VARA DE FRANGOS

1 0 0
                                    


Vara é o coletivo de porcos, mas nesse caso era uma vara de frangos mesmo. Explico:

Tenho um amigo que é cabeleireiro em Anápolis(GO) e cujo salão tem o mesmo endereço, no centro da cidade, há pelo menos trinta anos.

Era um sábado qualquer, no início da década de 1980 e o meu amigo, que trabalhava sozinho, já havia encerrado o expediente. Devia ser por volta das vinte horas, o último cliente acabara de sair e ele distraidamente varria o salão, a fim de deixa-lo pronto para a segunda feira.

Repentinamente irrompe salão adentro um sujeito com uma vara atravessada nos ombros, cheia de frangos pendurados pelos pés, por meio de peias, anunciando:

- Olha o frango caipira...!!!Depois de recuperar-se do susto, meu amigo antevendo o almoço de domingo com um franguinho caipira ao molho, acompanhado de angu de milho verde, quiabo, abobrinha, arroz e feijão, perguntou:

- Quanto custa o frango?

- Quinhentos cruzeiros... – respondeu o vendedor.

- Todos...? – Brincou o cabeleireiro.

- Não...!!! Cada um...!!! – falou depressa o vendedor.

- E Quantos frangos você tem aí? – voltou a perguntar o provável comprador.

- Oito, e dos bons! – informou o vendedor que já havia colocado a vara com os frangos no chão, contando que conquistara um cliente.

Depois de fazer um rápido cálculo mental, o meu amigo fez a seguinte oferta:

- Eu pago dois mil e quinhentos cruzeiros em tudo...!

O vendedor pensou alguns instantes e disse:

- Negócio fechado...! É tudo seu...!

Meio desconcertado, uma vez que não esperava que o outro aceitasse tão facilmente a proposta, meu amigo ponderou:

- Mas você tem que deixar a vara também, para que eu possa levar os frangos pra casa, certo?

- Tá feito... – respondeu o vendedor.

E assim, depois de feito o pagamento e ficando novamente sozinho, enquanto terminava a arrumação do local de trabalho, avaliava a situação.

Como ele não tinha carro e morava em um bairro muito afastado do centro da cidade, teria que caminhar até o terminal de ônibus que não ficava muito longe do salão, onde embarcaria com a sua "vara" de frangos em um coletivo que o deixaria perto da sua residência. Um pouco desconfortável mas fácil de resolver.

Para sua surpresa, porém, chegando ao terminal foi informado que não era permitido o transporte de animais dentro dos ônibus coletivos urbanos.

Um tanto contrafeito, dirigiu-se a um ponto de táxi que ficava próximo dali, mas o resultado foi idêntico, nenhum dos taxistas se dispôs a transportá-lo com a sua incômoda "bagagem", de modo que a ele não restou solução senão marchar a pé para casa, onde só foi chegar depois das onze da noite e, para seu maior desgosto, a recepção não foi das mais agradáveis.

Primeiro sua esposa queria saber por onde ele andara até uma hora daquelas (naquele tempo não tinha telefone celular) e depois, ao ver aquele monte de frangos, a bronca aumentou, pois eles não dispunham de espaço para mantê-los vivos e não tinham congelador para guardá-los depois de limpos, além da trabalheira sem fim que seria a preparação.

A melhor solução que se apresentou foi transformar-se temporariamente em vendedor de frangos.

Então, no domingo de manhã, deixando um dos frangos para o almoço, ele dirigiu-se com os outros, pendurados na vara, a uma feira-livre que funcionava perto da sua casa, onde depois de muita canseira, além da gozação dos amigos que encontrava, conseguiu desfazer-se das aves, isso após baixar o preço até o limite do valor que pagara por elas, de modo que não obteve nenhum lucrinho para compensar o sofrimento.

Mas, segundo meu amigo, daquela vara (o pau de transportar os frangos) ele nunca iria se desfazer, para não esquecer e nunca mais se meter numa embrulhada daquelas.

* * *

Por um AcausoOnde histórias criam vida. Descubra agora