Parte XXI - O futuro começou

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Durante quatro dias de aflição não soube mais nada para além das escassas informações que eram transmitidas pela televisão, em boletins informativos especiais. Os jornalistas não sabiam o que estava a acontecer. Recolhiam relatos de testemunhas que se contradiziam e chegavam a inventar histórias mirabolantes para explicar o que tinha sucedido naquela manhã de maio em que uma pequena cidade, situada numa ilha pacífica, tinha sido completamente arrasada. Entre os boletins informativos surgiam comunicações das autoridades do país apelando à calma, refutando as notícias de que uma guerra teria começado, reafirmando a intenção de proteger todos os cidadãos.

Nada disto me convencia e cada vez sentia-me mais angustiada. Comecei a fumar, para acalmar os nervos. Vegeta nunca mais tinha aparecido e eu passava horas na varanda do salão a olhar para o céu, à espera de o ver surgir no horizonte. Só abandonava o meu posto de vigia quando a noite escurecia tudo à minha volta. Cabisbaixa, derrotada, triste, aflita entrava em casa.

Na tarde do quinto dia brincava com Trunks no relvado da Capsule Corporation. O meu filho gatinhava freneticamente, recolhendo e espalhando bolas e outros brinquedos. Incitava-o, sorria-lhe, forçando um entusiasmo que não sentia. Tentava afastar-me do ecrã da televisão e das notícias vazias, da busca daquilo que não me podiam dar. Os jornalistas continuavam sem saber o que estava a acontecer, mas começou a falar-se numa dupla estranha de atacantes. Mais um devaneio de alguém demasiado transtornado para conseguir perceber o que experimentara.

Olhei para cima. Mal tive tempo de agarrar em Trunks. Os dois aterravam com uma pancada seca, ligeiramente atrapalhados. Foi mais uma queda que uma aterragem. Gritei, mas a seguir abri os olhos e corri para eles.

- Kuririn!!

Sem força nas pernas, Kuririn sentou-se, soltando um gemido doloroso. Tinha uma ferida grande na cabeça que sangrava, a roupa esfarrapada e chamuscada. Debaixo do braço tinha Son Gohan desmaiado, com múltiplos arranhões e hematomas.

- Kuririn! Gohan! O que fazem aqui?

Ajoelhei-me junto deles. Trunks aconchegou-se no meu colo, agarrando-se à minha roupa com força. Escondeu a cara no meu peito. Kuririn esfregou os olhos com as costas da mão.

- Bulma, desculpa termos aparecido assim, de repente. Mas a tua casa era o sítio mais perto onde nos poderíamos refugiar.

- Estiveram a lutar?

- Hai...

- Contra quem?

- Lutámos contra os humanos artificiais.

- Que humanos artificiais?!

- Os humanos artificiais que estão a destruir as cidades, umas atrás das outras.

- Ahn?!

Com um espasmo, Gohan despertou.

- Piccolo-san!

Kuririn aguentou-o debaixo do braço.

- Gohan, não! Não podes regressar... Piccolo está entregue a si próprio. Se regressares, terás o mesmo destino que ele.

- Mas não o posso abandonar! – Gritou o miúdo desesperado e as lágrimas começaram a correr pelas faces. Completou aos soluços: – Não o posso deixar... Deixar morrer... Kuririn-san. Por favor, deixa-me regressar.

- Não, Gohan! Tu terás de sobreviver. Se todos nós formos derrotados... tu serás a nossa última esperança.

- Mas Piccolo-san vai morrer.

- Confia no teu mestre, Gohan.

- E se ele morrer? Kuririn-san, diz-me!

- Se morrer, terás de o vingar. Para isso, tens que viver... Gohan!

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