Já fazem três semanas que todo aquele caos aconteceu. Eu tentei ser forte, eu tentei dar a volta por cima porém, eu ainda sou uma garota frágil e perdida. Minha saúde mental vai de mal a pior.
Perdi todo o meu ânimo. O que eu mais amava era poder estudar e traçar o meu futuro. Mas nas condições em que vivo, seria impossível pagar uma faculdade como aquela. Infelizmente na cidade não há universidades públicas e me mudar com Bia não é uma opção.
As coisas estão cada vez mais difíceis. Todo o dinheiro reserva que eu tinha se esgotou. Procurei por um novo emprego mas não consegui nenhum. Gabriel tentou de todas as formas continuar contribuindo com as despesas da casa. Claro que eu não aceitei por mais que eu precisasse. Não faz sentido algum ele continuar nos ajudando.
Só de pensar em Gabriel, meu coração se aperta. Não gosto de lembrar do que aconteceu. Eu disse que deveríamos ficar afastados por um tempo e ele respeitou essa decisão. Uma vez ou outra ele manda uma mensagem perguntando se eu ou Bia precisamos de algo. Esse é o nosso contato máximo.
Termino de olhar os classificados e não vejo outra opção a não ser aceitar o emprego na boate. Não estou em posição de escolher no momento. Ligo para o gerente e combino de começar hoje mesmo.
Tenho andado tão estressada e esgotada que até Bia percebeu e tem dado uma folga em suas birras. Eu vejo o quanto ela sofre com a falta do Gabriel mas, já faz um tempo que ela parou de me encher de perguntas.
Thomas tem sido um amigo e tanto. Todas as noites ele me liga e conversamos bastante. Ele sempre foi um cara gentil e se preocupou comigo. Só Deus sabe o quanto eu queria corresponder aos seus sentimentos. Talvez eu não estivesse sofrendo o tanto que estou. Ele merece toda a felicidade do mundo. Nem Mia, nem eu somos mulheres capazes de fazê-lo feliz como ele merece.
Ouço meu celular tocar e me levanto para pegá-lo na esperança de que seja alguma oferta de trabalho diferente da boate. O encontro em cima da geladeira e logo o atendo.
-- Alô?
-- Lya Malta?
-- Sim, sou eu.
-- Aqui é o reitor Sérgio Fernandes. Gostaria de trocar algumas palavras com a senhorita.
-- Não me leva a mal senhor reitor mas, eu acho que já fui humilhada o suficiente. O senhor me expulsou da faculdade com a desculpa de preservar o bom nome da instituição e eu me retirei sem dizer uma só palavra. Não quero voltar a este assunto.
-- Sinto muito por isso senhorita Lya. Como eu disse eu somente cumpro as ordens do Conselho.
-- Eu preciso ir buscar a minha irmã na escola e me ajudaria muito se o senhor fosse direto ao ponto e me dissesse o motivo da sua ligação.
-- Tudo bem. Eu gostaria de conversar pessoalmente mas visto que não é possível, direi por telefone mesmo.
Ele para por alguns segundos e o ouço mexer em alguns papéis. Só peço a Deus que não seja nada de ruim, afinal não há mais nada que possa piorar em minha vida. Perdi o meu emprego, fui abusada por dois homens na rua no mesmo dia. Me entreguei para um cara que acreditei que me amava e no final descobri que não passava de uma aposta e acabei perdendo minha grande oportunidade de estudar. Tudo em menos de um ano. É muita falta de sorte ou alguém lá em cima não gosta mesmo de mim!
-- Achei. Então senhorita Malta, tenho aqui em minhas mãos um documento comprovando que todas as suas mensalidades até o final do curso foram pagas.
-- Como?- isso só pode ser uma brincadeira de muito mau gosto.
-- A partir de amanhã a senhorita poderá retomar as suas atividades acadêmicas sem se preocupar com a parte financeira.
-- Tem certeza de que isso não é uma brincadeira?- meu coração batia disparado.
-- Absoluta. Tenho aqui em minhas mãos todas as mensalidades quitadas. Como a senhorita sempre foi uma aluna com notas exemplares, não terá problemas em recuperar esses dias perdidos. Posso contar com a sua volta?
Está difícil de acreditar. Se isso for realmente verdade, eu estou imensamente feliz! Tenho uma nova oportunidade de realizar o meu sonho! Até que enfim as coisas começaram a dar certo.
-- Sim senhor reitor! Eu irei retornar as aulas.
-- Seja bem vinda novamente senhorita Lya Malta.
Quendo eu ia desligar o celular, me veio em mente uma pergunta que eu deveria ter feito.
-- Espere senhor!- quase grito.- Quem pagou por essas mensalidades?
-- Me desculpe mas, não tenho autorização para lhe dizer. Quem pagou pediu completo sigilo. E ainda exigiu que eu entrasse em contato pessoalmente com a senhorita.
-- Mas eu gostaria de pelo menos agradecer...
-- Continue sendo uma boa aluna e se forme com honras. Tenho certeza que essa pessoa ficará muito feliz. Tenha uma boa tarde.
Ele desligou o telefone e a minha cabeça já começou a pensar em quem poderia ter feito isso. Pagar todas as mensalidades até o final do curso, é muito dinheiro! Olho para o relógio e não tenho mais tempo para isso, preciso buscar a Bia.
Como hoje eu começaria a trabalhar, meu combinado com ela é que ela teria que ficar em casa sozinha até que eu voltasse de madrugada. A casa deveria ficar trancada e em hipótese alguma ela deveria abrir a porta para alguém. Dona Maria até se ofereceu para ficar com a Bia mas eu não quis incomodar. Ela já nos ajudou demais. Está na hora de nos virarmos sozinhas.
O restante do dia passou bem rápido. Termino de me arrumar para o novo trabalho. Já deixei a Bia de banho tomado e já jantamos. Ela agora está na sala assistindo seus desenhos.
Vesti uma roupa um pouco mais larga que não chame a atenção. Eu tenho plena consciência de que a boate não é o melhor lugar para trabalhar mas é o que eu tenho no momento.
Me despeço de Bia e lhe dou mil e uma recomendações. Me dói ter que deixá-la sozinha mas não tenho outra opção.
Pego o ônibus e vou para a boate. Estou muito feliz por poder voltar a estudar. Espero que dê tudo certo. Já sofri demais nesses últimos dias e só quero um pouco de paz.
Pensei durante todo o dia em quem poderia ter pagado pelas minhas mensalidades e um único nome veio em minha cabeça. Como o ônibus ainda vai demorar para parar, resolvo ligar para agradecer. No terceiro toque ele me atende.
-- Lya? Aconteceu alguma coisa? Não esperava pela sua ligação.
-- Oi. Eu só liguei para te agradecer. Você não faz ideia do que fez por mim! Eu serei grata por toda a minha vida e um dia pode ter certeza de que irei retribuir tudo isso que fez por mim.
-- Desculpe Lya mas não estou entendendo...
-- Só você faria algo assim por mim! Eu sempre vou te agradecer. Você me deu a oportunidade de retomar o meu sonho. Amanhã mesmo eu já volto para a faculdade.
-- Mas do que você está falando?
-- Das minhas mensalidades. Você pagou por elas Thomas! O reitor me ligou e disse que eu poderia voltar a estudar!
-- Olha Lya, está havendo um engano aqui. Se eu tivesse todo esse dinheiro em mãos, pode ter certeza de que eu jamais hesitaria em pagar para você voltar. Eu sei o quanto você sonha em ser uma advogada e foi a maior injustiça terem cancelado a sua bolsa. Como o meu pai gosta de deixar bem claro, quem tem dinheiro aqui é ele e não eu.
-- Então não foi você que pagou?- me sinto perdida.
-- Desculpa querida, mas não fui eu.
-- Mas... Se não foi você... Quem mais faria isso por mim?
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A Redenção de Gabriel
RomanceUm grave acidente de carro tira a vida das pessoas que Lya mais amava, a única sobrevivente é sua irmã de cinco anos que ficou paraplégica. Lya ganha uma bolsa de estudos na maior faculdade de Direito do país. Ela é uma garota decidida e responsável...