— Isa, acorda.
— Hummm.
— Vamos, tá na hora.
— Nãããão.
— Levanta logo da minha cama, pirralha.
Senti ela abraçar minha cintura por trás.
— Quero dormir, Ian.
— Anda, Isa, levanta. Vai se atrasar.
Meus olhos estavam tão pesados que não tive forças para olhar para o lado em que a disputa acontecia. Ou coragem.
A tranquilidade pós sono fez as coisas parecerem mais claras em minha mente. O lado racional voltou a funcionar. E, bom, ele não ficou muito satisfeito ao me perceber toda descabelada na cama de Ian.
Esperei até ele conseguir tirar Isabella da cama e os dois saírem para finalmente abrir os olhos.
Minhas pálpebras piscaram com o incômodo da claridade. Raios solares atravessavam a janela, levando-me a concluir que o maldito Ian abriu as persianas. Sentei-me na cama, notando um edredom azul escuro sobre mim, que não estava ali antes de eu pegar no sono.
Eu sempre tive uma tremenda curiosidade em saber como seria o quarto de um garoto. O de Steven não contava, pois ele mal desfazia a mala.
E agora ali estava eu, no quarto de um garoto, onde eu tinha passado a noite. Não só de um garoto, mas de Ian.
Definitivamente, minha vida estava fora de órbita.
Eu já tinha visto Ian segurar um violão, então visualizá-lo tocando aquele violão preto, que estava sob um suporte, era bem normal. Mas imaginá-lo tocando aquela guitarra vermelha, ah, isso sim era uma cena marcante. Um Ian astro do rock desenhou-se em minha mente enquanto meus olhos percorriam o quarto rumo à estante lateral.
Havia muitos livros. Ian gostava de ler? Fiquei curiosa para saber os títulos, no entanto não me concentrei em lê-los, pois me senti invadindo a privacidade dele.
Em cima da estante, havia discos de vinil enfileirados, dava para ver os nomes dos que estavam na frente: The Smiths, Skank, Paralamas do Sucesso e Beatles.
Na mesa de computador havia três monitores e eu me perguntei para que ele queria tantas telas, então me lembrei de quando ele me falou que trabalhava com programação.
Guitarrista, leitor, programador e apreciador de música boa. Então esse era Ian para além do garoto que pegava todas as sebosas da escola.
Tratei de enrolar o cabelo, pois sabia que a minha aparência não devia estar das melhores. Mas isso era o de menos agora. Eu tinha que arrumar um lugar para ficar e estava sem nenhum centavo no bolso. Para a casa deles eu não voltaria.
Pensar neles trouxe todo aquele sentimento ruim novamente. As palavras dolorosas. A vontade de sumir. Deixei a cabeça cair de volta ao travesseiro e fiquei encarando o teto branco. Assim permaneci por alguns minutos até escutar a porta se abrindo. Passos se aproximaram e pararam ao lado da cama.
— E você? Vai ficar aí deitada?
Virei a cabeça para ele. Os cabelos estavam úmidos, dando a impressão de que ele tinha tomado banho. Sem contar no cheiro de shampoo.
— Gosto daqui — falei, sem me mover, e com a mínima intenção de fazê-lo.
De lá de fora veio o som de portas de carro batendo e a voz enérgica de Isabella. Ian foi para a janela de vidro e ficou olhando até o carro sair. Então se virou para mim.
— Vem — disse somente e seguiu para a porta.
Sem muita opção, levantei-me da cama, calcei minhas botas e peguei a minha mochila para ir atrás dele. Com uma alça no ombro, abri o zíper para ver o que estava causando todo aquele peso. Havia cadernos, canetas, revistas da Vogue, escova de dentes, creme dental, sabonete líquido (para a aula de educação física), um casaco, presilhas, batons e outras bugigangas: eram as coisas que ficavam no meu armário da escola. Ex-armário, pelo visto.
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Em posição de oposição
Fiksi RemajaSincera, irreverente e uma verdadeira peste. Jaqueline (Jake para os mais íntimos) é esperta demais para saber que deveria manter distância do garoto que foi eleito o mais bonito de todos por uma listinha suja que circulou os corredores da escola. I...