ASSOMBRAÇÃO À LUZ DO DIA

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Minha Mãe contava que na época da sua adolescência e até na juventude, a casa do seu Pai, meu avô Francis-co Romualdo de Oliveira ou simplesmente Chico Chumbo, na fazenda, geralmente aos domingos, regurgitava de gente. Eram irmãos e irmãs, cunhados e cunhadas, com as respec-tivas famílias, parentes e, como se dizia, aderentes.

Isso provavelmente ocorria, por ser ele o mais ve-lho de uma irmandade de quinze irmãos, além de contar pouco menos do que isso entre cunhados e cunhadas, irmãos da minha avó Maria Emília e também, ao que parece, por ser o líder religioso da família.

Domingo então, na casa do Seu Chico (era assim que os irmãos o tratavam), era uma verdadeira festa.

Numa dessas, já por volta das quinze horas, mo-mento em que aqueles que moravam mais longe começavam a se aviar para partir, começou-se a ouvir gritos e choro femininos de desespero. Os que estavam ali pelo curral, logo perceberam que os gritos vinham de um pasto que fi-cava do outro lado do córrego que passava aos fundos da sede da fazenda.

Nisso, todos já tinham se reunido na entrada da fa-zenda procurando saber o que estava acontecendo e logo avistaram uma mulher que, com um longo vestido branco, caminhava de um lado para outro no meio do pasto, como que procurando algo que houvesse perdido, ao mesmo tempo que gritava e chorava.

Num primeiro momento, pensaram que pudesse ser uma das mulheres da família, mas logo fizeram uma verificação constatando que todas estavam ali.

Quem poderia ser então? E o que estaria fazendo na-quele local, uma vez que naquela direção hão havia moradores? O jeito era ir lá verificar.

Quem se dispôs a ir até lá, segundo o relato de minha Mãe, se minha memória não me trai, foi um irmão de minha avó Maria Emília, meu tio avô portanto, o tio Ben-jamim, que conhecemos sempre como tio Bêjo.

É preciso deixar bem esclarecido que era dia cla-ro e que não foi um ou outro que ouviu os gritos e viu a mulher, todos que ali estavam, viram, ouviram e acompa-nharam o que se seguiu.

O tio Bêjo, montando em seu cavalo que já estava arreado, saiu a trote em direção ao pasto.

Os que estavam observando viram-no desaparecer às margens do córrego, onde o arvoredo era denso, para logo reaparecer do outro lado, próximo de onde caminhava a tal mulher e viram também ele passar ao lado dela, indo e vindo numa e noutra direção, sem dar mostras de que a estivesse enxergando nem ouvindo, apesar de todos continuarem vendo e ouvindo os gritos e o choro.

Depois de dar várias voltas no pasto o tio Bêjo vol-tou e, assim que ele atravessou o córrego, todos deixaram de ver e ouvir a mulher e, segundo o relato dele, conforme minha Mãe me contou, quando estava indo em direção à mulher, logo que passou o córrego deixou de vê-la e de ouvir os gritos.

Acreditar? Sim! Foi minha Mãe quem me contou, ela estava presente e, ademais, outras pessoas, descendentes dos que presenciaram esses fatos, devem ter ouvido a história.

Desvendar ou explicar? Não sou capaz.

Conjeturar? Não me atrevo.

Cada um, conforme aquilo que acredita, pode encontrar a explicação que lhe satisfaça, se não, fica o mis-tério.

* * *

Por um AcausoOnde histórias criam vida. Descubra agora