A Redenção de Gabriel

12. Lya Malta

O fim de semana passou tão rápido que quase não fiz nada. No sábado trabalhei até tarde por causa do movimento intenso mas, foi bom, com isso eu acabei recebendo horas extras. Com esse dinheiro eu pude levar a Bia ao cinema.

Há muito tempo ela havia me pedido para levá-la porém, o dinheiro nunca sobrava. Finalmente ontem nós tivemos a oportunidade. Ela ficou encantada com o filme e vê-la feliz me trouxe uma alegria imensa. O única coisa que me deixou triste foi o fato de que o acesso para cadeirantes era muito limitado. Como sempre tivemos que nos virar.

Acordei com o humor ótimo apesar de ser segunda feira. Amanhã e na quinta, a Bia começará as sessões de fisioterapia e isso era uma grande esperança para nós. Com o tratamento certo, há uma pequena possibilidade de Bia voltar a andar. É pequena mas é uma possibilidade.

Gabriel pode ser um babaca da pior espécie mas, seu dinheiro tem nos ajudado muito. Na verdade minha convivência com ele tem melhorado a cada dia. Já começo a pensar que talvez ele não seja tão babaca assim...

Hoje é a apresentação do nosso trabalho e eu espero do fundo do coração que ele tenha estudado a sua parte. Estou confiando nele. Se bem que, se ele não fizer eu não precisarei ir a sua festa. Talvez não seja tão ruim assim.

Deixo Bia na escola e vou apressada para a faculdade. Hoje eu acabei me atrasando um pouco por causa do ônibus e me assustei ao ver que Gabriel ainda me esperava na porta.

-- Oi! Bom dia. Ainda me esperando? Podia ter entrado para não se atrasar também!- digo o cumprimentando.

-- Meu dia não começa enquanto eu não vejo você, Lya Malta. Vamos?

Fico surpresa com sua fala e não sei o que responder. Seguimos em silêncio para a sala de aula onde todos os alunos já estavam presentes. Nos sentamos em nossos lugares e o professor começou a aula.

-- Bom dia alunos! Espero que todos apresentem um bom trabalho hoje. Qual dupla gostaria de começar?

-- Nós gostaríamos professor!

Gabriel diz e se levanta. Fico espantada com sua reação, nunca o vi tão empenhado em uma apresentação de trabalhos. Demoro alguns segundos para me levantar. A insegurança começa a me atacar. Espero que ele tenha feito sua parte, apostei todas as minhas fichas nele.

Toda a sala está concentrada em nós. Todos querem ver no que vai dar, a nerd e o popular juntos. Respiro fundo e tento me concentrar. Gabriel começa falando sua parte e eu me surpreendo novamente. Sua oratória e postura estão impecáveis. Ele demonstra total domínio sobre o assunto apresentado.

Nem em cem anos eu poderia imaginar que Gabriel Miller teria a capacidade de apresentar um trabalho desta maneira. Até o professor parece estar surpreso. Nesse momento ele me lembrou muito do seu pai, o famoso juiz Alan Miller.

Não consigo tirar os meus olhos dele e por um instante quase perco a minha hora de apresentar. Me dirijo para as pessoas presentes e tento ser o mais clara possível. Sinto o olhar de Gabriel sobre mim e isso acaba me deixando um pouco nervosa.

O tempo inteiro Carla me olhou com desprezo mas, já estou mais do que acostumada, somos inimigas declaradas. Terminada a apresentação ouvimos os aplausos dos alunos e o professor se dirige a nós.

-- Magnífico. Fizeram um excelente trabalho. Nota máxima para os dois. Sugiro que continuem esse dupla até o final do curso, sincronismo perfeito. Parabéns. Próximo dupla, Carla e Francine.

Fomos até nossa mesa e nos sentamos. Até agora eu estava surpresa com o desenvolvimento de Gabriel. De tapado ele só tem a cara.

-- Eu vi você babando em mim. - ele diz no meu ouvido.