Dezesseis.

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AVISOS: Esse capítulo, assim como todos os outros, contém assuntos sensíveis como sexo não-explícito, menção à uso de drogas, menção à problemas familiares, menção à obsessão e perseguição compulsiva.


Como sempre, Minghao não sabia apreciar sua solidão. Ele podia se descrever como alguém completamente biruta, pois odiava quando estava sobrecarregado de pessoas ao seu redor mas odiava na mesma intensidade estar sozinho, afogado no limbo de solitude que lhe envolvia nos poucos momentos em que não estava com as pessoas que prezava por perto.

Era irônico e até mesmo um pouco frio o modo que a independência do chinês de não precisar de ninguém por perto foi substituída pela constante necessidade de atenção e companhia depois que fugiu de casa e conheceu novas pessoas. Ele era como um sapo com sede à beira de um rio com a mais água doce, depois de passar a vida inteira encarando uma simples poça com um crocodilo dentro dela.

Beber do cálice divino lhe deixou sedento até demais, num ponto sufocante, então logo o rapaz se viu vestindo seu agasalho enquanto praguejava baixinho, se amaldiçoando por ser tão insuportável e dependente. Não lhe admirava ter tão poucas amizades mesmo tendo vários contatos e tanto prestígio, o que era incomum demais para um cara milionário.

Enquanto se aprontava, tentou ligar para Seokmin, mas este sequer lhe atendeu. Jihoon havia lhe dito que o chefe estava em sua cola por causa de suas escapadas, então não era uma boa ideia lhe incomodar. Chegou a pensar em Junhui, mas além de ainda ter medo do rapaz e saber que ele queria matá-lo, sabia dos riscos que a proximidade entre eles podiam causar graças ao policial na cola de ambos.

Devidamente vestido e agasalhado, Minghao desceu para a garagem e entrou em seu Jaguar F-Type Roadster sem pressa, colocando a chave na ignição. A verdade é que o chinês sabia dirigir e tinha seu próprio carro, mas por causa dos fãs e paparazzis resolvia não usá-lo na maioria das vezes. Dirigir acabava sendo um mimo terapêutico, já que era uma das poucas coisas que o rapaz podia fazer por conta própria, sem precisar consultar ou depender de ninguém.

Com a ajuda do GPS do automóvel, logo o carro saiu do prédio e estava transitando nas ruas com o teto fechado. Os dedos finos do escritor tamborilavam no volante vez ou outra e seus lábios murmuravam bem baixinho a melodia saindo do rádio, lhe fazendo balançar a cabeça sutilmente no ritmo da música. Era um dia bom, ele sabia disso.

O carro parou na frente do portão automático de um dos vários condomínios do bairro e logo entrou no estacionamento, fazendo o rapaz descer do veículo e trancá-lo. Colocou as mãos no bolso e foi assobiando com calma até o elevador, apertando no andar já conhecido e se apoiando no vidro enquanto esperava a caixa metálica parar no andar.

O som agradável do sino indicou que o elevador havia parado e as portas se abriram, dando passagem para o chinês caminhar até o corredor e parar na frente de uma das portas. Seus dedos ergueram o tapete e tiraram do piso uma chave, clichê porém certeiro. Ainda assobiando Minghao abriu a porta, mas seu assobio morreu nos lábios ao se deparar com o cenário na sala.

De bruços, com os pulsos algemados e o nariz sangrando estava Soonyoung, completamente pelado e com os olhos revirados quase para dentro das órbitas. Restos de uma carreira de cocaína estavam espalhados por suas costas, insinuando uma prática perversa. Acima de si estava Seokmin, com pó branco no nariz e uma das mãos apoiada no braço do sofá, enquanto a outra usava a algema de apoio. Ele estava enterrado até às bolas dentro da bunda do traficante, que estava marcada por palmadas e por um objeto que o escritor não identificou — e nem queria.

O secretário arregalou os olhos e caiu em silêncio quando encontrou com seu amigo parado na porta, congelado, recebendo um resmungo manhoso do moreno que não entendeu o motivo da parada. Logo, seus olhos marejados focaram-se na figura quieta no batente da porta e também se arregalaram, seus lábios se entreabrindo para dizer algo mas deixando apenas ar sair. Os três ficaram se encarando, com o casal ainda engatado um no outro.

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