O PREÇO DO BURRO

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Segundo o meu parco conhecimento, o compadrio tem origem religiosa. A escolha dos padrinhos, ao menos no plano ideal, significa a eleição de eventuais substitutos dos pais. Após a escolha dos padrinhos e o batismo da criança, ficam estabelecidas as relações de compadrio.

Contam-se muitas histórias em que essas relações, algumas vezes, porém, podem ir muito além da amizade, especialmente entre compadres e comadres.

Numa dessas, chegando certo dia em visita ao compadre e não o encontrando em casa, um sujeito que considerava sua comadre assaz atraente, resolveu fazer uma tentativa de avançar o sinal e fez a ela uma proposta indecorosa.

A comadre, sem se alterar, respondeu:

- Uai, compadre! Eu vou perguntar ao meu marido, seu compadre, se ele concordar, pode ser que dê certo, não é?

O tal sujeito assustou-se com a resposta da comadre, pois ele sabia o quanto seu compadre era bravo e cioso das suas coisas, para não dizer ciumento, de modo que se viesse a saber de uma tal presepada, ele podia se considerar um homem morto. Por isso tentou voltar atrás, dizendo:

- Não, comadre! Não precisa perguntar não! Vamos deixar isso pra lá... vamos esquecer isso... e eu já vou indo, até mais ver, comadre...! – e foi saindo apressado, mas, por azar, o dono da casa vinha chegando e foi logo perguntando:

- Uai, compadre! Aonde você pensa que vai com essa pressa toda?

- É que eu tenho que ir compadre...! – tentou escapulir o outro.

- Não senhor...! Você não vai embora sem almoçar com a gente não...! Vamos voltar lá pra dentro que sua comadre já deve estar terminando de preparar a bóia...!

Não houve jeito, ele teve que voltar e esperar o almoço, mas na sua cabeça só havia um pensamento: "se a comadre falar, ele vai me matar".

O almoço foi servido e eles sentaram-se à mesa. O Dono da casa puxava assunto, mas o outro, muito sem graça, não conseguia entabular a prosa. O tempo foi passando, a comadre não dizia nada e o visitante já começava a relaxar pensando que ela tinha desistido da ideia de contar ao marido a proposta que lhe fizera.

Quando já pensava que havia escapado daquela embrulhada e já se preparava para levantar e ir embora, a comadre quebrou o silêncio dizendo:

- Meu bem! O compadre me fez uma proposta...

- "Estou mortou!" – pensou o visitante

- Uai, mulher... que proposta é essa?

- Ele ofereceu cinco mil reais naquele burrico velho que nós temos...! – ela respondeu.

- Ficou doido, compadre?!?!? – espantou-se o dono da casa, dirigindo-se ao visitante.

- Ofereci e garanto, compadre!!!!

* * *

Por um AcausoOnde histórias criam vida. Descubra agora