AGORA EU VI O MUNDO INTEIRO

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Coisa proibida ou escondida, em regra, torna-se mais atrativa ou, ao menos, desperta mais curiosidade.

Lembro-me de uma publicidade bastante criativa, em que um garotinho convidava a irmã menor para, entrando na cozinha pela porta dos fundos, apanharem determinado alimento na geladeira, indo comer escondidinhos, quando então a pequena questionava ao irmão:

- Maninho?!?! Porque a gente tá comendo escondido...? Se a gente pedir a mamãe dá...?!?!?

- Porque eu gosto de viver perigosamente...!!! – respondia o moleque em tom de suspense.

Quando se trata de namoro ou de qualquer relação amorosa (em sentido amplo), que seja proibida ou que só possa acontecer às escondidas, aí então a coisa esquenta, fica assaz atraente.

No tempo em que os namoros ainda eram, ao menos na maioria dos casos, muito recatados, mesmo que a contragosto devido à vigilância cerrada dos pais ou de irmãos da donzela, qualquer avanço que o namorado conquistava, às vezes um simples beijo um pouco mais prolongado ou um leve toque nalguma parte mais íntima do corpo da moça, despertava uma "emoção" (pra não dizer outra palavra) muito ardente.

Como diriam os mineiros e também nós, os goianos do interior: "Êta trem bão sô!!!"

Naquele tempo não se tinha a comodidade dos motéis e a maioria das pessoas, principalmente os jovens, não possuía sequer um fusquinha ou, como cantavam os Mamonas Assassinas, "...uma Brasília amarela... pra mode a gente se amar...".

Certo casal, cujo namoro já ia um tanto animado, ou avançado, como se queira considerar, procurava um lugar pra ficar mais à vontade. A cidade onde moravam era, na verdade, um pequeno povoado, lá no interior, o que tornava as coisas ainda mais difíceis.

O rapaz propôs então que fossem para uma casa que estava abandonada no fim da rua, mas lá chegando a moça ponderou:

- Mas se arguém tivé veno quando a gente entrá ou saí daí e contá pro meu pai ou pra minha mãe, eles vai querer saber o que a gente tava fazendo lá dento...! E dispois pode entrá arguém e vê nóis, né?

- "De fato pode complicar..." – pensou o rapaz, propondo que continuassem caminhando por uma estradinha que seguia pelo descampado onde já não havia casas e, ao se aproximarem de um matagal, tentou convencer a namorada a que entrassem ali, mas ela voltou a ponderar (era uma moça muito ponderada):

- Aí tamém arguém pode vê...! Principarmente se nóis num tivé prestano atenção e a pessoa chegá bem divagarzim... cê num acha?

- É...! – Concordou o namorado, já com a "ansiedade" a flor da pele, pelo que tinha como certo que seria a primeira vez que conseguiria realizar todos os seus desejos.

Olhando em volta o rapaz observou que no campo aberto que se estendia por vários quilômetros, à distância de uns quinhentos metros de onde estavam, havia uma árvore de copa fechada, completamente isolada de quaisquer outros arbustos, só capim baixo em volta, num raio de mais ou menos meio quilômetro, então sugeriu:

- Que tar se nóis fô pa dibaxo da sombra daquela árve...?!?! Dessa distância ninguém vai consegui enxergá o que nóis tivé fazendo lá, e dispois se arguém começá a se aproximá, nóis para, né?

A donzela (até então) concordou e lá se foram de mãozinhas dadas, como quem só passeia inocentemente pelo campo.

Logo que chegaram embaixo da tal árvore, olhando em volta pra ver se ninguém se aproximava, começou a troca de carícias que foi evoluindo rápida e ansiosamente, de modo que em poucos minutos estavam completamente nus, quando então o namorado forrou o chão com suas roupas para que a moça deitasse.

Ao vê-la deitada, inteiramente nua, com as faces ruborizadas pela chama do desejo e talvez pelo que restava de recato, o rapaz entusiasmado exclamou:

- Ai meu santantõe... Agora eu vi o mundo intêro...!!!!

O que os namorados não sabiam, porém, era que um capiau, que tinha saído cedo para campear sua égua que fugira, havia, pouco antes, subido na árvore para ver se enxergava o animal à distância e que, sem ver direito o que estava acontecendo lá embaixo, porque a ramagem da árvore era muito densa, ao ouvir a expressão do rapaz indagou bem alto:

- Ô moço...! Já que ocê inxergô o mundo intêro...! Por um acauso cê num viu minha eguinha baia por aí não...?!?!?

E agora?

* * *

Por um AcausoOnde histórias criam vida. Descubra agora