A semana passou bem rápida. Depois da conversa que tivemos, Gabriel se fechou um pouco comigo. Não sei mais como agir ao lado dele. Ele está mais calado e só fala o que é necessário.
Tenho medo de tê-lo magoado e sempre que volto no assunto ele me corta. Quero pedir desculpas e dizer que sinto muito. Droga, eu jamais imaginaria que o idiota da faculdade se tornasse tão importante para mim.
O problema é que eu me habituei com o seu jeito. Estávamos nos aproximando mais e eu já o considerava um amigo. Agora o vejo distante e disperso e eu sei que isso se deve a conversa que tive com ele.
Hoje é sábado e como sempre estou tendo muito trabalho na lanchonete. Mais tarde é a festa de aniversário do Gabriel e eu sinceramente não sei o que fazer. Ele não comentou mais nada sobre esse assunto e estou sem saber se ainda serei bem vinda em sua festa.
Durante a semana, depois da sessão de fisioterapia, eu e Bia rodamos a cidade a procura de um presente para ele. Foi uma missão quase impossível. Gabriel sempre foi rico e tem amigos ricos. Ele deve estar mais do que acostumado a ganhar coisas caras. Todos os relógios e camisas que olhamos para comprar, eu teria que trabalhar no mínimo um ano para conseguir pagar.
Já estávamos exaustas quando me lembrei de quando era mais nova e eu mesma confeccionava os presentes para dar meus pais e minha irmã. Eu sempre tive facilidade com trabalhos manuais.
Decidi que faria um chaveiro para ele. Já que ele ama tanto futebol, acabei fazendo um chaveiro de chuteira com o nome dele. Me deu um pouco de trabalho mas, espero que ele goste. Fiquei a madrugada toda fazendo mas fiz de coração.
São quase nove horas da noite e meu turno acabou agora. Estou exausta, por ser sábado eu sairia mais cedo porém, uma funcionária faltou e tive que cobrir. O movimento foi grande como sempre e os jovens só sabiam falar da festa de hoje a noite e isto me deixou mais agoniada. Pelo visto, a cidade inteira vai estar presente.
Enquanto caminho para casa tento me decidir se irei ou não. Eu prometi que iria se ele fizesse um bom trabalho da faculdade e ele cumpriu com sua parte. Agora só falta eu cumprir a minha. Tenho muito medo de ir e ser rejeitada por ele.
Nunca fui de me importar com a opinião dos outros mas, estranhamente tenho dado muita importância a tudo que diz respeito a Gabriel. Não sei o que fazer.
Assim que chego em casa vejo Bia e dona Maria na sala vendo mais um filme de princesa. Bia nunca se cansa!
-- Lya!!! Você chegou! Você tem que se arrumar para a festa!- diz Bia empolgada.
-- Eu não sei se vou mais Bia.
-- Ah não irmã! Você ficou até tarde fazendo o presente, você tem que ir! A vovó Maria vai ficar comigo até você chegar.
-- Vai Lya. Vai se divertir. A vida é muito curta para se viver dentro de casa num sábado a noite.- diz dona Maria com um sorriso terno.
Talvez eu devesse ir. Se ele fosse indiferente eu só lhe entregaria o presente e viria embora e deitaria na minha cama. Pelo menos eu não deixaria de cumprir com a minha palavra.
-- Ok. Eu vou tomar um banho para ir.
-- Isso! Eu vou escolher um vestido bem bonito para você ir.- diz Bia empolgada.
-- Eu não tenho vestidos Bia!- a lembro.
-- Você não mas, a mamãe tinha muitos e eu sei que você não se desfez das roupas dela.
-- Eu não sei se seria uma boa ideia...
Minha mãe sempre foi uma mulher muito atraente. Sempre foi muito vaidosa e gostava de se arrumar. Meu pai sempre a elogiava quando eles saíam. Eles eram um casal apaixonante. Eu sei que fui egoísta mas não tive coragem de doar suas roupas. Meu sonho era ver ela vestida novamente com seus vestidos cheios de brilhos e rendas.
-- Não pense tanto Lya. Você é muito nova e precisa se encontrar e ser feliz. Eu conheci muito bem a sua mãe e nada a deixaria mais orgulhosa do que lhe ver vestida com suas roupas.
-- Tudo bem, me convenceram. Escolha um vestido bem bonito Bia!
Resolvo aceitar a palavras de dona Maria. Me dirijo ao banheiro e sorrio ao escutar Bia comemorando de alegria. Eu sei que as duas são as pessoas que mais me amam e querem o meu bem. Eu só preciso ficar tranquila.
Tomo o meu banho e quando entro no quarto vejo o vestido que Bia escolheu. Meu olhos se enchem de água ao vê-lo. Era o preferido de nossa mãe. Vai ser difícil vesti-lo e segurar as lágrimas.
O vestido é curto e assimétrico. Ele é marsala e tem uma cauda estilo andorinha. Ombro caído, justo em cima e solto em baixo. Minha mãe ficava maravilhosa nele.
Assim que o vesti, nem pude acreditar. Ficou perfeito em mim. Ficou justo e evidenciou minhas curvas que nunca fiz questão de mostrar. Calço um sapato preto de salto e rezo para conseguir andar com ele.
Nunca fui de me arrumar assim. Eu sei maquiar e fazer penteados no cabelo porque minha mãe fez questão de me ensinar mas, tem anos que não coloco isso na prática.
Me sento na frente do espelho e tento fazer uma maquiagem simples. No início é difícil mas com o tempo eu consigo. Resolvo soltar os cabelos e faço alguns cachos nas pontas. Sempre o uso preso e agora eu vejo o quanto está longo, já chegou na cintura.
Termino de me arrumar, pego a caixinha com o presente e saio do quarto. Tento me lembrar de como minha mãe me ensinou a andar de salto alto e quase caio tentando me equilibrar. Será que eu posso calçar um tênis?
-- Lya! Você está maravilhosa! Está mais bonita do que a mamãe!- diz Bia de boca aberta.
-- Isso é impossível Bia. A mamãe era perfeita.- digo triste.
-- Seu namorado vai ficar tão feliz!- diz minha irmã.
-- De onde você tirou isso Bia? Eu não tenho namorado.
-- Eu sei que esse cara é seu namorado. Nem para o Thomas você anda o dia todo atrás de um presente e nunca aceitou sair com ele. E olha que ele é apaixonado por você. Quando vou conhecer seu namorado?
-- Bia! Você está assistindo muito filme! Eu não tenho namorado!
-- Mas seria bom de você tivesse um.- sua voz sai triste.- Todas as princesas dos filmes ficam com um príncipe no final. Você só fica dentro de casa comigo...
-- Ei Bia.- me abaixo para olhar em seus olhos.- Eu fico em casa porque eu gosto. Você não está me privando de nada. Eu vou nesta festa e vou me divertir e amanhã eu conto tudo para você. Agora me deixa ir se não vou chegar muito tarde. Eu amo você irmãzinha!
Saio de casa me segurando para não chorar. Nem sempre é fácil ser forte. Chamo um Uber e demoramos um tempo para chegar. Gabriel mora praticamente do outro lado da cidade, na área onde só os mais ricos habitam.
O carro para na porta de uma casa gigantesca. Nem nos melhores filmes eu vi uma mansão dessas. Por um instante sinto uma vontade imensa de sair correndo. A música alta começa a invadir meus ouvidos.
Vou entrando aos poucos e tem tanta gente que é difícil andar. Não consigo deixar de olhar para a casa dos Miller. Que casa é essa? Meu bairro inteiro cabe aqui dentro!
Sinto o olhar das pessoas sobre mim e tento me equilibrar para não cair. Um cara bêbado passa por mim e me chama de gata. Que ridículo!
Me dirijo para o cômodo que eu acredito que seja a sala de estar. Espero que Gabriel esteja lá. Vai ser difícil encontrar ele nesse ninho de pessoas bêbadas.
Assim que entro vejo sentados no sofá Francine, Mia, Caio e Samuel. Não vejo nem Gabriel e nem Thomas. Eles me olham como se eu fosse um ser de outro mundo. Odeio isso. Não vejo outra opção a não ser chegar perto e perguntar sobre o aniversariante. Com toda certeza eles saberiam onde ele está.
Quando vou me aproximar, meus olhos vão para a escada onde vejo Gabriel descendo com Carla logo atrás dele. Não posso negar, ela estava maravilhosa, digna de ser capa de revista. Mas meu coração quase falha ao ver o quanto ele estava lindo.
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A Redenção de Gabriel
RomanceUm grave acidente de carro tira a vida das pessoas que Lya mais amava, a única sobrevivente é sua irmã de cinco anos que ficou paraplégica. Lya ganha uma bolsa de estudos na maior faculdade de Direito do país. Ela é uma garota decidida e responsável...