Por um Acauso

O PIADO DO JAÓ

De tantas histórias de adultério que já ouvi, ocorridas em tempos idos, especialmente no meio rural, penso que se fosse possível fazer exames de DNA para comprovar a filiação de todo mundo, seria um verdadeiro caos em matéria de sucessão.

Acredito que muita gente deve ter recebido herança sem ter direito e outra porção bem grande deixou de receber o que lhe seria devido.

Numa dessas, conta-se que dois sujeitos, ambos casados e compadres entre si, mantinham relacionamento amoroso com uma senhora também casada, mas nenhum sabia do outro.

A estratégia para os encontros, sugerida pela mulher para os dois, era a seguinte: O amante aproximava-se da casa da amada, logo depois do escurecer e imitava o piado do jaó. Se ela estivesse disponível, respondia ao chamado imitando a mesma ave, de modo que ele ficava esperando. Se não houvesse resposta, não adiantava esperar, ela não poderia vir.

Certa feita um dos amantes, depois de dizer em casa que iria esperar capivara na roça, dirigiu-se para a casa da amada e, de uma clareira num matagal próximo, emitiu o assovio costumeiro, ouvindo imediatamente a resposta.

Êpa! Espera aí...! Mas não foi só uma resposta, foram dois piados quase simultâneos, então ele pensou que um deles seria de um jaó de verdade e tornou a repetir o chamado. Novamente duas respostas.

A mulher, porém, mais esperta, intuiu logo que poderiam ser os dois amantes e parou de responder, aproximando-se sorrateiramente.

Os dois compadres continuaram assoviando e o que chegara por último, imaginando que a amante já estivesse no lugar de costume, foi aproximando-se até que ao chegar à clareira deparou-se com o seu compadre e ambos levaram um baita susto, dizendo a uma só voz:

- Uai, compadre! Ocê tamém...!?!?!?

Sem mais palavras cada um tomou seu rumo e foi embora, ficando a mulher a ver navios.

Segundo consta os compadres ficaram "de mal", nunca mais se falaram, talvez por ciúmes, não é mesmo? Só não se sabe se eles voltaram a visitar a amante.

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