UM VÍCIO BEM ESQUISITO

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Todo mundo sabe que eliminar um vício qualquer não é fácil. É preciso muita opinião e força de vontade para conseguir libertar-se.

Um dos vícios mais comuns na nossa sociedade é o tabagismo, que apesar de ter diminuído muito nas últimas décadas, ainda escraviza milhões de pessoas ao redor do mundo.

É bem certo que existem vícios muito piores, haja vista a praga das drogas ilegais.

Houve um tempo em que era muito comum os lavradores, como foi o caso do meu pai, ficarem acampados ou morando mesmo, dentro das roças, especialmente em épocas bem específicas, como do plantio e da colheita. Geralmente a moradia era um rancho de pau-a-pique, coberto de capim, ou só de palha de arroz mesmo, tanto as paredes como o teto.

Conta-se que numa dessas, dois compadres estavam acampados lá no rancho da roça que tocavam em sociedade, ou à meia, como se dizia.

Um deles era tabagista inveterado, pitava lá o seu "pito de páia", como diz o mineiro, e pitava muito. O outro tinha aversão ao cigarro e quase não suportava o cheiro da fumaça do tal fumo de rolo, que parecia persegui-lo, sempre que estava perto do compadre.

Certo dia o que não fumava teve uma ideia, não sei se alguém ensinara a ele ou se a ideia foi própria, mas ele resolveu tomar uma atitude para fazer o compadre deixar o vício. Não se sabe também se aquilo era pra ser um remédio ou só uma "simpatia". O fato é que ele passou a adotar o seguinte procedimento:

Todos os dias, pela manhã, enquanto o outro saíapara fazer a higiene matinal, ele pegava o pedaço de fumo de rolo que o compadre vinha usando e que ficava sobre um jirau dentro do rancho junto com as palhas e o canivete e esfregava no "fiofó", voltando a colocar no mesmo lugar.

Não demorou muito dias para que o compadre fumante reclamasse dizendo:

- Cumpade...! Eu num sei o que qui tá aconticeno, mas esse fumo qui eu tô usano tá cum chêro muito isquisito, tá fidido pa muléstia...!

- Uai cumpade...! Intão larga esse vício disgramado dum'a vêis sô...! – aproveitou o outro para aconselhar.- É... eu tô inté pensano nisso memo...! – ponderou o fumante.

Passaram-se mais alguns dias. O que não fumava continuava com a mesma prática de esfregar o fumo no "oritimbó" e o outro sempre reclamando, até que um dia ele afirmou categoricamente:

- Cumpade...! Tá risurvido! Doje em diante eu num pito mais...! Esse trem tá muito rúim, tá me dano inté ânsia de vômito...! Vô largá disso dum'a vêis memo, du jeito qui ocê me aconseiô...!

E largou mesmo, mas parece que o feitiço virou contra o feiticeiro:

O compadre que não fumava, nunca mais conseguiu deixar de esfregar o fumo de rolo no "Zé de quinca", viciou.

* * *

Por um AcausoOnde histórias criam vida. Descubra agora