35. Gabriel Miller

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Termino o meu banho e espero o horário certo para descer para o jantar. A noite está fria e silenciosa. Sei que a conversa que terei com os meus pais não será fácil e talvez seja esse o motivo de estar sentindo um aperto no peito.

Tento me acalmar e pensar em coisas boas. Não sei o que acontece mas, a imagem de Lya é a única coisa capaz de me tranquilizar. Ela se tornou alguém muito especial para mim. A mensagem enviada por ela, me trouxe mais ânimo e motivação.

Hoje eu só a vi na faculdade. Quase não tivemos tempo para conversar e não pude levá-la em casa. Os treinos com o time tem tomado muito o meu tempo. Sinto falta de estar com ela e com a Bia.

Jogar futebol é algo que eu realmente amo e poderia fazer pelo resto da minha vida. No início meus pais me apoiaram bastante. Principalmente minha mãe em época de campanha eleitoral. Meu talento no esporte sempre trouxe mais visibilidade a nossa família. Mas logo que entrei para a faculdade, meus pais deixaram de ir aos jogos e me incentivaram a deixar esse hobby de lado para focar nos estudos.

Olho para o relógio e vejo que já são dezenove horas. É melhor eu descer para a sala de jantar. Meus pais são extremamente pontuais em quaisquer compromissos e não toleram atrasos. Assim que desço as escadas os vejo já sentados a mesa.

-- Boa noite.- digo e me sento.

-- Boa noite Gabriel.- meu pai responde.

-- Boa noite querido. Confesso que estou surpresa com esse jantar. Faz tempo que não jantamos em família.- diz minha mãe.

A empregada começa a nos servir e meus pais vão conversando sobre alguns acontecimentos de amigos em comum que eles tem. Decido me manter calado até ter a minha oportunidade de falar.

-- Este jantar está maravilhoso. Depois de tantas refeições em restaurantes eu comecei a sentir falta da comida caseira. Talvez devêssemos marcar um jantar com os Alcântara, quem sabe já não marcamos logo esse noivado.- diz minha mãe.

-- Creio que isso não seja possível mãe.- decido que já é hora de falar.

-- Como não? Estão tendo muito trabalho na faculdade?- ela pergunta.

-- Eu e Carla decidimos terminar a nossa relação. Não somos mais nada além de conhecidos.- falo logo.

-- Você só pode estar ficando louco! Que decisão ridícula é essa?- pergunta meu pai.

-- Pai, o meu relacionamento com a Carla não existe já faz tempo. Nós nos gostamos por um tempo mas agora acabou. O que nós sentimos um pelo outro não é tão forte a ponto de nos casarmos.

-- Você deveria ter conversado conosco antes de tomar qualquer decisão. Esse casamento já estava planejando quando vocês nasceram, você não tem qualquer direito de romper com este acordo.- minha mãe está a um passo de gritar.

-- Foram vocês que decidiram isso. Decidiram que eu deveria me casar para beneficiar a família, olha que ideia mais antiquada! Eu já gostei muito da Carla, já fui louco por ela mas, acabou. Eu não vou passar a minha vida inteira ao lado de alguém que eu não amo!

-- Deixa de ser infantil Gabriel! A vida não é um conto de fadas. Em famílias tradicionais como a nossa, casamentos são acordos entre famílias. Você sempre soube disso.- diz meu pai.

-- Sim, eu sempre soube, mas é algo que eu não concordo. Em algum momento vocês já pensaram em mim? Já se perguntaram o que eu realmente queria?

-- Você é nosso filho. Nessa casa existem regras. Eu cumpri as regras assim como o seu avô e o seu bisavô. Somos uma das maiores famílias desse país.- meu pai fala sem paciência.

A Redenção de GabrielOnde histórias criam vida. Descubra agora