14. Carma

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Antes de chegar ao meu quarto, escutei uma manada de bois pisoteando as escadas e logo em seguida invadindo o corredor.

— Espera! — Steven segurou o meu braço, me virando para si. — O que foi que você disse? — Os olhos dele estavam esbugalhados.

— Quer que eu desenhe? — Puxei meu braço de volta.

— Você está... dizendo que eu vou sair com a cachinhos de chocolate? — Steven passou a mão pelos cabelos, parecendo lutar para conter a euforia. — Com a Deby, minha Deby. Jake... não brinca comigo...

Respirei fundo.

— Não estou brincando. Ela não é sua. Não se anime. Deby tem namorado. Vocês vão sair como amigos. Coloca isso na sua cabeça grande e vazia. — Falei uma coisa de cada vez porque é assim que se conversa com pessoas cognitivamente prejudicadas.

— Tá, tá bom. Como amigos. Eu sei — sua empolgação não diminuiu. — Vou pegar o seu celular — ele se virou depressa para sair, mas o segurei.

— Tem outra condição.

— Eu aceito — disparou debilmente.

O cara estava babando pela minha amiga. Eu poderia tirar muito proveito disso.

— Além de me devolver o celular você vai me ajudar a sair de casa. Vai falar com os meus pais e convencê-los — ditei.

Isso seria moleza para ele. Era só falar que queria sair com a "irmã favorita" ou sei lá o que. Eles sempre concediam os desejos do filhinho querido.

— Fechado — concordou depressa.

Revirei os olhos para o desespero de Steven.

— Sairemos às oito e trinta. Esteja pronto no horário — ordenei de queixo erguido, me sentindo no poder.

Meu corpo se direcionou para seguir meu caminho, porém fui surpreendida com um abraço na cabeça. Quem abraça a cabeça dos outros? Eu detestava quando Steven fazia isso.

— Eu te amo, garota! — e beijou o topo do meu couro cabeludo.

— Me larga! — Empurrei ele com força e o encarei friamente ao dizer: — Pena que não é recíproco. — Dei as costas e segui para o meu quarto.

°*°*°

Eu teria comprado roupas novas para sair com aqueles idiotas se:

A. Eles não fossem os idiotas insignificantes que eram;

B. Eu estivesse indo para algum lugar interessante e não aquele muquifo;

C. Minha mãe não tivesse confiscado todos os meus cartões de crédito.

Mesmo assim, o conjunto Armani que escolhi merecia mais do que a presença daqueles insetos. Saia alta rosa-cherry, cropped branco e casaquinho na mesma cor da saia, até os cotovelos. Meus sapatos Yves Saint Laurent também eram valorosos demais para usar em algo tão sem importância.

O máximo de acessório que eu estava usando era uma pulseira de cristais pendurados, em forma de mini-globos, que, ao serem balançados, produziam um tilintar suave. Foi um presente de consolo que meus pais me trouxeram de Milão, como se aquilo compensasse o fato de terem me deixado para trás.

Eles não gostavam de me levar nas viagens de trabalho porque eu "dava muito trabalho e muita dor de cabeça". Mas aos retornarem, tinha toda a coisa do olhar arrependido.

Meus pais adoravam me dar coisas caras para aliviar o peso de suas consciências em situações em que tinham me negligenciado. Talvez essa fosse a explicação para eu ter tanta coisa de marca de luxo.

Em posição de oposiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora