34. Resultado

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Aqui vai uma lista das pessoas que não me dirigia mais a palavra: mãe, pai, Ian, Laura, Gustavo.

Mas a grande diferença entre eles e Steven é que todos estavam sendo ignorados por mim, já Steven tinha ido embora para sempre.

E por que eu estava me lamentando? Esse sempre foi o meu desejo, que Steven desaparecesse definitivamente da minha vida. Então por que eu estava sentindo um nó na garganta toda vez que lembrava dele?

Dois dias após ele ter ido se despedir, eu ainda me sentia mal por não tê-lo deixado ao menos me abraçar.

Por dois dias, reuni todas as questões mal resolvidas dentro de um potinho e escondi no fundo da minha mente. Foquei toda a minha atenção nos livros e estudei arduamente. Mas agora, sábado à tarde, eu não tinha nada para desviar o curso dos meus pensamentos.

Sentada na cadeira de balanço da varanda, abracei uma das pernas e me deixei levar pelos pensamentos que vinha evitando.

Débora estava no topo das minhas preocupações, disputando espaço com Steven.

Ela estava arrasada, mas não queria conversar. Disse que precisava de tempo, então não fiquei insistindo no assunto, mas também não saí do seu lado.

O namorado dela tinha engravidado a melhor amiga dela, era muito para digerir. Além disso, a fofoca ainda ecoava pelos corredores da escola.

Laura sumiu, não apareceu para fazer as provas. Gustavo abaixava a cabeça ao me vir passando com Débora.

Respirei fundo, observando o vento chacoalhar as folhas das árvores. O sol estava abandonado o céu, assim como o carro de Steven abandonou a estrada à minha frente. Deitei a cabeça no joelho e selei as pálpebras. Em pensar que eu sequer me despedi dele...

— O que se passa nessa cabecinha? — questionou a voz arrastada do meu avô.

Abri os olhos e endireitei a postura.

— Só estou cansada — respondi vagamente, enquanto o observava se sentar na cadeira de balanço ao lado da minha.

Notei que havia um quadro de fotografia em suas mãos enrugadas. Apertei os olhos para tentar identificar quem eram as pessoas daquela foto de qualidade baixa. Meu avô percebeu meu interesse e me estendeu o porta-retratos.

Assim que peguei, percebi que se tratava do dia do meu nascimento. Eu estava envolta em uma manta rosa, nos braços da minha mãe, que sorria largamente para mim. Meu pai estava ajoelhado ao lado da cama, com as duas mãos no rosto.

— Seu pai chorou feito criança — comentou o meu avô, rindo.

— Claro que chorou, eu cheguei para atrapalhar a vida perfeita deles — respondi com desgosto, devolvendo a foto.

O sorriso desapareceu do rosto do meu avô e sua testa se enrugou ainda mais que o natural.

— Não diga isso, minha filha. Você é a alegria dos seus pais — falou com olhos piedosos.

Desviei os olhos para as árvores.

— Eles nunca gostaram de mim, vovô — e pelo visto, nem de Steven.

Eu sentia uma raiva inexplicável por terem deixado ele ir embora.

Vovô suspirou, olhando para longe.

— Sabe, menina, sua mãe sempre foi ambiciosa, desde a infância. Quando perguntada sobre o que queria ser quando crescer, ela respondia que queria ser rica. Começou a trabalhar com apenas quinze anos. Ela queria muitas coisas e queria logo. A ambição a levou a trabalhar incansavelmente, quase nunca aparecendo em casa. Quando conheceu seu pai, pensamos que ele seria a salvação dela. No entanto, logo percebemos que ele era tão ambicioso quanto ela. Eles mergulharam juntos nessa busca incessante por mais.

Em posição de oposiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora