05. Consequência

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Por quê, mundo? Tudo o que eu queria era ficar no meu cantinho, vivendo meu momento com o Monstro, e agora eu nunca mais teria paz.

— O. Quê. Você. Fez? — Débora pronunciou cada palavra como se fossem frases distintas.

— Com Ian ainda por cima! — Laura se inclinou para mim com os olhos do tamanho da lua cheia.

O barulho de animais que vinha da mesa de Ian fez eu me sentir em um zoológico. Mas também poderia ser em uma ala psiquiátrica.

Laura e Débora, coitadas, estavam completamente SURTADAS.

Não era a primeira vez que eu era chamada pelo alto-falante no meio do refeitório. Mas era a primeira vez chamada com uma pessoa. Uma pessoa não, um garoto. Um garoto não, Ian.

A algazarra já não vinha apenas da mesa do Terceiro C, havia proliferado pelo refeitório. Belo público. Grandes idiotas.

Sem me olhar, Ian caminhava todo seguro de si. Aquilo era incômodo, o jeito como ele estava se achando por ter toda a atenção do refeitório para si.

Tentei andar mais rápido para sair antes dele, não adiantou. Chegamos juntos na saída.

Ele olhou para mim, estava sério. Fiquei calada, olhando para ele. A nossa despedida de ontem não foi lá muito agradável e eu não tinha dúvidas de que a minha agressão à porta de seu carro havia contribuído para o início de uma linda inimizade.

— Primeiro as damas — disse e me deu passagem.

— Agora você é cavalheiro — passei por ele de queixo erguido.

Fui na frente, ele vinha logo atrás, mas na porta da diretoria, esperei. Eu não ia entrar sozinha.

— Primeiro as damas? — Ele ergueu uma sobrancelha.

— Chega de cavalheirismo por hoje. Não combina com você — dei um passo atrás e indiquei que ele abrisse a porta.

— É, eu prefiro igualdade de gênero. Fizemos juntos, vamos entrar juntos — ele pegou a minha mão e me puxou para o seu lado, segurou a maçaneta e a girou.

A porta se abriu e o meu queixo caiu.

Duas mulheres em pé, de braços cruzados, olharam em nossa direção.

Uma tinha cabelos lisos e loiros, era alta, magra, e estava usando um de seus terninhos cinza de trabalho. Os scarpins pretos reluziam de tão impecáveis.

A outra tinha cabelos ondulados e castanhos. Não era tão alta, mas estava firme sob saltos Charlotte Olympia cor caramelo, uma das minhas marcas de sapatos favoritas. Suas roupas eram certamente de trabalho, mas não tão formais quanto as da minha mãe.

— Mãe — Ian e eu dissemos em uníssono, no mesmo tom de desânimo.

Soltamos as mãos.

A diretora Rosildine não tinha coração. Precisava chamar as nossas mães? Éramos pessoas civilizadas, isso certamente não era necessário.

— Você fugiu da escola, Ian?! — A mãe dele.

— Eu não acredito nisso, Jaqueline! — A minha mãe.

— O que você tinha na cabeça? — A dele.

— Quando o seu pai souber você vai ficar encrencada. — A minha.

— Seu pai vai te matar. — A dele.

As duas falavam ao mesmo tempo, uma complementando a outra.

— Você já sabe o que vai acontecer, não é? — indagou a minha mãe.

Em posição de oposiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora