Dezenove.

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AVISOS: Esse capítulo, assim como todos os outros, contém assuntos sensíveis como problemas familiares, menção à uso e venda de drogas e invasão de privacidade.


Soonyoung era, de fato, um homem que era a definição exata de dualidade. Ele era tão perigoso que parou de ser procurado pela polícia ou perseguido por outros traficantes e gangues locais — literalmente ninguém queria entrar no caminho dele.

Mas sua outra metade, a frágil, parecia até mesmo ser outra personalidade, quase como se o rapaz estivesse dividindo o controle de sua mente com duas pessoas completamente diferentes e distintas no modo de agir. Era assustador para aqueles que conheciam os dois lados de Kwon Soonyoung.

Seokmin era um dos poucos, tendo amolecido o coração do traficante com tanta facilidade que ficaria espantado se soubesse o quão frio seu ficante podia ser quando se tratava de seu trabalho e outros assuntos pessoais. Era até difícil acreditar que ele trabalhava com drogas depois de tê-lo na palma de sua mão, apesar de ter como prova toda a mercadoria espalhada pela casa do moreno.

Os outros, que não o conheciam de verdade, ficariam realmente espantados ao vê-lo todo murchinho olhando sua paixão largada na cama, de bruços, com a cara enterrada no travesseiro enquanto seu corpo tremia com os soluços baixinhos que ele soltava, abafados na colcha.

Se sentou na beirada do colchão e alisou as costas do mais novo devagar, sem saber exatamente que tipo de palavras usar. Abraçou-o por trás até sentí-lo se acalmar e se afastou um pouco, resolvendo dar espaço ao Lee. Logo, ele se virou de barriga para cima e encarou o mais velho com os olhos marejados e vermelhos, assim como seu nariz.

— Ah, Seok, não faz essa carinha... Não sabe o quanto tá me doendo ver você assim. — Murmurou o moreno, abrindo os braços para acolher o rapaz, que se atirou em si e o apertou. — Tem algo que eu possa fazer? Sério, é só me dizer.

— Não, hyung... Isso é algo que deveria ser iniciativa do Hao, não sua... — O outro respondeu bem baixinho, com a voz rouca de tanto chorar. — É que... Eu tô tão chateado, sabe? Não só com ele, mas comigo. Eu contei pra ele sem poupar detalhes que eu tô apaixonado por um traficante, mas mesmo comigo sabendo de praticamente tudo, ele me escondeu várias coisas dele. Será que eu sou um amigo tão ruim assim, pra ele não confiar em mim?

— Olha, eu acho que o Hao tá sendo um pouco... merda como amigo de estar escondendo as coisas assim de você, mas acho que ele tem algum motivo. Sei lá. — Soonyoung começou, escolhendo bem as palavras que usaria. — Eu mesmo menti muito pra uma pessoa no passado sobre a minha vida, até o dia em que a verdade veio à tona e ela quase foi pra cadeia por minha culpa. — Mordeu o lábio inferior. — Talvez seja a forma do Hao proteger você de alguma coisa que tá acontecendo.

— Mas se ele mentir pra me proteger, quem vai protegê-lo? — Seokmin choramingou, recebendo algumas esfregadas rápidas nas costas quando o mais velho sentiu que ele ia voltar a chorar.

— A gente pode não saber o que tá acontecendo, mas ainda podemos ajudar o Minghao se ele precisar. — Tranquilizou o secretário, que pareceu considerar a ideia. — Olha, eu não sei o que ele tá escondendo, mas posso tirar sua curiosidade sobre aquele cara que veio comigo no elevador.

O brilho nos olhos de Seokmin retornou e ele ergueu a cabeça, dando uma última fungada antes de esfregar o rosto e respirar fundo, engolindo o choro. Em troca disso, recebeu um selinho, que lhe fez abrir um sorriso largo.

— Aquele era o Junhui. Wen Junhui, sendo mais exato. — Soonyoung disse, traçando formas nas costas do mais novo com as pontas dos dedos. — Quando eu comecei a expandir minhas vendas de drogas na China, eu acabei ficando meio... quebrado? Não é bem a palavra certa, é que eu queria gastar com algumas coisas e a grana não ia dar pra tudo. — Fez careta ao se lembrar daqueles tempos difíceis, recebendo uma risadinha em troca. — O Junhui é agiota, então eu peguei grana com ele, consegui o que eu queria e aí devolvi a grana logo depois. Não somos amigos nem nada, até porque isso já faz uns sete anos e ele sumiu do mapa de uns tempos pra cá, mas agora ele tá aqui. Fico me perguntando o que ele veio fazer.

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