O ATAQUE DA RÃ

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Urupê. Acredito que pouca gente sabe o que é isso. E "Pycnoporus sanguíneos"? Piorou, né? Pois bem, Urupê, do Tupi Guarani, significa: "um tipo de cogumelo" ou "orelha de pau" e "Pycnoporus sanguíneos" é o nome científico de "orelha de pau" que, na verdade, é um fungo que cresce, às vezes em árvores vivas, mas principalmente em troncos em decomposição e se assemelha um pouco à orelha humana

O que isso tem a ver com o ataque da rã, já vamos descobrir.

Na natureza existem muitos animais que oferecem pe-rigo aos humanos e isso muitas vezes independe do porte do bicho, mas, considerar que uma rã pode ser perigosa é algo impensável, não é mesmo?

É certo que há os casos de fobias. Eu tenho uma ami-ga, por exemplo, que fica paralisada diante de uma bara-ta e já vi um marmanjo (também meu amigo) sair correndo pelado de dentro do banheiro (por sorte era uma casa de veraneio onde estavam apenas homens), com medo de duas minúsculas pererecas.

Meu Pai contava que, certa vez, fazendo um trajeto à cavalo, ao vadear um córrego, deixou que o cavalo bebesse à vontade. Os cavalos, nessas circunstâncias, costumam caminhar subindo a corrente, certamente para buscar água mais limpa.

Pois bem, segundo "Seu" Zé Morais, quando o cavalo parou de beber, ele puxou as rédeas, fazendo-o encami-nhar-se para a outra margem mas, assim que pisou em ter-ra firme o cavalo começou a patear. Meu pai, pensando que poderia tratar-se de algum pedregulho preso ao casco do animal, apeou para verificar e, qual não foi a sua surpre-sa, ao encontrar um filhote de sucuri, de pouco mais de um metro, enrolado na pata da montaria.

Imagina-se que a pequena cobra, na sua inexperiên-cia e, certamente, com muita fome, ao ver a pata do ca-valo entrar na água, atacou vorazmente, sem perceber que aquilo era apenas a mínima parte de um imenso animal que, por certo, "não era para o seu bico".

Assim foi que, uma certa menina, que agora já não é tão menina, a quem não vou identificar, ela se quiser pode fazer isso depois, foi atacada por uma rã, que, segundo parece, cometeu o mesmo engano da sucuri.

Foi assim: a nossa personagem, morava ainda na fa-zenda com sua família e devia contar na época uns cinco ou seis anos de idade.

A Fazenda era do estilo antigo, com bica d'água, monjolo, engenho e muitas outra coisas de uso naquele tempo.

Os regos d'água, antigamente, corriam a céu aber-to até a bica, sendo que quando se aproximavam da casa, dependendo do desnível do terreno, eram elevados em um aterro, a fim de que a bica não ficasse muito baixa para a lida.

Na fazenda em questão, não era diferente e, pouco acima de onde a água entrava na bica haviam dois troncos grossos, um de cada lado do rego, que serviam de arrimo para sustentar o aterro.

Embaixo de um daqueles troncos, o que ficava, por as-sim dizer, do outro lado do rego, formou-se uma cavidade que servia como morada de uma rã, a qual elegera aquele local por ser fresco, úmido e propiciar a caça de peque-nas presas, como baratas, grilos e, eventualmente, algum pintinho que por ali passasse.

A nossa amiguinha, não a rã, a menina, brincava nas proximidades da bica quando, ao debruçar-se sobre o tron-co que estava do seu lado, viu uma "orelha de pau" que crescera no outro tronco, bem perto da tal cavidade onde morava a rã.

Interessada naquele curioso objeto, debruçou-se a menina sobre o rego, esticando o braço com intensão de apanhá-lo. Ao aproximar, porém, sua pequena mãozinha da "orelha de pau" e também da porta da casa da rã, "zas!" ocorreu o ataque.

A rã, por certo, visualizando apenas aquela mãozi-nha muito branca e tendo-a como um pequeno animal, não pensou duas vezes (se é que as rãs pensam, né?) e tratou de garantir o seu almoço.

Não se sabe de quem foi a surpresa maior, se da rã ao ver-se erguida bruscamente do solo ou se da pequena ao ser atacada. O fato é que a nossa menina levantou-se rapidamente, trazendo a rã presa em seus dedinhos e ber-rando de pavor enquanto sacodia o braço para livrar-se do que para ela era um monstro horrível.


Em breves segundos, que para a criança certamente foram eternos, a rã soltou-se e voltou célere para sua toca, talvez mais apavorada que sua presa.

A menina, para sua tristeza, não encontrou consolo em ninguém, quando, ainda chorosa, mostrava a mãozinha com pequenos arranhões provocados por uma espécie de lixa que as rãs têm na boca. O que todos faziam era achar en-graçada a situação e davam risada.

No fim das contas não restaram sequelas, mas carne de rã a nossa amiga diz que "nem pra remédio".

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Por um AcausoOnde histórias criam vida. Descubra agora