Quinze.

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AVISOS: Esse capítulo, assim como todos os outros, contém assuntos sensíveis como violência não-explícita e menção à drogas.


Desde pequeno, Wonwoo jamais sentiu o desejo de questionar as pessoas. Sua mente ia sempre além e ele estava sempre se ponderando o porque das coisas acontecerem, sobre o destino, o acaso, sua curiosidade era infinita, mas ele parecia perder todo o seu desejo de conhecimento quando se tratava de pessoas físicas. Talvez fosse sua personalidade retraída, seu jeito tímido, mas ele nunca quis saber. Aceitava coisas absurdas, ignorava sinais óbvios, fingia-se de cego aos mais claros indícios, tudo para que jamais se metesse em confusões. Seu jeito omisso já irritou muitos, mas ele nunca deu o braço a torcer.

Sua criação foi bem simples; criado numa família nuclear, ele sempre foi culto graças aos seus pais, um professor e uma analista. Seu irmão mais novo sempre foi mais inocente e descuidado, o que claramente influenciou nos destinos de ambos quando o caçula se tornou pintor e o primogênito seguiu o ramo policial. A criação foi a mesma, mas era assustadora a enorme diferença de personalidade entre os Jeon. Não fosse pela aparência, ninguém conseguiria dizer que eles eram irmãos de sangue.

Isso sempre influenciou o ruivo em suas amizades, vínculos sociais e até mesmo relacionamentos amorosos — sua indiferença sobre pessoas e sentimentos sempre tornou o rapaz alguém difícil de se amar e conviver. De fora era estranho ver um rapaz com um futuro tão promissor sempre sozinho e calado, mas era fácil desvendar o motivo ao conviver com ele por um curto período que fosse.

Foi justamente por isso que o oficial sentiu-se tão incomodado com aquele desejo primitivo, quase visceral, tomando conta de si como uma doença contagiosa, matando seus neurônios, apodrecendo seus tecidos, devorando sua carne. Ele não sabia o que fazer, mas estava extremamente curioso sobre a conduta de seu superior, Choi Seungcheol.

Wonwoo nunca sentiu inveja de seu superior. Muito pelo contrário, ele sempre admirou o mais velho desde seus primeiros dias na corporação e até mesmo o via como uma figura paterna, apesar da mínima diferença de idade. O conhecia há anos, mas ao mesmo tempo o mais velho parecia uma completa incógnita e isso era perturbador se tratando de alguém tão extrovertido como o outro.

Uma das vantagens de ser tão retraído era ser bom observador, e não foi necessário muito tempo para que o mais novo percebesse o comportamento estranho e, secretamente, suspeito de seu superior. Sempre parecendo estar escondendo algo, visitando o distrito da luz vermelha fora de serviço, estando na rua até tarde, fugindo de assuntos profissionais, tudo aquilo estava borbulhando na mente de um rapaz descobrindo o sentimento da curiosidade. Ele queria saber. Precisava.

Precisou anotar em um papelzinho o que queria perguntar ao Choi por não saber usar bem suas palavras, de tão pouco que o Jeon falava. Passou um bom tempo caminhando no banheiro enquanto se preparava para ir até a delegacia e até mesmo ficou batendo a cabeça contra a parede, mas sabia que seus sentimentos pífios haviam vencido a racionalidade e que ele não conseguiria dormir tranquilo enquanto não matasse a curiosidade.

Ficou horas esperando, sentado em sua mesa. Seus olhos cansados agora apenas passavam preguiçosamente pelas letras nos arquivos, sequer conectando as palavras para formar frases, e seus dedos tamborilava na mesa, arrastando as unhas na madeira até pequenas lascas se juntarem à sujeira que o rapaz escondia na falange. Nem se dava mais o trabalho de olhar para o relógio, sabendo que os ponteiros não estavam ao seu favor naquele dia.

— Boa tarde. — Arregalou os olhos, olhando para a porta.

Um calafrio percorreu seu corpo ao ver o investigador da polícia passando por si e indo até seu escritório, fechando a porta. Engoliu em seco e apertou as mãos em punho, suspirando antes de se levantar e caminhar em passos lentos pelo caminho que o outro fez. Sua mão se ergueu na direção da maçaneta e tremulou, mas logo seus dedos longos se engancharam ali e abriram a porta.

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