ASSOMBRAÇÃO ASSOMBRADA

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Assombração deve ser qualquer coisa que assombra, que assusta ou que mete medo, mas, de um modo geral, o termo é associado às coisas ou ocorrências ditas sobrenaturais e aparições fantasmagóricas.

Em tempos mais recuados, principalmente no meio rural, ouviam-se muitas histórias de assombrações. Falava-se muito de casas ou determinados lugares "mal-assombrados". Dizia-se que os espíritos de pessoas que foram, durante a vida, muito apegadas aos bens materiais, depois de mortas continuavam vagando por suas antigas propriedades, no afã de impedir que outros tomassem posse delas. São as famosas "almas penadas", ou como dizia minha filha caçula quando bem pequenina, fazendo a gente rir muito: "almas depenadas". Hoje em dia, infelizmente, não se contam mais essas e nem outras histórias, ao pé do fogão.

Na juventude e mesmo depois de mais "crescidinho", uma das minhas diversões favoritas era assustar e, como a gente falava, passar medo nas pessoas. Cheguei, muitas vezes, a me fantasiar de andarilho (falávamos: maleiro) e até de assombração, saindo em noites de sexta feira da paixão, para assombrar pessoas, geralmente conhecidas. Sofri alguns percalços por conta dessas brincadeiras, mas isso faz parte de outra história.

Conta-se que um sujeito, de índole certamente semelhante à minha, sabendo que um compadre seu viria à noite para sua casa, a fim de auxiliá-lo em uma tarefa no dia seguinte e que, necessariamente, usaria a estrada que passava ao lado do cemitério da fazenda, que era muito antigo, idealizou um plano para assustar o amigo.

Preparou um grande lençol branco, com o qual iria se cobrir, a fim de parecer um fantasma, dentro do cemitério onde pretendia esperar o compadre. Fez dois furos para os olhos, o que lhe rendeu uma bronca da esposa e arrumou um barbante para prender em volta da cabeça.

Esse nosso personagem, tinha em casa, como animal de estimação, um macaco prego, que é bicho dos mais traquinas. O tal macaco adorava imitar o que as pessoas faziam e, fazendo isso, muitas vezes causava problemas e principalmente provocava constrangimentos.

Logo que escureceu o nosso amigo, jogando o lençol dobrado no ombro, seguiu para ao cemitério, que ficava a uma distância de mais ou menos dois quilômetros da casa.

O que ele não percebeu, foi que o dito macaquinho, apanhando também um pano branco, talvez uma toalha ou uma roupa qualquer, o seguiu.

Chegando ao "campo santo", entrou pelo portão que não tinha tranca e escolheu um local, sobre um dos túmulos mais altos, de onde seria visto facilmente por quem passasse na estrada, que ficava logo ali, do outro lado do muro, que tinha pouco mais de um metro de altura.

Pouco mais de uma hora de espera, lá vem o compadre, assoviando uma melodia em voga, montado em seu alazão, que seguia a passo lento.

Assim que ele chegou num ponto de onde veria a "assombração", aquele que fazia a representação ficou em pé sobre o túmulo e começou a agitar os braços, subindo e descendo, fazendo esvoaçar o lençol branco.

Antes, porém, que o outro tivesse tempo de ver a presepada, o nosso fantasma percebeu um movimento do seu lado esquerdo, um pouco mais para trás, sobre um túmulo mais baixo, e ao olhar viu outro fantasma, bem menor, se movimentando da mesma forma que ele.

Tamanho foi o seu susto que nem se lembrou de desvestir o lençol. Saiu correndo, saltou o muro do cemitério sem sequer usar as mãos e disparou estrada a fora, com o macaco, pois não era outro o fantasminha, no seu encalço.

E lá se foram, o fantasminha correndo atrás do fantasmão.

O compadre, que num relance compreendera o que tinha ocorrido se contorcia de tanto rir.

Por um AcausoOnde histórias criam vida. Descubra agora