37. Caleidoscópio

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Os olhos multicolores pousaram em meu rosto e desceram para o meu corpo, fazendo o meu coração pular ainda mais. Será que ele me achou bonita?

Bom, eu o achei muito bonito de camisa social, calça caqui, cabelo penteado e relógio prata no pulso. Ele ia sair? Abri a boca para perguntar isso, mas fui cortada.

— Está atrasada — ele veio para o lado de fora, trazendo consigo o cheiro desnorteante de seu perfume.

— Você é que está adiantad... Ei! — Ian pegou o meu pulso e começou a me carregar. — O que está fazendo?

Sem responder, Ian me levou até a porta do passageiro, abriu e indicou para que eu entrasse.

Fiquei parada olhando para ele.

— Não vou entrar — cruzei os braços.

— É sério, estamos atrasados — ele insistiu.

Encarei seu rosto bonito com curiosidade. Seja lá no que Ian estava me metendo, a minha vontade de descobrir era maior que a vontade de desafiá-lo.

— Só vou entrar porque eu quero — mudei o cabelo de lado, erguendo o queixo, e entrei.

Assim que Ian entrou e colocou o próprio cinto, perguntei:

— Para onde está me levando?

Ian ligou o carro e manobrou para sair, depois de uma olhada rápida no retrovisor, ele olhou para mim. Novamente seus olhos estavam me analisando. Afinal, ele estava me achando bonita ou não?

— Pelo que sei, você tem horário marcado com Isa — disse apenas e voltou sua atenção totalmente para o trânsito, dirigindo velozmente, se achando o próprio Dominic Toretto.

Eu estava meio nervosa, pois ainda não sabia ao certo o que lhe dizer. Por isso liguei o rádio do carro. E para o meu completo horror/euforia, a música que acabou de começar naquela estação de rádio foi nada menos que Yellow, a música que Ian e eu cantamos juntos no Clube.

Foi instantâneo: nos entreolhamos.

Fiquei ainda mais nervosa, então desviei os olhos para a janela ao meu lado.

Será que agora aquela música era, sei lá, tipo, a nossa música ou algo assim?!

O resto do trajeto foi preenchido por músicas aleatórias. Minutos depois, Ian parou o carro e abriu a porta para mim.

Passamos a pé por uma entrada com luzes douradas de cada lado, produzidas por pontos de luz no chão. Dava para ver que, lá dentro, a decoração era branco e dourado.

Quando vi a quantidade de pessoas, entendi que se tratava de uma festa. Além da música que vinha de dentro do salão. E se era uma festa, eu não teria como conversar com Ian lá dentro.

Movida pela urgência, segurei o braço dele.

— Ian...

Ian parou, virando-se para mim. Seus olhos me observavam com atenção, enquanto eu hesitava, reunindo as palavras embaralhadas em minha cabeça.

— Antes de entrar em seja lá o que você está me metendo — soltei um suspiro longo —, eu preciso te falar uma coisa.

Ao olhar silencioso de Ian, senti a música de fundo ficar distante. As vozes de conversa desapareceram. Senti minhas mãos suando e soltei o braço dele.

Fechei os olhos e respirei fundo. Ao olhar para ele novamente, senti a coragem abandonar cada célula do meu corpo. Ian estava sério, indecifrável. Será que ele havia mudado de ideia?

Só tinha um jeito de descobrir.

— Bom... — apertei as mãos uma na outra, torcendo para que ele não estivesse escutando os batimentos estrondosos do meu coração. — Eu gosto de você, Ian — soltei de vez, sem pensar muito. — Mas eu não sei dividir, não quero ver você beijando outras meninas — franzi a testa ao imaginar ele beijando Mel, aquela salsicha defeituosa. — Na verdade, eu mal consigo imaginar isso sem sentir raiva — sacudi a cabeça com uma careta, tentando afugentar a imagem. — Eu quero você. Só não quero ser mais uma das suas muitas ficantes.

Em posição de oposiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora