22. Gabriel Miller

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Passei as últimas quatro horas fazendo uma das coisas que mais gosto: jogando futebol! Estou morto de cansaço. Agora estou indo para casa tomar um bom banho para ir fazer outra coisa que mais gosto: transar com a Carla! Jogar bola e transar, essa sim é a vida que escolhi para mim.

Que saudade do corpo da minha loira. Essa mulher me deixa completamente louco. Outro dia me mandou algumas fotos nua, tive que me consolar no banheiro como um garoto de quinze anos. Mas hoje ela me paga, pode ter certeza.

Dirijo pelas ruas desertas da cidade. Estou louco para chegar em casa logo. Só espero que meus pais não estejam presentes, não quero conversar com eles tão cedo.

Passo por uma rua um quarteirão acima do campo de futebol e vejo uma movimentação estranha. Desligo o farol e aproximo devagar. Quase surto quando vejo dois caras tentando se aproveitar de uma garota. Isso é muita covardia.

Ligo o farol e acelero. Jogo o carro para cima deles na intenção de atropelá-los e desço pronto para brigar. Os dois caras caem no chão mas, logo um deles se levanta e sai correndo. Covarde! Levanto o outro e dou um soco no seu rosto e um chute em seu estômago. Ele revida com outro soco e sinto o sangue escorrer pelo meu rosto.

Antes que eu acerte o cara novamente, ele sai correndo me deixando sozinho com a garota. Me viro para lhe ajudar e meu sangue ferve quando olho e vejo que é a Lya. Meu coração falha uma batida quando vejo seu estado. Ninguém toca nela!

Me abaixo rapidamente para tentar cuidar dela.

--Meu bem, o que fizeram com você?

A levanto com cuidado. Ela está acordada, mas está em choque pelo que aconteceu. Suas roupas estão rasgadas e sujas de sangue, ela está machucada.

-- Você quer que eu te leve ao hospital? Eles chegaram a fazer algo com você?

Tento me controlar para não assustar ela. Olho para as suas pernas sujas de sangue. Minha vontade é de gritar, correr atrás daqueles caras e matar eles lentamente. Sinto um ódio tão grande dentro de mim que estou a ponto de explodir.

-- E-eu estou bem. Só quero ir para casa... Tenho que levar sorvete de flocos.- ela diz sem me olhar.

-- Eu vou cuidar de você princesa.

-- Está tudo bem Gabriel. Eu consigo ir para casa. Só preciso de uma camisa emprestada.

Ela tenta se afastar. Vejo que ela não está bem mas está tentando se fazer de forte.

-- Para Lya! Eu estou aqui com com você. Não vai te acontecer mais nada. Eu vou proteger você!

Ela finalmente me olha nos olhos e eu consigo ver a dor que há dentro deles. Me sinto o homem mais impotente do mundo por não ter estado com ela e não a ter  protegido como deveria. Ela me abraça forte e agarra minha camisa como se tivesse medo que eu fosse embora. Nesse momento ela se permite chorar e mostrar toda dor guardada dentro do seu peito.

-- Eu gritei! Eu tentei Gabriel! Eu tentei! Eu mandei eles pararem, eles não pararam. Eles tocaram em mim Gabriel, estou com nojo... Doeu tanto! Eu quero morrer...

-- Calma princesa. Eu nunca mais vou sair de perto de você, eu prometo. Ninguém vai tocar em você de novo. Me perdoa por ter te deixado sozinha... Me perdoa princesa...

Não consigo me segurar e choro junto com ela. Eu nunca senti uma dor tão grande em toda a minha vida. Eu daria tudo o que eu tenho para tirar a dor a que Lya deve estar sentindo agora.

-- Eu preciso ir para casa Gabriel.- ela diz com a voz embargada.

-- Tudo bem se quiser ir a outro lugar. Eu posso passar a noite com você.

-- Eu preciso buscar a Bia.

-- Bia?

-- A minha irmã. Ela queria sorvete. Ela gosta de flocos. Eu não vou levar sorvete hoje.

Ela começa a chorar novamente e eu não sei o que fazer a não ser abraçá-la. Eu não sabia que Lya tem uma irmã, na verdade eu não sei quase nada sobre sua vida.

-- Ei, está tudo bem. Outro dia nós levamos sorvete para ela. Nós vamos cuidar de você agora. Vamos ao hospital e a polícia.

-- A Bia. Tem que cuidar da Bia... Pede a dona Maria para cuidar da Bia...

Ela me entrega o celular dela e eu entendo que preciso pedir essa Maria para cuidar da Bia. Faço a ligação e a senhora se mostra bastante prestativa mas eu não entro em detalhes só digo que logo passaremos para buscar a Bia.

Pego uma camisa e uma bermuda que tinha no porta mala do carro e visto em Lya. Ela está em estado de choque e eu tento ajudá-la como posso. Fomos ao hospital e a delegacia. Ela fez exames, tomou medicações e deu alguns depoimentos. Não foi um processo fácil para ela e eu fiz o que pude para apoiá-la nesse momento tão difícil. Só de pensar no número exorbitante de mulheres que passam por isso todos os dias me dá uma revolta inigualável.

Terminados os assuntos, ela me passa seu endereço, eu coloco no GPS e seguimos para sua casa. Ela está tão triste e abatida que eu só tenho vontade de abraçá-la e protegê-la.

-- Obrigada.

-- Você não tem que me agradecer. Eu vou cuidar de você de agora em diante Lya. Você vai estar segura. Já estamos chegando em sua casa.

-- Você deve estar cansado.

-- Não se preocupe. Eu estou bem.

-- Seu celular tocou a noite toda e você não atendeu. Alguém deve estar preocupado.

-- Ei, não se preocupe. O foco aqui é você. Chegamos.

-- Eu sei que não tenho o direito e você não precisa aceitar. Você deve ter algum compromisso é claro...

-- Pode dizer Lya!- a encorajo.

-- Eu estou com medo de ficar sozinha. Se você puder ficar eu vou ser eternamente grata. Se não puder eu vou entender.

Vejo que ela está muito sem graça e o quanto foi difícil para ela fazer o pedido. Ela mal consegue olhar em meus olhos e me sinto mal por isso.

-- Ei princesa, eu faço tudo por você. Não se preocupe, eu não tenho compromisso algum. Eu prometi que vou cuidar de você e vou cumprir. Eu sempre vou estar presente quando você precisar.

-- Obrigada por tudo. Vamos na casa da dona Maria pegar a Bia.

Ela desce do carro e eu a sigo. Paramos em frente a uma casa bem humilde e ela bate na porta. Logo em seguida uma senhora sorridente vestida com uma camisola florida aparece na porta.

-- Eu sabia! O Senhor ouviu minhas preces! Finalmente você arrumou um namorado! Eu e Bia já imaginávamos que você só se atrasaria assim se tivesse arranjado alguém. Bia nem quis dormir.

-- Tem razão dona Maria.- vejo Lya colocar um sorriso falso no rosto.- Finalmente encontrei alguém para ser meu namorado. Ele não é lindo?

Ela aponta para mim e logo eu entendo a situação. Lya acabou de enfrentar a pior situação na vida de uma mulher e mesmo assim ela não quer preocupar ninguém.  Vejo ela se fazer de forte para não preocupar quem ela ama. Olho de Lya para a senhora parada na porta.

-- Boa noite. Eu sou Gabriel Miller, namorado da Lya.

-- Então você é o namorado da minha irmã? É por isso que ela solta os cabelos todo dia de manhã?

Olho em direção a porta e vejo uma linda garotinha em uma cadeira de rodas.

A Redenção de GabrielOnde histórias criam vida. Descubra agora