A Redenção de Gabriel

26. Carla Alcântara

Visualizo a mensagem de Gabriel dizendo que está vindo a minha casa e decido não responder. Se ele soubesse a raiva que estou sentindo dele, ele não passaria tão cedo na minha frente.

De todos esses anos que estamos juntos, eu nunca me importei que ele fosse a festas, futebol e até mesmo se encontrasse com outras mulheres desde que, seus compromissos comigo fossem honrados. Ele nem se deu ao trabalho de atender as minhas dezenas de ligações.

Ele nunca deixou de comparecer aos nossos encontros. Eu o esperei por toda a noite. Eu me produzi toda para estar com ele. Fiquei em choque quando ele me disse que não poderia vir porque estava com aquela vadia da Lya. Tem noção do ódio que senti? Eu só não quebrei todos os objetos do meu quarto porque meus pais iriam me fazer perguntas depois.

Não sei o que está acontecendo. De repente eu estou ficando em segundo lugar e esse lixo está sempre em primeiro. Não posso aceitar isso. Uma pessoa que não tem nem condições de pagar a própria faculdade não deveria nem andar entre nós.

Daqui a alguns meses será o Congresso de Direito. Meus pais acreditam que sou eu quem irá fazer o discurso de abertura. Essa garota não vai tomar o meu lugar. Eu que farei aquele discurso, nem que para isso eu cometa uma loucura.

A empregada me avisa que Gabriel está na sala me esperando. Ordeno que ela o mande subir ao meu quarto. Me ajeito olhando no espelho e mantenho a expressão séria para que ele veja que estou mal e não vou perdoá-lo.

Ele demora alguns minutos para subir e suponho que ele tenha conversado com os meus pais que estão na sala. Assim que ele aparece na porta eu sinto seu perfume enebriante. Gabriel está cada vez mais lindo. Eu nunca vou me cansar de admirá-lo.

-- Você está atrasado. Seu compromisso comigo era ontem a noite.- digo o mais dura possível.

-- Me desculpa loira!- ele entra no quarto e fecha a porta.- Eu sei que falhei com você e vim aqui para me desculpar.- ele se aproxima.

-- Eu me senti muito mal ontem a noite, Gabriel! Eu fiquei a noite toda te esperando e você não apareceu!

-- Eu sei que fiz errado. Mas eu te expliquei o que aconteceu. A Lya...

-- Não fale o nome dessa garota na minha frente!- me descontrolo.- Eu não estou nem aí para o que aconteceu com ela. Você é o meu namorado! O seu compromisso é comigo, caramba!

-- Ei! Calma! Não precisa gritar. Já que os seus pais vem aqui saber o que está acontecendo.- ele passa a mão pelos cabelos aparentemente nervoso.- Eu já pedi desculpas pelo que aconteceu. A Lya não teve culpa de nada! Aconteceu uma fatalidade com ela. Ela precisava de mim ontem a noite.

-- Para de defender essa piranha Gabriel! Quem precisava de você era eu! Mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer. Ela mora em um bairro pobre e violento! Não tem um carro sequer. Claro que um dia ela seria atacada na rua...

-- Chega Carla!- ele grita e eu me assusto.- Você tem noção das coisas que está falando? Você está justificando o fato dela ter sido atacada na rua!

-- Não estou justificando! Se ela sabe que o lugar é perigoso, ela não deveria ter passado por lá! Sozinha aquela hora da noite, ela estava praticamente pedindo para ser atacada e olha que nem bonita ela é, imagina se fosse eu ou a Francine...

-- Cala a boca Carla!- ele segura o meu braço com força.- Olha o tanto de merda que você está falando! O que está acontecendo com você? Ela e qualquer outra mulher tem o direito de andar livremente na rua a qualquer horário e do jeito que elas quiserem! Errado são esses caras doentes que fazem mal às mulheres. É difícil de acreditar que você tenha esses pensamentos.