RETRATO DE FAMÍLIA

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O tempo é imparável, incessável, incontível, irrefreável, ininterrupto e mais o que possa significar a impossibilidade de fazer com que ele interrompa o seu fluir e, por isso mesmo, é também implacável, mormente em relação às transformações da matéria.

Por mais que o homem busque, desde tempos imemoriais, meios para perpetuar a juventude, não chegará a lograr êxito, porquanto é próprio da matéria a constante transformação, por isso que a forma é transitória.

Olhando no espelho diariamente, não percebemos as constantes mudanças que se processam em nosso corpo. Somente quando vemos nossa imagem em fotografias, como espectadores externos, somos capazes de avaliar devidamente a transformação ocorrida e, muitas vezes, nos surpreendemos.

O mesmo ocorre em relação às outras pessoas. Naquelas que vemos diariamente não observamos as alterações, mas quando encontramos alguém que não víamos há muito tempo, as marcas do tempo se fazem visíveis.

Conta-se que certo dia, uma adolescente resolveu vasculhar os álbuns de fotografias da família e, de vez em quando, levantava-se do sofá onde se instalara, para ir até a cozinha perguntar à mãe quem eram as pessoas que apareciam em determinada foto.

Nisso, deparou-se ela com uma fotografia em que a mãe aparecia abraçada com um homem jovem, bonitão e os dois sorrindo e com expressão de apaixonados. Correu então pra cozinha e perguntou ansiosa pra mãe:

- Mamãe...! Quem é esse homem com que você está abraçada nesta foto???

- Ué minha filha...! É o seu pai!!!! Não está vendo?!?!?

- Uai mamãe...! Então quem é aquele careca barri-gudo que está deitado na rede lá na varanda...?!?!?!?! – replicou a garota.

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Por um AcausoOnde histórias criam vida. Descubra agora