Me levanto muito mais cedo do que tenho costume. Faço minha higiene matinal e arrumo as minhas coisas. Infelizmente não tenho tempo de comer nada mas, isso não é um problema já que posso comer algo na faculdade.
Entro no carro e a primeira coisa que vejo é o chaveiro que Lya me deu. Eu realmente gostei dele e saber que foi feito por ela o torna ainda mais especial. Ele, junto com o meu violão, são os melhores presentes que já ganhei.
Lya e Bia moram praticamente do outro lado da cidade. Ontem, enquanto eu brincava com a Bia ela acabou me contando da rotina delas. Acordam quase de madrugada para pegar um ônibus lotado, Lya a deixa na escola e segue a pé para a faculdade.
A vida delas nunca foi fácil. Eu tenho três carros que nunca fiz nada para tê-los. Quando analiso a vida delas, eu vejo o quanto a minha vida é fútil. Eu nunca fiz nada para ter as coisas que eu tenho. Eu nunca precisei batalhar para conseguir nada. Tudo sempre veio muito fácil nas minhas mãos.
Eu não sinto pena de Lya, o sentimento que tenho por ela é de admiração. Tão nova e já enfrentou tanta coisa. Apesar de tudo, ela nunca deixou de sonhar, de correr atrás do que a faz feliz. Enquanto eu sou só um garoto assustado com medo de enfrentar os pais. Patético.
Não culpo Lya por nunca ter gostado de mim. No início ela não queria se aproximar de mim e confesso que se não fosse aquela aposta idiota ou minhas péssimas notas, eu nunca teria me aproximado dela. Somos de mundos completamente diferentes.
Estaciono na porta e já vejo as duas vindo em minha direção. Desço para ajudá-las e Bia me recebe com um sorriso lindo.
-- Você veio mesmo!
-- Claro que eu vim. Bom dia meninas.
-- Meus amigos vão ficar loucos quando te verem. Ainda bem que você vai me levar, se não ninguém ia acreditar que você é namorado da minha irmã.
Bia está muito empolgada, é até engraçado de ver. Me volto para Lya que continua calada. Isso me faz lembrar da conversa que tivemos ontem e que me tirou o sono durante a madrugada.
Me aproximo dela e lhe dou um selinho. Sei que temos muito o que conversar ainda mas, agora não é o momento.
Retiro Bia da cadeira de rodas e a coloco sentada no banco de trás. Dobro sua cadeira e coloco no porta malas. Lya me olha silenciosamente e já sinto falta de ouvir sua voz.
Abro a porta do passageiro para ela e paro para observar o quanto ela é linda. Seus cabelos estão soltos e o cumprimento está quase chegando na cintura. Ela usa uma blusa regata branca e uma calça jeans escura. É tão raro vê-la sem suas roupas extremamente largas que fiquei hipnotizado.
Coloco o endereço da escola no GPS e seguimos para o nosso destino. Eu e Lya permanecemos em silêncio enquanto Bia não para de falar.
Eu quero conversar com Lya mas não sei o que dizer. Fui um completo idiota ontem dando aquele ataque de ciúmes. Não sei o que aconteceu comigo. Eu queria matar o Thomas quando o vi tão perto dela. Eu nunca havia sentido isso antes. Já vi Carla com outros homens e já até incluímos o Samuel em uma de nossas transas e eu nunca me importei. Por que eu me importo tanto com a Lya? Por que eu não quero que ninguém a toque?
-- Eu gosto de ir para a escola de carro. É mais rápido e ninguém briga com a gente.- Bia fala e chama minha atenção.
-- E por que alguém briga com vocês?- pergunto.
-- O elevador demora a subir e as pessoas estão atrasadas.- ela responde.
Olho para Lya sem entender o que Bia quer dizer. Ela me olha de volta e dá um suspiro cansado antes de me responder.
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A Redenção de Gabriel
RomanceUm grave acidente de carro tira a vida das pessoas que Lya mais amava, a única sobrevivente é sua irmã de cinco anos que ficou paraplégica. Lya ganha uma bolsa de estudos na maior faculdade de Direito do país. Ela é uma garota decidida e responsável...