02. Cúmplice

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Chegar atrasada no castigo significava mais castigo. Em qualquer outro dia eu não me incomodaria, mas hoje não era o caso.

Naquela noite aconteceria um evento chato a nível mortal. Festa de empresários, mas com a presença das famílias, para prestigiarem as conquistas vazias uns dos outros. Um bando de puxa-sacos. Mas eu não perderia por nada, pois era a minha chance de conversar com os meus pais sobre as férias do fim de ano.

Ainda faltava muito tempo para o ano acabar, as férias do meio do ano ainda nem tinham chegado, mas o quanto antes eu fizesse os planos, maiores eram as chances de eles conseguirem encaixá-los nas viagens de negócios.

Por isso eu estava correndo para a sala de castigo, ignorando o tamanho do meu salto. Fiz uma nota mental: "não usar mais salto agulha na escola".

Em seguida, risquei a nota mentalmente. Como eu poderia ignorar Christian Louboutin na hora de escolher os sapatos de manhã? Seria um crime.

Ao chegar na porta da detenção, meus pés travaram. Era tarde. Pelo vidro quadrado na parte superior da porta, vi que a sessão de descarrego já havia iniciado. Amaldiçoei a bexiga solta de Débora, que me arrastou para o banheiro assim que a última aula acabou. No banheiro, me distraí com uma fofoca quente e acabei perdendo a noção do tempo, agora estava ferrada.

Aquela escola tinha muitas regras e eu me orgulhava de saber de todas, assim podia quebrar uma por uma.

A regra 112 obrigava os atrasados a esperarem ao lado de fora até que o ritual de confissões terminasse, caso contrário a penalidade pelo atraso seria dobrada. O que nos leva à rega 113, em que cada detento era obrigado a ficar de pé e confessar sua transgressão, prometendo nunca a repetir.

Acontece que eu acabei de me enquadrar na 112 e já podia contar com os 30 minutos de acréscimo. Não daria tempo de chegar em casa, meus pais jamais esperariam por mim. Passariam a noite tomando champanhe caro e sendo bajulados pelos colegas de cabeça brilhante, aqueles carecas.

Senti a raiva emergir de dentro de mim. Não era justo! Um mês aguardando esse dia e agora me deixariam de fora.

Mas se eles achavam que ia ficar de graça, estavam enganados. Eu ia mostrar para eles quem eu era. Quem ia pagar o preço era a mulher de tamanco grosso dentro daquela sala. Eles iam ter que sair correndo para vir me buscar em 3, 2, 1...

— Eu não faria isso se fosse você.

Soltei a maçaneta, sentido os ombros se enrijecerem.

Mesmo sem me virar, eu sabia quem estava atrás de mim. Reconheceria o timbre daquela voz no meio de uma multidão. Era estranho ouvi-lo se dirigir a mim. Mesmo assim, ignorei o aviso e fechei os dedos na maçaneta. Não era da conta dele.

— Jaqueline, não — ele segurou o meu ombro.

Soltei a maçaneta e me virei depressa.

A coisa mais estranha do meu dia: Ian sabia o meu nome.

Encarei seus olhos coloridos sentindo um vinco se formar em minha testa.

— Não sabe o que acontece quando se quebra o ciclo do atraso? — questionou, me olhando como se eu fosse uma jumenta.

— Você sabe o meu nome? — perguntei, pasmada.

Ele franziu as sobrancelhas, visivelmente surpreso com a minha pergunta.

— Sei. Você não é amiga de Lau?

Lau? Eu não sabia que eles eram tão íntimos para ele tratá-la por um apelido desses.

— Sou — respondi, encarando seu rosto simétrico com atenção.

Ele encostou na parede e cruzou os braços. Só me dei conta de que eu estava encarando demais quando o vi erguer as sobrancelhas de forma interrogativa.

Em posição de oposiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora