ESTRANHO ASSADO

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Geralmente, desde a mais tenra idade, algumas características da índole da pessoa já começam a aparecer. Tem crianças que são dóceis e cordatas desde o colo, outras são agitadas, choronas, birrentas e à medida que crescem, algumas se mantêm tranquilas e obedientes, outras são traquinas e teimosas, verdadeiros diabretes, mas tem também as que são chatas, irritantes, pedantes, enjoadas mesmo.

É claro que isso não significa que a pessoa levará para a idade adulta essas mesmas características, especialmente as negativas, até porque é para isso que serve a educação, para modificar propensões, corrigir distorções, moldar o caráter.

A missão dos pais e educadores em geral, mas da mãe em especial, não é fácil. É preciso ter muita paciência para não perder a estribeira em certos casos.

A quantidade de informações que, nos dias de hoje, chegam à criança, desde muito pequena, por todos os meios de comunicação, mas principalmente a televisão e internet, faz com que ela sinta-se muito sabida e, muitas vezes, se rebele contra as regras estabelecidas. É preciso ter muita habilidade para, sem recorrer aos castigos, manter a autoridade e conseguir educar.

Mas tratando-se de chatices de moleques, tem certas situações que é melhor sair de perto, para não incorrer na vontade de infringir a lei da palmada.

Um dia desses, entrei no saguão de um banco, no horário noturno, para fazer um depósito no caixa eletrônico. Logo depois de mim, entrou uma jovem mãe, de uns vinte e poucos anos, imagino, trazendo um filho de uns quatro ou cinco anos, que já entrou aos berros, chutando e socando as pernas da mãe. Não dava pra entender o que ele dizia pra saber o motivo da birra.

Enquanto estive ali (procurei ser o mais rápido possível para não ficar presenciando aquela cena), o guri gritava, chutava e estapeava a mãe e ela, pacientemente, enquanto tentava fazer algum procedimento no caixa ao lado do que eu estava, repetia:

- Para com isso meu filho! Não faz assim...!

Eu fui embora.

Mas dizem que tem situações ainda piores.

Conta-se, o que só pode ser uma anedota, que um moleque, desses chatos e birrentos, recusava-se a comer o que a mãe oferecia. Nada que ela mostrava ou sugeria servia para o diabinho.

- Come a carninha meu filho...! – dizia a mãe.

- Não queeero...! É ruiiim... – gritava o guri.

- Experimenta a banana...! – tornava a coitada.

- Nããão... não preeesta...! - berrava o moleque.

- Você quer um iogurte? – oferecia a mãe.

- Não, não e nããão...!!!

Depois de inúmeras tentativas, já no limite da paciência, a mãe propôs:

- Então diz pra mamãe o que você quer meu filho!

- Bosta assada! –

- O quêêê... ! – assustou-se a matrona.

- Só vou comer se for bosta assada...! – repetiu o pirralho.

- Meu filho, mas isso não se come...! – tentou dissuadir a mãe.

- Eu queeero...! – chorava o fedelho.

A pobre genitora então, provavelmente só pra pirraçar um pouquinho também, foi ao quintal, era na fazenda, e encontrou um pedaço de fezes já seco, não se sabe se humana, canina ou de outra origem, colocou eu uma bandeja de alumínio e levou ao forno até torrar. Feito isso, apresentou a "iguaria" ao catraio, dizendo:

- Aí está meu filho, o que você pediu...!

- Agora você tem que experimentar primeiro...! – exigiu o sacana, fazendo a mãe perceber que o tiro saíra pela culatra.

- Não meu filho, foi você quem pediu...! – tentou escapar a mãe.

- Então eu não como...! – voltou a berrar o pimpolho.

A mãe então, quebrando uma pontinha daquela "coisa", numa parte que estava bem torradinha, colocou na boca e disse:

- Tá bem meu filho! Já experimentei, agora pode comer...!E ele:

- Não queeero...! Você comeu o pedaço que eu queria...!

- ?!?!?!?

Por um AcausoOnde histórias criam vida. Descubra agora