23. Refúgio

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Eu não tinha certeza se aquela era a casa dele. Toda vez que passávamos na frente daquela fachada arquitetônica Laura dizia: "olha lá a casa do seu crush".

Se eu parasse para pensar no quão estúpido, idiota e completamente sem sentido era eu estar parada na frente da casa de Ian, daria meia volta. Entretanto, eu não podia me dar ao luxo de parar para pensar. Era aquela humilhação ou continuar zanzando pelas ruas.

Portanto, não pensei, só fiz. Toquei a campainha e aguardei. Meu corpo reclamou do frio com um arrepio. Minhas pernas estavam doloridas. E o que colocaram em minha mochila? Pedras? Meus ombros queixavam de dor. Ainda assim, a exaustão física não se comparava à sensação de sufocamento mental.

As palavras deles ainda ecoavam em minha cabeça.

"Por que você não é como Steven?"

"Um ano de internato"

O portão se abriu e alguém apareceu. Surpresa e confusão estamparam seu rosto.

— Jaqueline?!

— Oi, Ian — sussurrei. O bolo em minha garganta não me deixou falar mais alto.

Eu temia que se falasse não conseguiria mais segurar o choro. Até ali eu estava tendo sucesso contra as lágrimas, não cederia logo agora.

— O que faz aqui? — ele franziu as sobrancelhas. À noite, os olhos confusos pareciam pretos.

"Garota estúpida"

"Você só nos dá prejuízo"

— É que... eu... — minha voz saiu espremida. O rosto de Ian perdeu a nitidez com a inundação que chegou aos meus globos oculares.

Ele deu um passo em minha direção.

— Ei, tá tudo bem aí?

"A idiota da nossa filha"

— Não — pulei no pescoço dele e perdi a batalha contra o choro.

Ian ficou parado, quase estático. Não moveu um músculo. Não abraçou de volta. Esperei pela rejeição.

Fiquei aliviada, no entanto, quando ele colocou uma mão nas minhas costas e outra em minha cabeça. Apertei sua camisa entre os dedos, escondendo o rosto em seu peito.

Eu tinha ciência de que estava encharcando a camisa de Ian com lágrimas salgadas, mas ele não reclamou, então deixei a dor transbordar pelos meus olhos.

Ele me deixou ficar em seus braços até me acalmar, e quando isso aconteceu, fui me afastando aos poucos, secando o rosto com as mãos, olhando só para baixo. Não acreditava que tinha chorado na frente dele. Nos braços dele. Eu devia ter pedido o senso do ridículo.

Ian me segurou pelos ombros, forçando-me a olhar em seus olhos.

— Quem você matou? — ele fingiu cara de horrorizado.

Mesmo sem querer, sorri. Ian tentado me animar? Normalmente ele riria da minha cara.

— Deixa eu me esconder aqui essa noite? — passei o dorso da mão na bochecha para secar uma lágrima remanescente.

— Certo. Quem. Você. Matou? — ele pronunciou cada palavra lentamente, dramatizando.

— Não matei ninguém! — afastei suas mãos. — Não estou fugindo — desviei os olhos para o chão. — Não da polícia.

— De quem então? — questionou e, como fiquei em silêncio, insistiu: — Jaqueline?

Levantei a cabeça.

Em posição de oposiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora