O DUQUE E A ONÇA

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O Duque era um cachorro grande, experiente e exímio caçador de onças. Tinha muitas cicatrizes pelo corpo, especialmente nas orelhas e na cara, resultado de alguns enfrentamentos com bichos menores, como quatis, queixadas, caititus (catetos) entre outros, porque onça mesmo não dava pra encarar, ele sabia disso. Nesse caso, sua função se limitava a correr atrás, obrigando a bichana a procurar refúgio, geralmente nos galhos de alguma árvore, e então ficar acuando até a chegada do caçador.

Mas o duque tinha um defeito: era tarado por onças. É isso mesmo! Ele era tarado pelas bichanas no sentido sexual mesmo! Mas como não dava pra pegá-las vivas, ele esperava que o caçador atirasse e quando a gata vinha ao chão, já nas últimas, mas ainda quentinha, ele corria lá e crau...! Traçava a danada.

Isso, evidentemente, era motivo de orgulho para o seu dono, que sempre se gabava da macheza do seu cão de caça, e a fama dele se espalhou por toda a região, como o cachorro "comedor" de onça.

O dono do Duque também era um experiente caçador e às vezes saía para caçar sozinho, ou melhor, só ele e o seu fiel companheiro.

Certa vez ele chegou de uma caçada, com as roupas em frangalhos, além de vários arranhões pelo corpo e não explicou a ninguém o que acontecera, mas como não voltou a caçar durante muito tempo, os amigos pensavam que ele tivesse sofrido o ataque de uma onça e por isso ficara com medo.

Passados alguns meses, um compadre do dono do Duque, que morava em uma fazenda mais distante, veio procura-lo para que o ajudasse a matar uma onça que estava dizimando seu rebanho.

Chegado o dia combinado para a caçada, lá se foram eles com suas carabinas a tiracolo e o Duque todo assanhado seguindo na frente.

Alcançada a vereda onde tinha ocorrido o ultimo ataque, não demorou muito para que o cachorro farejasse a "batida" da onça, iniciando a perseguição. Os compadres seguiram atrás forçando os cavalos ao galope.

Depois de algum tempo começou a acuação dentro de um capão de mato, de modo que os caçadores tiveram que amarrar as montarias na orla para penetrar a pé no matagal.

Chegando ao local da acuação, depararam-se primeiro com o Duque olhando para cima e latindo e ao olhar na mesma direção que o cão, viram a onça em um galho bem alto, era uma baita pintada.

Como o dono do Duque era mais experiente, ficara combinado que ele atiraria e foi o que fez. Mortalmente alvejada a bichana começou a cair, mas ficou presa em uma forquilha logo abaixo do galho em que estivera agarrada.

O Duque estava quase subindo pelo tronco da árvore, latindo ansioso.

Como o seu compadre era mais velho e pesadão, o dono do Duque não teve outro remédio senão subir na árvore para desprender e derrubar a onça, mas antes ele disse ao amigo:

- Cumpade, eu vou subi lá pa derrobá a onça, mais ocê fica preparado, purquê si aconticê d'eu caí primêro, ocê prega fogo no Duque, viu?

* * *

Por um AcausoOnde histórias criam vida. Descubra agora