A PROLE DO TRABALHADOR

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Engana-se quem pensa que a vida de Juiz é só um mar de rosas, às vezes eles enfrentam situações bem complicadas e algumas um tanto ou quanto inusitadas.

Também vai saber se mar de rosas é bom, não é? Afinal de contas roseiras têm muitos espinhos.

Quando era criança e até na juventude, ao ouvir falar de Juiz, a ideia que eu tinha era de um rei, se fosse desembargador então, um semideus. Hoje sei que são seres humanos passíveis de defeitos e tão sujeitos a falhas como quaisquer outros, mas penso que têm o dever, mais do que o vulgo, de exercitar a probidade, a honradez e as virtudes em geral.

Lembro-me, nesse passo, de um conto do escritor brasileiro Malba Tahan, no qual é narrada a história em que um Sultão tomou conhecimento de que em seu reino havia um Juiz, que exercia o ofício da magistratura ouvindo os conselhos de um papagaio.

Mandou então trazer à sua presença o tal Magistrado e indagou dele acerca da veracidade daquela notícia, ouvindo da boca do próprio interpelado, além da confirmação, a afirmação de que o indigitado papagaio só sabia falar duas palavras, ao que teria exclamado o Sultão:

- Mas como pode ser isso? Julgar seguindo os conselhos de um papagaio que só sabe falar duas palavras...! Isso não pode estar certo!!!

- E me explico Majestade... – redarguiu o Juiz, continuando em seguida: ... esse papagaio me acompanha há muitos anos e aprendeu comigo as palavras em questão, e então, sempre que vou sair para o trabalho, ao fazer um carinho em sua cabecinha ele as repete: BONDADE e JUSTIÇA, e é com base nelas que eu exercito a minha função de julgador.

Houve um tempo em que as Varas da Justiça do Trabalho Brasileira eram denominadas "Juntas de Conciliação e Julgamento", isso porque, ao menos em tese, constituíam órgãos julgadores colegiados, integrados, além do Juiz do Trabalho, chamado Juiz Togado, também pelos vogais, os quais eram denominados Juízes leigos, que supostamente eram representantes das classes, patronal e profissional e que posteriormente receberam o pomposo título de Juízes Classistas. Ainda bem que deixou de existir tal excrecência em nosso Poder Judiciário.

Conta-se a boca miúda, no âmbito da Justiça do Trabalho, sem dar nomes aos bois, que no desenrolar de uma audiência - que então denominava-se, como nos tribunais, sessão de julgamento - em uma daquelas malfadadas "Juntas de Conciliação e Julgamento" dessa nossa Pátria tão boa, tão linda, mas tão judiada e explorada, sessão essa que era presidida por uma Juíza do Trabalho, tomava-se o depoimento do Reclamante, que era um trabalhador rural.

Ficara sabendo a Magistrada, por meio da petição inicial, que o Reclamante, um senhor já de idade um pouco avançada, era pai de oito filhos.

No decorrer do interrogatório, entretanto, veio a saber que ele possuía mais cinco filhos de um primeiro casamento, o que somava treze. Então ela, a Juíza, algo espantada, exclamou:

- Então quer dizer que o senhor teve treze filhos...?

- Inda tenho incelênça... tá tudo vivo...! – respondeu o interpelado, pra não deixar dúvidas.

- Que prole grande o senhor tem, heim...!?!?!? – tornou a magistrada.

- Grande e grossa dotôra... – respondeu o pobre homem.

Dá pra imaginar o que ele entendeu por prole, não é mesmo?

Mas o que mais me intriga e me deixa deveras curioso, é por saber onde a pobre coitada da Juíza enfiou a cara!

* * *

Por um AcausoOnde histórias criam vida. Descubra agora