas não era para tanto. Não precisa arrancar a roupa só porque ele sorriu!

Ele se sentou em uma mesa bem no centro da lanchonete junto com seus amigos exibidos. Não tenho outra escolha a não ser ir atendê-lo. Ele é tão insuportável que só quero distância dele mas, não posso deixar de fazer o meu trabalho.

Foi quase impossível chegar até ele. O cara estava cercado de pessoas. A maioria eram mulheres quase sem roupas. Eu mereço!

-- Boa tarde. O que vai querer?- pergunto ao galã.

Eles continuam conversando e ignoram totalmente a minha presença. Fico muito irritada com isso e bato a bandeja na mesa tentando chamar sua atenção. Parece que funcionou. Ele para a conversa com a garota seminua que estava ao seu lado e olha atentamente para mim.

-- Ei, eu conheço você?- Gabriel pergunta.

Reviro os olhos. Nós estudamos na mesma sala há exatos um ano e meio. Como ele pode ser tão idiota assim?

-- Nunca vi o senhor por aqui. O que deseja comer?- pergunto sem paciência.

Ele faz seu pedido enquanto eu anoto. Estranhei ele não pedir nada alcoólico mas, me lembrei que ele iria jogar nesta tarde, então optou por comer algo mais leve e não beber nada.

Me dirijo para o balcão para fazer os pedidos do jogador. Me sinto estranha ao ver que ele não tira os olhos de mim. Tem algo errado nesta história e eu não quero nem saber!

Vejo meu amigo Thomas se aproximar e conversar com Gabriel. Thomas é tão diferente de todos eles, não consigo entender como eles se dão tão bem. Depois de um tempo vejo ele se aproximar do balcão.

-- Em que posso ajudá-lo senhor Álvares?- tento manter um tom profissional.

-- Desejo ser atendido pela garçonete mais linda do país.- ele diz entrando na brincadeira.

-- Desculpe senhor, ela não veio trabalhar hoje. Terá que se contentar com esta humilde garçonete aqui.- sorrio de lado.

-- Então vai ser melhor do que pensei. Serei atendido pela mulher mais perfeita do universo.

-- Para com isso Thomas.- digo rindo.- Desse jeito terei que me casar com você.

-- Eu aceito seu pedido. Não foi nem um pouco romântico mas estou disposto a aceitar.

-- Bobo. Não posso me casar com você!

-- E por que não? Serei um ótimo marido de acordo com minha mãe!

-- Você é meu melhor amigo. Vale mais do que um marido para mim. Mas me fala o que vai querer hoje.- digo pegando o bloco de pedidos.

-- Só quero uma cerveja. Não vou comer por nada enquanto.

-- Vai devagar hein! Não vai beber muito e fazer bobagens depois!

-- Tá bom mãe! Prometo me comportar. Tem uma festa hoje a noite, logo depois do jogo. Quer ir comigo?

-- Deus me livre! Sabe que odeio festas! Me convide para tomar um sorvete!- dou um tapa no seu ombro.

-- Você parece uma senhora de oitenta anos. Precisa se divertir Lya! Aposto que vai ficar em casa tricotando toucas para os seus gatos.

-- Eu estou bem assim e você sabe que eu tenho responsabilidades em casa e eu não tenho gatos!

-- Que horas você sai hoje? Vou passar para te levar para casa.

-- De jeito nenhum! Vai curtir a sua festa. Eu estou bem, não se preocupe.

-- Tudo bem. Mas qualquer coisa me liga que te busco na hora!

Ele pega sua cerveja, me dá um beijo no rosto e volta na direção dos seus amigos.

Thomas é muito especial na minha vida. Sem dúvidas ele é meu melhor amigo. Sempre esteve ao meu lado desde que nos conhecemos. No pouco tempo que convivemos ele já me ajudou em diversas vezes. Eu o amo muito.

-- Lya, pode sair para fazer seu horário de almoço.- ouço o gerente dizer.

Até que enfim. Não sei se aguentaria mais um minuto sem comer. Já estava quase atacando os pratos dos clientes. Vou até a sala dos funcionários pegar minha comida e quando abro a porta quase desmaio de susto. Não posso acreditar no que vejo!