Ver o sorriso no rosto de Bia vale qualquer esforço e sacrifício. Minha irmã é a minha vida, nunca irei me cansar de dizer isso. Acabei de deixá-la na escola e vejo o quanto ela está alegre e esperançosa com a fisioterapia. Minha irmã é uma graça.
Foi o caminho todo falando sobre sua escola e como ela tem o desejo de praticar esportes. Principalmente depois que assistimos as Paraolimpíadas. Meu papel como irmã/mãe é incentivá-la e mostrar que mesmo em sua atual condição ela pode sim fazer alguns esportes. Ela é incrível e tem progredido muito psicologicamente.
Vejo Gabriel na porta da faculdade e meu rosto queima de vergonha só de lembrar o que fizemos ontem. Não vou mentir fingindo que não gostei, eu só não sei como agir perto dele.
Ontem eu tive a notícia do Congresso então foi fácil fingir que nada aconteceu mas, hoje eu tenho certeza que ele vai querer tocar no assunto. Chego até ele.
-- Não vou matar aula hoje.
Resolvo falar e passar direto. Sei que fui infantil mas assim é melhor para não ser perssuadida de novo. Ele corre atrás de mim e começa a rir.
-- Bom dia para você também, Lya Malta! Como você está? Você está linda hoje. Já disse que eu amo te ver de cabelos soltos?
Ele me puxa pelo braço e me faz parar e ficar de frente para ele.
-- Achei que já tínhamos passado dessa fase de você correr de mim. Já somos bem íntimos, já até chupei...
Bato nele com força antes que ele conclua a frase. Gabriel é louco. Imagina o que seria de mim se alguém escutasse isso.
-- Cala a boca seu imbecil! Ninguém precisa saber da minha vida!
-- Tão linda e delicada! Vou acabar me apaixonando desse jeito. Vamos, nós temos que assistir a aula. Você não vai me fazer matar aula de novo, Lya!- ele fala mais alto chamando a atenção das pessoas e me puxa pelo braço em direção a sala.
-- Idiota!
A manhã passou tranquila sem maiores acontecimentos. Estudei com Gabriel e não deixei que ele tocasse em mim por mais que ele tentasse. Nenhum de seus amigos imbecis se aproximou de mim e agradeci por isso. Thomas não foi a aula e deduzi que ele deve ter ido ao tribunal com o pai.
No trabalho até eu me estranho, estou mais sorridente e comunicativa que antes. Estou feliz e não consigo esconder. Não deixo que as pessoas estraguem meu dia.
No meu intervalo eu busquei Bia na escola e a deixei com dona Maria. Tentei ser o mais rápida possível. Minha irmã me fez prometer que levaria sorvete de flocos para o jantar de novo. Quando é que eu fiquei tão mole assim?
Volto para a lanchonete e estranho ao ver dona Ângela no local. Ela é a dona do Cyber Café mas é extremamente raro ela vir aqui. A cumprimento e volto para o meu trabalho.
Atendo a todos os clientes como normalmente faço mas, sinto o olhar de dona Ângela sobre mim. Sei que tem algo errado. Droga! Isso não vai me abalar. Essa mulher é tão elegante e cheia de si que até me sinto mal perto dela.
As horas passam e nada muda. Continuo fazendo o meu trabalho diante do seu olhar examinador. Tento ao máximo manter a mesma atmosfera que estava antes de sua chegada e isso não é nada fácil.
Chegada as vinte e uma horas, me dirijo para o quarto dos funcionários para pegar minhas coisas. Me lembro que tenho que passar na conveniência e comprar o sorvete de Bia. Assim que passo pela porta, encontro dona Ângela parada.
-- Lya, vamos até a sala da administração, preciso conversar com você.
-- Claro.- a sigo com as pernas trêmulas.
-- Sente-se por favor.- faço o que me pede.- Então Lya, gostaria de agradecer pelo tempo em que você trabalhou aqui conosco na lanchonete. Você foi uma boa funcionária porém, seus serviços não são mais necessários.
-- Por favor dona Ângela... Não faz isso...
Meus olhos se enchem de lágrimas, meu mundo desaba ali na minha frente. Eu não posso perder o emprego. Bia depende totalmente de mim. Seus remédios são caros, sem falar em alimentação, água, luz... Senhor! O que eu vou fazer?
-- Observei seu trabalho durante um tempo e eu realmente não tenho nada do que reclamar porém alguns clientes se queixaram do seu atendimento e infelizmente eu não posso deixar isso passar. Aqui está todo o seu acerto e a partir de amanhã a Cyber Café não contará mais com o seu trabalho. Pode se retirar.
Ela nem me dá a oportunidade de responder. A única coisa que posso fazer é me levantar e sair. Ela é a dona, é ela quem manda aqui. Não acredito que isso está acontecendo comigo.
Saio da sala me sentindo um lixo. O que vai ser de Bia agora? De manhã ela estava tão feliz com o desenvolvimento da fisioterapia, eu prefiro mil vezes morrer do que parar de pagar suas sessões. Bom, eu ainda tenho o seguro desemprego por um tempo, terei que me virar.
É impossível controlar as lágrimas. Poucas vezes chorei tanto assim. Malditos filhinhos de papai. Se eles queriam me destruir estão de parabéns. Conseguiram!
O pior é que não posso voltar para casa assim. Não posso deixar Bia me ver chorar desse jeito. Ela já se sente culpada por tanta coisa... Vou por um caminho mais longo para tentar me acalmar.
Eu só queria que meus pais estivessem comigo. Eu não sou uma garota forte, eu não consigo enfrentar tudo isso sozinha. Eu sinto tanta falta de um abraço apertado, de um sorriso acolhedor...
Vou caminhando até em casa e sinto um vento frio cortar meu rosto e logo me arrependo de ter pegado esse caminho. Tenho a impressão de estar sendo seguida e começo a andar mais rápido.
Ao virar a esquina consigo olhar para trás e ver dois caras atrás de mim. Um sentimento de medo nunca sentido antes me domina. Rezo ao céus para que nada de mau me aconteça. Já está tarde e não há movimento na rua. Minha ideia de acalmar meu coração para chegar bem em casa acabou se tornando uma péssima escolha.
-- Calma aí gatinha! Não precisa correr da gente.- diz um deles.
-- Não precisa ter medo. Vamos brincar um pouco e no fim você vai até pedir por mais.
Sinto eles cada vez mais perto e quando me preparo para correr um deles me puxa com força e bate meu corpo contra a parede.
-- Eita! Já vi que você é daquelas que se fazem de difíceis. Nos obrigam a abrir suas pernas a força mas no final gozam junto com a gente.
-- Me solta seu nojento.- tento me soltar.
-- Você é gostosinha. Dá pra fazer muita coisa.- o outro diz.
Um deles puxa minha blusa até que ela se rasga enquanto o outro segura meus braços. Sinto os meus seios serem apertados. Tento me debater e gritar o máximo que posso. Ninguém me ouve, ninguém aparece.
Sinto minha calça ser abaixada e as mãos nojentas daqueles homens passando pelo meu corpo. Consigo morder o braço de um deles e logo sinto um tapa ser desferido em meu rosto. Sinto um soco na barriga e uma dor aguda. Eles não param de me tocar. Estou perdendo as forças, não consigo mais resistir...
Vejo um deles abaixar a própria calça enquanto o outro segura forte as minhas pernas.Um deles invade a minha intimidade me causando a pior dor que já senti. Um grito de dor e desespero sai da minha garganta. Deixo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto e a única coisa que eu queria neste momento era estar morta. Vejo uma luz forte vindo em minha direção e os homens me soltam.
-- Se vocês encostarem mais um dedo nela eu vou acabar com a vida de vocês.
Essa voz...
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A Redenção de Gabriel
RomanceUm grave acidente de carro tira a vida das pessoas que Lya mais amava, a única sobrevivente é sua irmã de cinco anos que ficou paraplégica. Lya ganha uma bolsa de estudos na maior faculdade de Direito do país. Ela é uma garota decidida e responsável...