08. Intruso

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Tinha que ser honesta comigo mesma, eu estava ansiosa para entrar em casa e receber todo o carinho e a atenção que os meus pais me dedicariam naquela noite. A parte do carinho não era lá uma verdade, mas atenção, ah... eu receberia muita atenção.

O desenho na aula de matemática, a pimenta na taça do Coringa careca, a fuga da escola... Olha, eu estava orgulhosa de mim mesma por tanto material de qualidade que preparei para eles. Assunto não ia faltar.

Consultei as horas no celular antes de atravessar a porta de casa e vi que faltavam trinta minutos para meus pais chegarem do trabalho. Em um dia normal, eles teriam duas horas para tomar banho e jantar antes de se trancarem no escritório para continuar trabalhando.

Hoje seria diferente. Ao menos quarenta minutos desse tempo seria para mim. Para brigar comigo, na verdade.

Enquanto isso, eu ia tomar um banho, passar meu hidratante corporal de rosas damascenas e voltaria para a sala, onde me sentaria no sofá e os aguardaria pacientemente.

Eu já estava no topo da escadaria, prestes a virar à direita do corredor, quando me choquei com algo e perdi o equilíbrio. Meu pé entortou e meu corpo foi para trás.

Minha mente visualizou o meu corpo rolando degraus abaixo, costelas se partindo e, provavelmente, minha morte.

Fechei os olhos e esperei, mas nada aconteceu.

— Que raios você está fazendo?

Então ouvi o sotaque. O maldito sotaque.

As mãos que estavam em minha cintura me puxaram para longe dos degraus.

— O que você faz aqui?! — Empurrei ele com hostilidade.

— Também senti sua falta — ele levou a mão até o topo da minha cabeça e deslizou para frente, fazendo os fios cobrirem minha visão.

— Mas que merda! — Empurrei a mão dele e comecei a ajeitar o cabelo. — Idiota.

Eu odiava quando Steven fazia isso. Eu odiava Steven.

— O que está fazendo na minha casa?!

— Na nossa casa, você quer dizer.

Infelizmente, era verdade. Steven era meu meio-irmão.

Ele não morava conosco, morava com a mãe, nos Estados Unidos.

Há três anos, minha mãe, meu pai e eu sequer imaginávamos a existência desse parasita. Mas um belo dia ele apareceu em nossa porta e se declarou filho do meu pai.

Na época, isso deu a maior confusão. Minha mãe quase surtou quando o resultado de DNA confirmou. Nem precisava de DNA, as semelhanças entre eles eram óbvias. Ele também compartilhava comigo a cor dos olhos de nosso pai, azul gelo.

Mas para a decepção dos jornais de fofoca locais, não se tratava de traição. Meu pai simplesmente engravidou uma desmiolada de cabelo roxo em uma rave, quando foi fazer intercâmbio nos EUA. Ainda assim, a manchete não perdoou: "Revelação Chocante: Empresário Renomado Assume Filho de Passado Controverso". Um vexame.

Para o meu pai, a ideia de ter um filho homem lhe encheu de alegria. E como a minha mãe sempre foi absurdamente cúmplice dele, acabou acolhendo o filho como se fosse seu.

Quanto a mim, o meu maior sonho era atear fogo nesse intrometido.

— Nossa, maninha, parece que não está feliz em me ver — ele fez cara de magoado.

— Deve ser porque eu não estou feliz em te ver — cruzei os braços.

— Isso machuca meu pobre coração — ele colocou a mão no peito.

Em posição de oposiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora