19. Lya Malta

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Ainda não consigo acreditar na grande oportunidade que estou tendo. Parece um sonho! Todos os grandes advogados e juízes estarão presentes nesse Congresso e durante quinze minutos eu terei a oportunidade de expor os meus pensamentos.

Sem dúvida alguma será um dia grandioso. Hoje mesmo eu já começarei a preparar meu discurso. Eu sei que falta um bom tempo mas eu quero que seja tudo perfeito.

Só Deus sabe o quanto estou feliz. Queria tanto que meus pais estivessem presentes para me verem. Mas sei que de alguma forma eles sempre estão próximos de mim. Eles sempre foram meus maiores apoiadores, sempre acreditaram nos meus sonhos por mais loucos que fossem. Se estivessem vivos com certeza eles levariam faixas e cartazes para o meu discurso. Que saudade...

Carla teve um surto quando o reitor nos deu a notícia. Já estava vendo a hora em que ela começaria a quebrar os objetos da sala. Até ameaçou a trocar de faculdade. Essa garota é louca e mimada. Me ofendeu de todas as formas possíveis na frente do reitor. Mas eu estava tão feliz que nem me importei. Esse será o meu momento.

Estou no trabalho servindo as mesas como sempre e não consigo disfarçar o meu sorriso. Quero chegar logo em casa e compartilhar minha alegria com Bia. Talvez eu até leve o sorvete de flocos que ela tanto gosta.

Olho para a entrada e vejo os dois amigos de Gabriel entrar. Caio e Samuel. Dois grandes idiotas. As garotas suspiram quando eles passam por elas. As vezes eu penso que estou dentro de um filme de adolescentes americanos.

Caminho até a mesa deles e assim que me vêem eles param de rir.

-- Boa tarde. Em que posso ajudá-los?- sou o mais educada que consigo.

-- Olha só Caio quem veio nos servir, a professora particular do famoso Gabriel Miller.- diz Samuel.

-- É mesmo. Que grande honra! Nos diga como nosso amigo tem se saído.- diz Caio.

-- Pergunte para o seu amigo, tenho certeza que ele lhes dirá. O que desejam comer ou beber?

-- Humm. Vejo que ele ainda não amansou a fera, Caio. Está mais arisca do que nunca.

-- Que pena. Me diga, Lya, esse é o seu nome não é?- nem me dou ao trabalho de responder.- Abaixa sua bola. Você não é ninguém. Não se ache por estar perto do Gabriel. Você continua sendo uma bolsista que trabalha numa lanchonete. Seu único dever é nos servir calada.

-- Se já acabou de falar senhor, eu gostaria de anotar seus pedidos, afinal eu sou paga para isso.

Tento me segurar para não voar no pescoço deles. Bando de filhinhos de papais metidos. Se eu não precisasse tanto desse emprego... Anoto os pedidos e saio plena como se nada tivesse acontecido. Se eu me deixar abalar por essas infantilidades será ótimo para eles.

Separo os pedidos no balcão e vejo uma pessoa parada na minha frente. Levanto minha cabeça para ver quem é e quando vejo já entendo que meu dia vai piorar.

-- Eu quero que você desista desse discurso.- diz Carla autoritária.

-- E por que eu deveria desistir?

-- Você não é capaz.

-- Não é o que o reitor acha.

-- Ele é um idiota. Você deve ter feito alguma coisa com ele para ele ter te escolhido. Mas estou lhe avisando Lya, desista.

-- Eu não vou desistir Carla. Essa é uma grande oportunidade e eu pretendo agarrá-la com unhas e dentes.

-- Estou lhe avisando para o seu bem. Você não faz ideia de com quem está lidando, garota. Eu vou fazer da sua vida um inferno. Desista! Sou eu quem irá discursar naquele Congresso.

-- Esquece Carla. Eu não tenho medo de pessoas como você. Você é só uma garota mimada com um rostinho bonito que só sabe gastar o dinheiro dos pais. Eu não ligo para você e nem para o que você pode fazer. Agora se me der licença eu tenho que servir seus amiguinhos trouxas.

-- Você vai se arrepender Lya.

A deixo falando sozinha e saio em direção a mesa dos amigos de Gabriel. Coloco tudo rapidamente em cima da mesa e não dou a oportunidade deles falarem nada comigo. Já estou de saco cheio dessa gente.

Aproveito que o movimento deu uma diminuída e resolvo ir para o quarto dos funcionários descansar um pouco.

-- Jéssica, vou fazer uma pausa. Tudo bem se você ficar sozinha?

-- Sem problemas Lya! Se precisar eu te chamo!- ela responde e eu agradeço.

Entro no quarto e fecho a porta e me permito respirar e pensar em tudo que está acontecendo. Meu dia estava tão perfeito, eu estava tão feliz. Como essa gente é mesquinha e maldosa!

Não posso deixar me abater. Não posso permitir que esses sentimentos invadam meu coração. Eu sou mais do que capaz de fazer aquele discurso. Eu estudo com afinco e dedicação; isso é só um resultado do meu esforço. Carla não é nenhuma juíza para determinar o que eu devo ou não fazer.

Essa garota não é nada mais nada menos do que aquelas maçãs lindas por fora e podres por dentro. Me sinto triste por saber que Gabriel é apaixonado por ela. Ela nunca vai fazer ele feliz, afinal é egoísta e só pensa em si mesma.

Ah Gabriel Miller! O que você tem feito comigo? Pouco mais de um mês juntos e você já está bagunçado toda minha vida. Droga! Sinto que estou perdendo o controle de tudo que construí. A vergonha me domina só de lembrar o que eu deixei que ele fizesse hoje cedo.

Onde eu estava com a cabeça? Deixar que ele, logo ele, me tocasse daquela forma tão íntima. Eu devo estar louca ou muito necessitada...

Olho para o lado e lembro de como tudo começou e não consigo conter o riso. Peguei ele e a Francine numa situação muito constrangedora e ele nem se importou. Gabriel não presta mesmo. Como é que eu fui cair na sua armadilha? Sempre me julguei tão esperta e blindada contra esses idiotas... Mas não quer dizer que eu esteja apaixonada, eu só gosto de ficar perto dele e essa proposta de me mostrar sensações novas é tentadora demais para não aceitar.

Olho para o relógio e decido que é hora de voltar. Prometo para mim mesma não deixar que essas pessoas me abalem de novo. Eu sei quem eu sou e qual é o meu valor. Não vou deixar que ninguém me diminua. Posso não ter o dinheiro e as oportunidades que eles têm mas eu tem uma vantagem que eles não têm: "eu trago em mim todos os sonhos do mundo"!

A Redenção de GabrielOnde histórias criam vida. Descubra agora