A Redenção de Gabriel

39. Lya Malta

É difícil tirar o sorriso do meu rosto. Desde que disse sim para o Gabriel, eu me sinto outra pessoa. Pareço mais aquelas colegiais apaixonadas. Ele é tão lindo que é difícil acreditar que ele esteja comigo. Quanta bobagem estou pensando!

O nosso fim de semana foi maravilhoso. No domingo fizemos juntos o almoço e passamos a tarde toda vendo alguns filmes. Gabriel tocou algumas músicas no seu violão e até dona Maria veio para nossa casa para vê-lo cantar.

A semana começou bem. Nunca me senti tão leve em uma segunda feira. Deixamos Bia na escola e em nenhum momento ela parava de falar sobre a atividade da escola no próximo sábado. Paramos na porta da faculdade e antes de descer ele segura a minha mão.

-- Espero que você não sinta vergonha de me apresentar como o seu namorado.

-- Não terei. Na verdade, vou exibir você como um troféu. Vou esfregar você na cara daquelas vadias.

-- É assim que se fala amor! Mostra para todo mundo que eu sou só seu!

Descemos do carro rindo e isso chamou a atenção das pessoas que estavam próximas. Sem me avisar, Gabriel me puxa e me beija na frente de todos.

-- Você é louco?

-- Sou, por você!

-- Que frase mais clichê!

-- E existe casal mais clichê do que nós? Meu amor por você me faz ficar idiota. Olha como nós assustamos essas pessoas! Logo, logo nosso nome vai estar na boca de todo mundo, seremos a notícia do momento. - ele me puxa em direção a entrada.- Vamos, tenho que te beijar na frente de outras pessoas!

Ele sai me puxando pela faculdade e sempre que via algum grupo de pessoas, ele me beijava. Definitivamente ele tem alguns parafusos a menos.

Entramos na sala de aula de mãos dadas e os seus amigos estavam reunidos em um canto. Passamos por eles e Gabriel os cumprimentou. Eles nem disfarçaram o desgosto em nos ver.

Assim que sento em meu lugar, sinto uma dor incômoda na barriga. Droga, maldita cólica. Odeio ser mulher nessas horas. Tinha até me esquecido que mestruaria por esses dias.

-- O que foi princesa?- Gabriel pergunta ao me ver com a mão na barriga.

-- Não foi nada. Só vou ao banheiro. Não faça nenhuma gracinha na minha ausência.

Caminho em direção ao banheiro e todos os olhares são direcionados a mim. Eu nunca gostei de chamar muita atenção. Quando vou entrar no banheiro, ouço o nome de Gabriel e decido parar na porta para ouvir.

-- Gabriel só pode estar aprontando alguma coisa. Ele nunca ia ficar com uma garota daquelas.- diz uma das mulheres.

-- Ele é bem exigente quando o assunto é mulher. Eu já fui para a cama com ele. Ele é muito safado, não existe ninguém como ele. Essa tal de Lya parece ser uma mosca morta.

-- Se ele estiver mesmo namorando com ela, pode apostar que ela vai ser a maior chifruda da história.

-- Ela é muito iludida de achar que ele trocaria a Carla, linda, rica e poderosa por uma quase sem teto.

-- Ela deve até feder. Não sei se essas pessoas pobres fazem a higiene corretamente. Minha mãe é médica e trabalha no hospital público, ela morre de nojo de encostar nessas pessoas.

-- Deve ter algum motivo para ele estar com ela. Gabriel Miller jamais namoraria com alguém assim.

Decido não escutar mais e saio em direção ao outro banheiro. Eu poderia entrar lá e debater com todas essas garotas mas, quais argumentos eu usaria?

Eu sou apenas uma bolsista, pobre e sem graça. A ex é a garota mais rica e linda da cidade. Ele é o cara mais cobiçado, além de lindo é rico e atleta. Caramba, agora eu estou me sentindo mal. Que banho de água fria eu levei!

Eu já imaginava que as pessoas não reagiriam bem e, achei que eu estaria preparada para isso. Mas dói. Ouvir todas essas opiniões dói. Não quero me diminuir, eu sei do meu valor. Se Gabriel está comigo é porque ele sente algo.

Respiro fundo e volto para a sala depois de usar o banheiro. O professor já havia iniciado a aula. Sento ao lado do meu namorado e ele me olha preocupado.

-- Você demorou. Tem certeza de que está bem?

-- É só um pouco de cólica. Já que passa.

Ele apoia sua mão na minha coxa  num gesto de apoio. Assistimos as primeiras aulas e logo chega o intervalo. Gabriel me diz para ir para o pátio e esperá-lo.

Sento na mesa de sempre e me sinto uma extraterrestre de tanto que as pessoas me olham. Depois de um tempo Gabriel chega e se senta ao meu lado.

-- Para você. Mulheres gostam de comer quando estão com cólica e esse é o remédio para dor.

Ele me entrega duas barras de chocolate, uma cartela de remédio e uma garrafinha de água. Ele é muito atencioso.

-- Obrigada, você acertou em cheio.

-- Essas pessoas estão nos olhando demais. Você deve estar incomodada com isso.- ele diz avaliando os olhares sobre nós.

-- Tudo bem. Já imaginava que aconteceria.

Neste instante, Thomas chega e se senta de frente para nós.

-- Perdeu as primeiras aulas. Estava no tribunal de novo?- pergunto para ele.

-- Estava. Mas parece que não foi só as aulas que eu perdi. Todos estão falando de vocês. O que aconteceu?

-- Estamos finalmente namorando.- Gabriel responde.

-- Isso é sério Lya?

-- É sim, estamos juntos. Gabriel está morando lá em casa por um tempo.

-- Eu não gosto nem um pouco disso. Não acho que irá sair algo bom de tudo isso. Mas se esta é sua escolha eu aceito. - diz Thomas com certo desprezo.

-- Ah, você só está com raiva que ela te deu um fora. Ela é a minha garota.

-- Gabriel!- o xingo pela infantilidade.

-- Eu conheço você muito bem. Se você fizer qualquer coisa com ela, eu vou quebrar sua cara.- Thomas diz sério.

-- Calma gente! Vocês sempre foram amigos, não se estranhem por isso! Como vai o namoro Thomas?- tento mudar de assunto.

-- Estamos bem. Semana passada jantamos com os nossos pais.

-- Olha só! Então é sério mesmo! É uma pena ela não gostar de mim. Eu gostaria de ser amiga da namorada do meu melhor amigo.

-- Ela só não conhece você direito, Lya. Você é uma garota incrível, é impossível não gostar de você.

-- Estou sensível! Não me faça chorar!

Conversamos por um tempo e depois voltamos as aulas. Gabriel tentou me levar até os seus amigos algumas vezes mas, ainda não estou pronta. Nós nunca nos demos bem e além do mais a Carla está no meio deles. Ela sempre dirige seu olhar a nós e tenho a impressão que ela quer nos matar.

No final da aula, Gabriel me fez assistir ao seu treino de futebol. Todas as vezes que ele fazia um gol ele vinha até mim e me dava um beijo. Realmente parecemos dois adolescentes. Quase fui morta pelas garotas seminuas que vieram só para ver o craque jogar. Eu mereço!

Depois de um longo dia cheio de emoções, finalmente estamos em casa. Gabriel tentou preparar algo para comermos e eu lavei as vasilhas. Nos deitamos abraçados na minha cama no final da noite.

-- Sua cólica está melhor?

-- Sim, graças aquele chocolate super caro. Espero ganhá-lo mais vezes. Estou tendo muito trabalho por namorar o cara mais lindo da faculdade.

-- Mais lindo e sortudo por ter você como namorada! Bons sonhos, princesa!