03. Fuga

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Me levantei da cadeira cambaleante na tentativa de chegar até a mesa da diretora.

— Senhora Rosildine — minha voz saiu fraca, quase um sussurro.

Dei mais alguns passos, meus pés vacilaram, tive que me segurar em uma das cadeiras. O garoto que ocupava aquele assento me lançou um olhar de pânico, minha cara provavelmente estava péssima.

Através de olhos quase fechados, vi a diretora levantar a visão do notebook para mim.

— O que há com você? — Ela se levantou.

Coloquei as duas mãos acima do peito e meu rosto se contorceu em uma careta de dor.

— Por favor... Eu acho que vou...

Minhas pernas cederam. Caí no meio da sala com um baque. Minha cabeça acertou o chão e a dor aguda me fez contorcer o rosto.

Ao redor ouviu-se um burburinho de desespero e em segundos havia mãos sobre mim.

— O que aconteceu com ela?

— Ei? Garota? Abre os olhos. — Dois tapinhas do meu rosto.

— Meu Deus, gente, Jaqueline morreu!

Senti o vento chicotear meu rosto de um lado para o outro, como se mãos estivessem me abanando.

— Eu vou chamar a enfermeira! — Alguém afirmou e saiu depressa.

— Jaqueline? — A diretora chamou, sacudindo o meu ombro.

O burburinho de vozes em volta continuou, mãos de todos os lados tentavam me reanimar.

Em poucos segundos, a pessoa que anunciou ir buscar a enfermeira retornou, falando em tom de urgência:

— Diretora, a enfermeira está presa! Parece que alguém a trancou dentro da enfermaria de propósito.

— O quê?! Mais essa!

Senti quando as mãos pesadas dela me deixaram.

— Se me der as chaves eu posso voltar lá e...

— Que absurdo está dizendo, Ian?! É claro que não vou lhe dar as chaves! Acha que eu colocaria o molho com todas as chaves na mão de um aluno?!

— Mas a pobre garota está passando mal, precisa de ajuda. A senhora tem que...

— Não me diga o que eu tenho que fazer! Eu mesma vou buscar a enfermeira!

O som do salto de madeira no piso ecoou pela sala até alcançar a porta, depois o corredor e em poucos segundos não mais se ouvia.

Abri os olhos e me deparei com várias cabeças inclinadas sobre mim.

— Você está bem? — Alguém desimportante perguntou e eu ignorei.

Ian estendeu a mão para mim e eu a peguei.

— Deu certo — ele disse com um sorriso vitorioso, me puxando para cima.

Quando Ian me mandou a mensagem explicando o que eu tinha que fazer, eu não tinha certeza se daria certo. Duvidava que Rosildine acreditaria em minha atuação. Ian ficou com o trabalho mais fácil, fingir que ia chamar a enfermeira.

Ao meu redor, rostos confusos me encaravam. Não liguei, não era da conta deles.

Ian seguiu para porta, mas quando tentei ir atrás, alguém se colocou em meu caminho.

— Você estava fingindo?! — Uma ruiva indignada questionou.

— Não, imagina! — Passei a mão pelos cabelos para ajeitar os fios bagunçados. — Estava ensaiando para entrar para o clube de teatro da escola.

Em posição de oposiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora