11. Mensagem

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Ian chegou ao fim das escadas ao mesmo tempo em que o vidro escuro do Mercedes baixou. Eu estava a uma boa distância, ainda assim pude ver a encarada que Steven deu em Ian.

— Quem é o idiota? — Steven perguntou, quando entrei no carro.

Ele acertou. Era um idiota mesmo.

— Não é da sua conta.

Enquanto Steven manobrava, Ian passou por nós a toda velocidade.

— Apressadinho esse seu namorado, hein? — comentou girando o volante.

— Ao menos ele não dirige feito uma tartaruga como você. — Eu não estava defendendo Ian, só ofendendo Steven.

Liguei o som bem alto para que não houvesse diálogo entre nós durante o resto do caminho. Ariana Grande não era a minha primeira opção musical, mas Steven detestava a voz dela então foi isso que escutamos todo o trajeto. A verdade é que nem eu gostava muito, mas valeu a pena deixá-lo irritado.

— Pelo amor de Deus! É isso que você escuta? — Quanto mais ele reclamava, mas alto eu cantava.

Mas Steven estava errado, não era o que eu escutava. Se fosse colocar algo que eu gostava, não há dúvidas de que Marisa Monte estaria esgoelando no som do carro. Só que eu não ia dividir minhas músicas favoritas com esse estrume.

Em casa, enquanto eu subia os degraus para o meu quarto, o inútil vinha atrás resmungando alguma coisa sobre eu ser mal agradecida e eu ignorei com sucesso.

Perto da minha porta, senti a vibração do meu celular e o peguei sem pensar.

Assim que os meus olhos tiveram acesso ao nome do contato, os meus pés travaram. Franzi a testa enquanto desbloqueava a tela para abrir a mensagem e...

— Ora, ora, mas o que temos aqui? — O aparelho sumiu da minha mão.

Steven pegou o meu celular.

Ele queria a morte.

— Steven... — comecei pacificamente, virando o corpo bem devagar. — Devolva o meu celular.

— Pelo que sei, você está de castigo e isso inclui nada de celular — disse estranhamente animado, analisando o objeto em sua mão. — E esse não é o mesmo que vi os meus pais guardando no escritório.

Como pude ser tão descuidada? Ninguém ali sabia que eu comprei um celular reserva. Se meus pais descobrissem, eu ficaria de castigo até o fim dos tempos.

— Devolva agora — falei cautelosamente.

Seus olhos estavam interessados no conteúdo da tela acesa.

Eu estava preparada para pular no pescoço de Steven se ele se atrevesse a abrir a mensagem.

— Quem é "Ian Idiota"?

Fui para cima dele. Steven se esquivou depressa, colocando o celular no alto.

— Me dá o celular! — Pulei para alcançar, mas o idiota era muito mais alto que eu. Me deixou tentar três vezes antes de sair gargalhando pelo corredor.

Fui atrás. Estava determinada a jogá-lo escada abaixo.

Perto das escadas, ele parou olhando o celular. Steven estava lendo a mensagem. Ele estava lendo!

— Mensagem interessante. É do seu namoradinho?

— Me dá essa droga, Steven! — Corri para ele com as mãos em posição.

— O que estão fazendo, crianças? — Uma voz masculina me fez parar no meio do empurrão.

De lá de baixo, meu pai nos olhava com um semblante confuso.

Steven olhou para as minhas mãos em posição de golpe fatal e ergueu as sobrancelhas.

Naquela cena de pré-crime, eu não teria como sair de inocente, não com meu pai testemunhando, então abaixei as mãos.

Eu estava encurralada.

Se dissesse que ia jogar Steven pelas escadas por ele ter pego meu celular, com certeza teria problemas; se Steven me denunciasse por estar usando o celular escondido, eu também teria problemas.

A pior parte é que Steven estava completamente ciente disso. Quando vi os olhos dele brilharem tive certeza de que acabaria comigo ali mesmo.

Ele se voltou para o meu pai e eu fechei os olhos para não ver a catástrofe.

— Nada, pai.

Abri os olhos a tempo de vê-lo enfiar meu celular no bolso.

— Jaqueline estava insistindo para eu emprestar o meu celular. Mas eu já disse que não, ela está de castigo.

— Jaqueline? — Meu pai me olhou esperando que eu confirmasse ou negasse.

Pff. Como se ele fosse acreditar em minha palavra.

Minha vontade era desmentir Steven para ele ver que o filhinho favorito era um mentiroso. Steven não fez aquilo por bondade. Eu o conhecia suficiente para saber que seu favorzinho teria um preço alto. Contudo, dizer a verdade prejudicaria mais a mim do que ele.

— Eu só queria mandar uma mensagem pra Débora — respondi derrotada.

— Você sabe que não pode usar nenhum celular, Jake. Sua mãe deixou isso bem claro — disse meio contrariado.

— Querido. — Minha mãe chamou de algum lugar fora do meu campo de visão. — Já encontrei os registros fiscais, não precisa... — Ela parou ao lado dele e, ao perceber a pequena reunião, olhou para cima. — Algum problema, meus amores?

— Tudo tranquilo, mãe.

Mãe. Ela não era mãe dele. Eu odiava que Steven a chamasse assim.

A pior parte é que ela gostava.

— Você achou? Ótimo. Vamos terminar esse balancete de uma vez por todas — meu pai se voltou para ela. Mergulharam em uma conversa irritante de trabalho e desapareceram para o escritório.

— Não precisa agradecer, irmãzinha — Steven piscou para mim.

Cruzei os braços.

— Quanto isso vai me custar?

Que pergunta idiota. Eu já sabia antes mesmo de ver o sorriso travesso dele.

— Um encontro com cachinhos de chocolate.

Eu não disse nada, simplesmente virei as costas e caminhei a passos decididos para o meu quarto.

— Vou ficar esperando sua resposta, mana — gritou lá atrás.

Que me dedurasse então. Não me importava. Só lamentei que agora eu estava definitivamente sem celular. Meu foco no momento era bolar um plano para recuperá-lo.

Mas, afinal, o que será que Ian mandou?

Em posição de oposiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora