Seis.

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AVISOS: Esse capítulo, assim como todos os outros, contém assuntos sensíveis como overdose, tentativa de invasão e assassinato, menção à uso indevido de drogas e agressão.


Desde o dia em que chegou no Japão, a rotina do oficial Choi estava sendo relativamente tranquila. É claro, estava tendo muito trabalho com as investigações na delegacia de Shinjuku e de vez em quando desejava estar de volta na Coreia, onde podia descansar, mas desde que se tornou o investigador policial cabeça da Operação Pequim ele não sabia nem mais qual era a cor ou gosto de uma folga.

Porém seu parceiro, o oficial Jeon, estava sendo de grande ajuda assim como o resto da corporação, porque mesmo com algumas barreiras linguísticas ou métodos de trabalho diferentes todos cooperavam com suas tarefas e a delegacia era harmoniosa, deixando claro que não era por destino que ele estava trabalhando ali agora. O peso que costumava carregar nas costas pelo alto cargo que tinha antes era bem dividido.

O que parecia descompadrar-se de sua rotina tranquila eram as chamadas na rua. O oficial Choi já estava acostumado a atender chamadas pequenas, como para intervir em discussões, ser o reforço, coisas pequenas e que ele já estava acostumado a lidar no seu dia-a-dia como oficial da lei — mas no Japão era completamente diferente.

Ele já tinha escutado alguns rumores em sua antiga delegacia e seu próprio superior lhe alertou pessoalmente antes de sua viagem sobre um determinado lugar em Shinjuku, mas não quis se abalar ou se assustar antes da hora. Acontece que agora, vendo com seus próprios olhos, era difícil não acreditar nos rumores sobre Kabukicho.

Um distrito de luz vermelha, o local não só era lotado de prostíbulos como também cartéis de drogas, casas de apostas e até mesmo alguns pontos de encontros Yakuza, o que fazia com que a violência e chamadas policiais fossem muito mais recorrentes naquela única área específica. Não era muito difícil para o rapaz ver seus colegas saindo para atender chamadas naquele distrito, sempre envolvendo brigas ou até mesmo mortes. Mal sabia ele que seu dia chegou.

— Oficial Choi! — Ouviu a voz de seu superior.

— Sim, senhor! — Respondeu, tomando um gole de seu café.

— Temos uma ocorrência em Kabukicho e todos os outros oficiais estão ocupados. — Choi empurrou a bochecha interna com a língua e suspirou discretamente. — Acha que dá conta do recado?

— Sim, senhor.

Pegou a chave de uma das viaturas no chaveiro e saiu, ajeitando sua farda no caminho. Sua expressão passiva e sorridente foi se desfazendo até que ele finalmente entrou dentro do carro com o rosto carrancudo, as sobrancelhas unidas em nítida chateação enquanto seus lábios formavam uma espécie de bico.

— Faça concurso pra investigador, Seungcheol, você nunca mais vai ter que atender chamadas na rua. — Imitou seu antigo superior, pondo a chave na ignição. — Eles vão respeitar seu cargo no Japão, o Wonwoo quem vai pegar as suas chamadas, não se preocupe. — Riu sem humor, arrancando com o carro. — Conversinha fiada de merda.

Ligou a sirene da viatura e foi dirigindo o mais rápido que podia pela rua relativamente vazia, não demorando para chegar em Kabukicho. Seguiu o endereço específico pelo GPS do veículo e então encontrou o lugar logo de cara, vendo uma aglomeração enorme de homens e mulheres seminus em volta de um único homem caído e ferido.

Desceu da viatura com um par de algemas na mão e a pistola no coldre, batendo palmas para chamar a atenção daquelas pessoas. Parte do movimento se dispersou logo assim que o policial chegou e isso aumentou seu ego, mas algumas outras ainda se mantinham perto.

— Ok, ok, todo mundo saindo de perto. — Ordenou, se abaixando perto do homem. Ele tinha apanhado bastante, o que fez o oficial olhar em volta. — O que aconteceu aqui?

— Ele tentou invadir o dormitório das meninas e atacá-las! — Um dos rapazes disse, abraçado a uma menina. Pôde ver seu pijama desabotoado e suspirou.

Algemou o homem e o levou até a viatura, o prendendo lá. Travou a porta e suspirou antes de voltar na direção do bordel, cruzando os braços e olhando para aquelas pessoas com um olhar indecifrável, mas que claramente deixou todos ali um pouco tensos enquanto tentavam adivinhar o que mais o policial queria ali.

— Quem é o... representante daqui? — Seungcheol perguntou, não recebendo uma resposta imediata. — Preciso conferir a regulamentação do local e checar as condições. Bordéis são ilegais, sabem disso.

— Por favor, senhor, não faça isso.

Uma voz doce soou, chamando a atenção do policial. No meio daqueles prostitutos assustados surgiu um rapaz lindo feito um anjo. Seus cabelos estavam tingidos num tom escuro de azul e ele usava um roupão de seda transparente, revelando seu torso malhado. Ele caminhou em passos lentos até o oficial da lei e enganchou-se em seu braço, encostando seu peitoral saliente nos bíceps do moreno.

— Se o bordel fechar, não teremos para onde ir... — Os olhos castanhos do prostituto desceram do rosto alheio para seu distintivo, subindo de novo. — Não vamos mais arrumar problemas, senhor Choi. Por favor.

Seungcheol sabia que era antiético, sabia mais do que qualquer um, mas não conseguiria fazer aquilo. Não com o rapaz mais bonito que já colocou seus olhos lhe pedindo com tanto carinho, com aqueles olhos persuasivos, os lábios bonitos lhe suplicando, aquilo era demais para si. Apenas suspirou e ajeitou seu quepe, mordendo o lábio inferior antes de se desvencilhar do toque alheio e retornar para a viatura, entrando. Acelerou devagar e passou pelos prostitutos, vendo o olhar do azulado lhe acompanhar até sumir. Com o coração acelerado, Seungcheol salvou aquele endereço no bloco de notas de seu celular.


...


Minghao acordou com a cabeça latejando e resmungou bem baixinho enquanto tentava se mover, mas os braços fortes de Seokmin o impediram e logo o acastanhado já estava lhe abraçando apertado, lhe arrancando um gemido bem baixinho de dor. Por cima dos ombros largos alheios, o mais novo pôde ver o olhar sério e indignado de Jihoon em si, o que lhe fez dar um sorriso amarelo.

— Duas overdoses no mesmo dia, Xu Minghao. Francamente... — Negou com a cabeça.

— Eu te disse pra contar comigo pro que precisasse! — Seokmin choramingou, segurando no rosto alheio com as duas mãos. — Por que fez isso, ein?!

— Eu... Eu não sei. — Minghao se deu por vencido, suspirando. — Desde ontem eu tô tão nervoso que não sei mais o que fazer.

Jihoon alisou a mão do melhor amigo enquanto ele era abraçado por seu secretário, o que deixou o chinês um pouco mais confortável e calmo. De repente ele suspirou de forma pesada, chamando a atenção de suas duas companhias.

— Acho que tem alguém me seguindo. E não é um stalker comum. É alguém profissional. — Minghao contou, vendo a preocupação tomar o olhar de seus amigos. — Já tem três dias, mas ontem eu vi um cara todo de preto... Ele tava lá parado, só me olhando. Sem dizer ou fazer nada. Aí o sinal fechou e eu o perdi de vista... Me desculpem, eu fiquei com medo e quis espairecer.

— Que bom que contou pra gente, mas nunca mais faz isso! — Seokmin disse, preocupado.

— Bem, agora que já foi tudo esclarecido eu preciso ir, tô moído do trabalho e nunca fiz tanto esforço físico como hoje pra carregar você desacordado. — Jihoon avisou o melhor amigo e se despediu, saindo.

Os dois amigos ficaram sozinhos depois que a porta bateu e então o chinês encarou o mais velho.

— É porque ele namorava com o Soonyoung, mas eles terminaram.

— Quem?

— O traficante.

— Oh.

— O Soonyoung pode ser um cara tranquilo, mas ele pode ser muito perigoso por causa das companhias dele. — Minghao alertou. — Toma cuidado com ele, ouviu?

— Pode deixar, Hao.

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