38. Iguais

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Fato: Ian era meu namorado.

Curiosidade: todas as garotas da escola me odiavam.

Ao entrar no refeitório, a maioria das idiotas me encarou com desdém. Levantei o queixo, olhando para frente, elas não eram dignas nem mesmo do meu olhar de superioridade.

Há poucos passos da mesa dos retardados, eles começaram a algazarra.

— Olha elaaa — anunciou Alexandre.

— Cuidado, não olhem nos olhos dessa medusa, ela foi capaz de enfeitiçar o mais forte de nós — dramatizou Thiago, colocando o braço na frente dos olhos.

Não dei a mínima para eles, pois meus olhos estavam focados em Ian, que também me encarava.

A cadeira ao seu lado estava vazia. Me sentei e ele passou o braço em volta dos meus ombros.

— Seria pedir muito um dia sem você ficar de castigo? — Ian perguntou perto do meu ouvido.

— A culpa foi daquele filhote de lombri.... — Ian ergueu uma sobrancelha para mim. Corrigi: — Daquele mestre sábio. Quem ele pensa que é para me mandar para a recuperação?

Eu ainda estava em remissão com a coisa de dar apelidos para as pessoas. Era uma longa jornada até perder esse hábito, mas Ian estava me ajudando. Pedi ele para me policiar.

Eu estava me esforçando para ser uma pessoa melhor. Mas era difícil com o professor me provocando. Como ele ousou me reprovar no bimestre? Agora a recuperação no final do ano era uma certeza concreta, não importava o quanto eu me dedicasse no próximo bimestre.

Além disso, eu ainda teria que receber atividades extras em pleno recesso escolar. As férias do meio do ano letivo são sagradas, como vou descansar de verdade tendo que fazer atividades extras para uma matéria?

— Tamo junto nessa — Theo, também de recuperação, estendeu o punho fechado e eu bati só para não deixar ele no vácuo.

— Vou pegar seu almoço — anunciou Thiago, se levantado da mesa.

A condição para eu perdoá-lo por ter feito a aposta de "me pegar", era ele ser meu capacho por uma semana.

Seriam duas semanas, mas aquela era a última semana de aula e eu não queria nem contato com ele quando voltasse do recesso escolar. Nem com ele, nem com nenhum daqueles mancos do cérebro.

— Jake, aquilo foi muito engraçado — Caio comentou, apontando uma batata frita em minha direção.

Olhei para as minhas unhas ocasionalmente.

Eu detestava unhas postiças, mas depois de dias sendo a escrava dos meus avós, minhas unhas ficaram uma decepção. Então Débora inventou de colocar aquelas unhas de mentira em mim no caminho para a escola.

Ela me entregou a cola instantânea para o caso de alguma unha descolar. Foi assim que, ao entrar na escola e dar de cara com minha nota baixa no mural, fui obrigada a me vingar daquele lombriga anêmica. Digo, professor.

Quando ele se levantou, a cadeira ficou pendurada em sua calça por uns três segundos.

Apesar de alguns colegas terem sufocado a risada, colocando-os como suspeitos, o professor olhou diretamente para mim, mesmo sem evidência de que tinha sido eu.

Fui chamada na diretoria no segundo em que pisei no refeitório, parecia sempre cronometrado.

Meus pais estavam lá e algo inacreditável aconteceu: eles me defenderam.

— Nossa filha passou por coisas muito difíceis nessa escola — dissera minha mãe, literalmente passando a mão na minha cabeça.

E assim fiquei livre do castigo.

Em posição de oposiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora